Casamento em crise | ICIJ |
Família: instituição em crise?
A Igreja e a família
A Igreja sempre cuidou da
família. Por um lado, por acreditar ser ela não apenas a célula mater da
sociedade e o santuário da vida, mas também a “Igreja doméstica” (Constituição
Dogmática Lumen Gentium, n.
11). E, por outro, porque está convencida de que “o bem-estar da pessoa e
da sociedade humana e cristã está intimamente ligado com uma favorável situação
da comunidade conjugal e familiar (Constituição Pastoral Gaudium et Spes, n.
47).
Logo no início de seu
pontificado, o Papa São João Paulo II publicou uma Exortação Apostólica sobre a
família, como conclusão, precisamente, dos temas tratados e um Sínodo de Bispos
sobre a família. Nela, ele afirma com convicção que a evangelização depende
essencialmente da saúde espiritual dessa instituição, porque, “onde uma
legislação antirreligiosa pretende impedir até a educação na fé, onde uma
incredulidade difundida ou um secularismo invasor tornam praticamente
impossível um verdadeiro crescimento religioso, aquela que poderia ser chamada
“Igreja doméstica” fica como único ambiente, no qual crianças e jovens podem
receber uma autêntica catequese» (Papa São João Paulo II, Exortação
Apostólica Familiares
consortio, n. 52).
Parafraseando o antigo provérbio:
“torna-te o que és”, São João Paulo II empregou nesse documento a frase:
“Família, torna-te aquilo que és”, ou seja, sejas aquilo que a Verdade sobre
si, apoiada na Revelação divina, diz o que és e o que estás chamada a ser no
mundo. A “moral de situação”, que não se apoia na Verdade revelada por Deus,
mas nas situações e tendências que prevalecem no momento histórico, proclama o
provérbio inverso: “sê aquilo que te tornaste”.
Com toda certeza, a Igreja deve
dialogar com a cultura moderna, mas sem perder as suas características
transcendentais, sem cair na tentação de mundanizar-se, sem diluir a sua
mensagem profunda por medo de ser rejeitada pela cultura moderna ou fazer-se
acolher por ela.
A Igreja católica não evolui com
a história humana – tão mutável e contraditória – ela tem uma dinâmica
intrínseca de desenvolvimento, um DNA diferente. Ela é Verdade imutável, Fonte
de Vida e Caminho de salvação. Características herdadas do seu próprio
fundador: Jesus Cristo. E Ele deu a ela – sua esposa – a ordem de evangelizar a
humanidade, não ser moldada por ela; de guiar os homens, não ser guiada por
eles; de santificar a história, não ser desenvolvida por ela.
Os ensinamentos da Igreja são
permanentes e universais, já que se baseiam em duas realidades imutáveis: a
natureza humana criada por Deus e as verdades eternas reveladas por Jesus
Cristo. Se esses ensinamentos soam estranhos e inacessíveis para muitos, é
porque muitos perderam contato com tais ensinamentos.
O desafio da Igreja é, portanto,
saber por que ocorreu esse divórcio com os ensinamentos da Igreja e de que
forma ela pode curar as feridas da sociedade contemporânea e reconduzir o
comportamento dos cristãos à pureza dos costumes e à integridade da doutrina
que foram por eles abandonados, para devolver ao mundo a saúde perdida sem se
deixar contagiar pela sua doença. Só se pode eliminar o mal utilizando-se de
medicamentos corretos e extirpando as raízes perversas que o produziram.
A família, o divórcio e a cultura hedonista
Como diz um conhecido proverbio
jurídico: “a lei de hoje tornar-se-á o costume de amanhã”. É isso o que estamos
vendo acontecer com relação às leis estatais divorcistas. O que se iniciou como
instrumento jurídico para garantir – nos casos de anomalia conjugal – a sobrevivência
do cônjuge abandonado e frágil, tornou-se uma tendência a considerar como
difícil ou impossível a estabilidade e a indissolubilidade do matrimônio. O
simples fato de existir uma legislação civil sobre o divórcio, indica que o
casamento não é feito para durar, mas é apenas um acordo temporário.
