liturgiadashoras |
Da Carta de Paulo Le Bao-Tinh aos alunos do Seminário de
Ke-Vinh, de 1843
(Launay,
A., Le clergé tonkiois et se prêtres martyrs, MEP, Paris, 1925, pp.
80-83) (Séc.XIX)
A participação dos mártires na
vitória de Cristo Rei
Eu,
Paulo, preso pelo nome de Cristo, quero levar ao vosso conhecimento as minhas
tribulações cotidianas que me assaltam de todos os lados, para que, inflamados
pelo amor de Deus, possais louvá-lo, porque a sua misericórdia é eterna (Sl 117,1).
O
meu cárcere é verdadeiramente uma imagem do fogo eterno. Aos cruéis suplícios
de todo gênero, como grilhões, algemas e ferros, juntam-se ódio, vingança,
calúnias, palavrões, acusações, maldades, falsos testemunhos, maldições e,
finalmente, angústia e tristeza. Mas Deus, que outrora libertou os três jovens
da fornalha acesa, sempre me assiste e libertou-me dessas tribulações, que se
tornaram suaves, porque
a sua misericórdia é eterna!
Graças
a Deus, no meio desses tormentos que continuam a apavorar os outros, sinto-me
alegre e contente, pois não me julgo só, mas com Cristo. Nosso Mestre suporta
todo o peso da cruz, deixando-me apenas uma pequena e ínfima parte: não é só
testemunha do meu combate, mas combatente, vencedor e consumador de toda luta.
Assim, sobre sua cabeça é que foi colocada a coroa da vitória, de cujo triunfo
participam também os seus membros.
Como,
porém, Senhor, suportar tal espetáculo, ao ver diariamente os imperadores, os
mandarins e seus soldados blasfemarem vosso santo nome, quando estais acima dos querubins e
serafins? (cf. Sl 79,3). Eis que a vossa cruz é calcada pelos pagãos! Onde
está a vossa glória? Ao ver tudo isso, me inflamo por vós, preferindo morrer
com os membros amputados, em testemunho do vosso amor!
Mostrai,
Senhor, o vosso poder, salvando-me e protegendo-me. Que a força se
manifeste na minha fraqueza e seja glorificada ante os gentios, pois, se eu
vacilar no caminho, vossos inimigos, cheios de orgulho, poderão levantar as
cabeças.
Caríssimos
irmãos, ao ouvirdes tudo isto, dai alegremente graças imortais a Deus, do qual
procedem todos os bens. Bendizei comigo o Senhor, porque a sua misericórdia é
eterna! Minha alma engrandeça o
Senhor e meu espírito exulte de alegria em Deus, meu Salvador; porque olhou
para a humildade de seu servo (cf. Lc 1,46-48), todas as gerações me proclamarão
bendito, porque
a sua misericórdia é eterna!
Cantai
louvores ao Senhor, todas as gentes, povos todos, festejai-o (Sl 116,1),porque
Deus escolheu
o que é fraco no mundo para confundir os fortes, e o que é vil e desprezível (1Cor 1,27-28), para
confundir os nobres. Pelos meus lábios e inteligência, Deus confunde os filósofos,
os discípulos dos sábios deste mundo, porque a sua misericórdia é eterna!
Tudo
isto vos escrevo, para unirdes à minha a vossa fé. No meio desta tempestade
lanço a âncora, a viva esperança que trago no coração, até ao trono de Deus.
Caríssimos
irmãos, correi
de tal modo que possais alcançar a coroa: revesti-vos com a couraça da fé (1Ts 5,8), tomai as
armas de Cristo, à direita e à esquerda, segundo os ensinamentos de São Paulo,
meu patrono. É
melhor para vós entrar na posse da vida comum só olho ou privados de algum
membro (cf.
Mt 5,29), do que serdes lançados fora com todos eles.
Nenhum comentário:
Postar um comentário