A possibilidade do divórcio cria
incentivos à infidelidade conjugal e ao estabelecimento de uniões geradas quase
que exclusivamente pelos atrativos sexuais, que podem ser rompidas quando
outros apelos se tornam mais fortes e atraentes.
Sem menosprezar os problemas
econômicos e sociais, além das leis divorcistas a raiz da crise da família se
deve também à galopante degradação cultural e moral e religiosa da sociedade,
detonada de um modo mais claro e aberto a partir da revolução estudantil de
maio de 1968, mas que foi ceivada por fundamentações teóricas anteriores, como
as concepções evolucionistas dos neodarwinianas, as teorias psicanalíticas de
Freud e as doutrinas sócias de Marx (só para citar algumas mais relevantes).
Assim, a família vai sendo destruída pelos frutos da árvore que possui essa
raiz: egoísmo no relacionamento, contracepção, fecundação artificial,
adultério, falta de autoridade paterna, pornografia, droga, etc. Enfim: “faço o
que bem entendo” e é “proibido proibir”.
Só há uma solução para
transformar essa onda suja em manancial de vida plena: a graça divina, porque:
“é dever permanente da Igreja perscrutar os sinais dos tempos e interpretá-los
à luz do Evangelho” (Constituição Pastoral Gaudium et Spes, n.
4). O “homem novo” só pode ser gerado pela graça santificante, que o
torna semelhante a Deus.
Os fatores histórico-culturais,
por mais poderosos que sejam, não podem mudar a natureza humana; podem elevá-la
ou degradá-la, mas não alteram na sua essência íntima. A revolução sexual – que
está em plena efervescência, com lobbies de pequenos grupos de militantes bem organizados
e financiados, favorecidos por políticas e pela mídia -, corroborada pelas
teorias ateia-materialista, pretende induzir a humanidade a considerar que a
felicidade está no extravasar dos instintos, principalmente o sexual,
libertando-se de toda moral religiosa. Para isso, é necessário abolir a família
tradicional e criar instrumentos sociais e jurídicos para a permissão de
qualquer união, também a homossexual. E ainda que pareça um exagero, mas não o
é, isso pode chegar – num futuro não muito distante – à aprovação da união com
os animais.
A ideologia de gênero
A maior ameaça à família hoje é a
ideologia de gênero, lançada em setembro de 1995 em Pequim, na IV Conferência
mundial sobre a Mulher da ONU. Ela teoriza que o ser humano nasce com o
instinto natural de tender a qualquer objeto erótico e de criar para a sua
personalidade a ação sexual que quiser. Sempre com a possibilidade de trocar de
orientação sexual a qualquer momento.
Segundo essa concepção, a
diversidade homem-mulher, esposo-esposa e pai-mãe não procedem da natureza, mas
são imposições da cultura judaico-cristã. Em consequência, também seria
contrária à natureza social do ser humano instituições como família, escola e
igreja. Por isso, deveriam ser eliminadas, porque são elas que condicionam a
formação das crianças, impedindo-as de escolher a orientação sexual que elas
preferirem.
Pastoral familiar
Está claro que a Igreja não pode
mudar a doutrina moral sobre a família.
Se poderia argumentar contra isso
que, se uma relação sexual, dita como objetivamente pecaminosa pela teologia
moral, fosse praticada regularmente por um casal, mas mantendo a fidelidade
mútua, perderia o seu caráter negativo. Porém, em contrapartida, se isso fosse
aceito, também deveria se aceitar, com a mais absoluta coerência de pensamento,
que, se dois cúmplices de assassínios regulares se mantivessem fieis aos pactos
recíprocos, isso reduziria sensivelmente o caráter negativo do crime.
Parece que não é por essa via que
deveria caminhar a pastoral familiar. Porque, assim como o corpo não pode ser
separado da alma, do mesmo modo a pastoral não pode se apartar da doutrina
moral, já que isso acarretaria uma forma de heresia, uma perigosa patologia
esquizofrênica.
Mas é certo também que há uma
necessidade de atualizar a pastoral familiar. Porém, é necessário que isso seja
feito atendendo à noção de que, na pastoral da Igreja, existem disposições
disciplinares que são susceptíveis de mudanças e outras que são de origem
divina – por exemplo os 10 mandamentos – que não podem ser alteradas pela
Igreja.
A Igreja é uma Mãe que, sem
deixar de manifestar compreensão pela crise de alguns casamentos, tem a missão
de salvar e santificar os seus fiéis, inclusive na sua vida familiar. E isso
ela só pode realizar, mantendo-se leal à Verdade. Assim sendo, são os fiéis que
devem acatar filialmente os ensinamentos pastorais da Igreja, que nada mais faz
que repetir a verdade pregada por Jesus Cristo, Caminho, Verdade e Vida.
Precisas são estas palavras de
Mons. Gerard Ludwig Müller, prefeito da Congregação da Doutrina da Fé: “Um dos
problemas pastorais mais graves consiste no facto de que muitos, hoje, julgam o
matrimónio exclusivamente segundo critérios mundanos e pragmáticos. Quem pensa
segundo o «espírito do mundo» (1 Cor 2, 12) não pode compreender a
sacramentalidade do matrimônio. À crescente falta de compreensão acerca da
santidade do matrimónio, a Igreja não pode responder com uma adequação
pragmática ao que parece inevitável, mas só com a confiança no «Espírito de
Deus, para que possamos conhecer o que Deus nos doou» (1 Cor 2,
12)” (Acerca da
indissolubilidade do matrimónio e do debate sobre os divorciados recasados
e os sacramentos).
Além do mais, temos a experiência
negativa, de como a tolerância imprudente levou a resultados catastróficos nas
igrejas protestantes, que se veem minguadas cada vez mais de fiéis permanentes.
Quer dizer: as pessoas em situações irregulares têm mais dificuldade de serem
praticantes. É necessário acreditar que o número de pessoas praticantes cresce
quando se encoraja a observância dos preceitos morais, quando se apresenta
propostas desafiantes e contrárias à cultura dominante.
Por tanto, se a Igreja mudasse
uma doutrina e uma prática bimilenar sobre o casamento, ela perderia a
credibilidade sobre o que quisesse ensinar amanhã.
A Igreja e a consciência individual
A Igreja não é um lobby cultural
que propaga uma ideologia, mas uma instituição de origem divina, fundada por
Jesus Cristo com o fim de ser guardiã da Verdade revelada e de conduzir, sob a
assistência permanente do Espírito Santo, cada ser humano ao encontro feliz com
o Pai.
Posto que alguém só pode caminhar
numa direção se tiver convicções íntimas de que esse é o Caminho certo,
convicções que afetam a sua vida privada cotidiana, a Igreja tem o dever e o
direito de dar orientações para essa vida, com o risco de não cumprir a sua
missão.
É claro que há casos em que, pela
complexidade da vida, um indivíduo ou grupo de indivíduos se veem na
impossibilidade de seguir certos preceitos gerais. Mas as eventuais exceções
não só não anulam a regra geral como a confirmam. Há atos que são
intrinsecamente maus e sempre o serão, independentemente da intenção de quem
age e das circunstâncias (cfr. Papa São João Paulo II, Carta Encíclica Veritatis
Splendor n. 80). Mas a moral católica, sabiamente, leva em consideração,
para cada caso concreto, os fatores agravantes, atenuantes e dirimentes.
Devemos respeitar sempre a
liberdade das pessoas agirem e pensarem de acordo com a sua consciência. Porém
o fato é que ninguém é criador e nem árbitro da lei moral e, mesmo que tenha a
reta intenção de atuar de acordo com a norma objetiva, no entanto, ninguém
possui uma consciência infalível e nem uma vontade impecável. Por isso, é
lógico que, quem pensa ou atua de um modo contrário a moral objetiva, deva ser
alertado e ajudado a mudar de ideia e de conduta para que esteja de acordo com
a lei de Deus (cfr. Constituição Pastoral Gaudium et Spes,
n. 50). E isso mesmo que não entendam ou compreendam a lei.
Fato que pede, hoje cada vez mais, investir na formação das consciências.
As cordas que atam o alpinista e
seus companheiros para ascenderem ao cume almejado não cerceiam a sua
liberdade, mas os ajudam de modo eficaz a alcançarem o seu objetivo, além de
servirem como instrumento de segurança. Assim como os ligamentos quem unem as
partes do corpo são fundamentais para que o indivíduo seja ágil e desenvolto
seus movimentos (cfr. Veneravel Pio XII, discurso de 22.IV.1942)
“O homem não poderá encontrar a
verdadeira felicidade, à qual aspira com todo o seu ser, senão no respeito
pelas leis inscritas por Deus na sua natureza e que ele deve observar com
inteligência e com amor” (Papa Beato Paulo VI, Carta Encíclica Humanae vitae n. 31).
Matrimonio e família
O Matrimonio natural não é uma
invenção humana, mas foi criado por Deus imediatamente após Ele ter criado o
primeiro homem e a primeira mulher; revelando-nos, assim, q o Matrimonio está
no projeto divino para a humanidade. A vocação ao casamento está inscrita na
própria natureza do homem e da mulher, por isso, a criação do casamento como
instituição humana surgiu como fruto dessa percepção (cfr. Catecismo da Igreja
Católica, n. 1603).
Essa instituição natural criada
por Deus, surge de um pacto ou consentimento livre, público, verdadeiro e real
entre um homem e uma mulher, no qual se comprometem a se doarem maritalmente
para formarem uma comunidade indivisa de vida para sempre, que exige a vida
doméstica (casa, mesa e leito), onde prevaleça o amor em todas as suas
consequências (cfr. Catecismo da Igreja
Católica n. 1601). Da saúde dessa comunidade – chamada família
– surgida dessa aliança (vínculo) permanente dependerá toda a saúde da
sociedade.
Indissolubilidade
Uma vez realizado legitimamente e
consumado, esse consentimento não pode ser desfeito por nenhuma autoridade
humana, E é indissolúvel.
Ninguém está obrigado a contrair
matrimonio. Mas uma vez feito o contrato, o indivíduo fica sujeito às suas leis
lies divinas e às suas propriedades essenciais
Jesus Cristo, que veio dar
plenitude à lei divina, estabeleceu que ninguém pode separar aquilo que Deus
uniu (cfr. Mt 19,6).
O divórcio
O divórcio, que o Catecismo da
Igreja Católica chama de “praga social” (n. 2385), entrou no direito civil como
um remédio para situações de crise, mas que se tornou hoje praticamente um
direito da pessoa, devido em grande parte a uma errada compreensão da
liberdade, que não é entendida como a capacidade de escolher o bem, à
autodeterminação a ele e a alcançar a perfeição que está chamado a pessoa
humana, mas como total poder de decisão, como um fim em si mesmo. Além disso, a
proliferação dessa anomalia se deve ao fato de que existe um consenso muito
generalizado de que não é possível tomar uma decisão de doar-se para sempre.
Porém, por ser uma “praga
social”, o divórcio é contrário à dignidade dos cônjuges, especialmente dos
mais vulneráveis, porque lhes tira a certeza de que estão sendo de fato amados
e acende no seu interior o medo de serem abandonados e de ficarem sujeitos a
cargas, demasiadamente pesadas, que não se sentiriam capazes de carregar; sem
contar as repercussões nefastas que acarreta aos filhos, prejudicando a sua
formação psicológica e moral: existem inúmeros estudos científicos a este
respeito.
Isso acentua a necessidade da
igreja de enfrentar o desafio apostólico de ajudar os fiéis a entenderem que a
indissolubilidade do matrimônio não é um jugo, mas um dom que Deus dá aos
cônjuges (cfr. Relatio Synodi,
n. 14 ).
As separações de fato
Há casos específicos em que, por
graves razões de prudência, para evitar males maiores, a Igreja recomenda a
separação física dos cônjuges, seja por um tempo ou definitivamente. Até mesmo
aconselha a recorrer ao Divórcio Civil, se for a única forma legal de uma das
partes conseguir a pensão necessária, a guarda dos filhos e outros direitos.
Mas o divórcio e as separações
são duas realidades muito diferentes do ponto de vista moral e legal. Os
cônjuges separados, embora não vivam mais juntos, não estão divorciados; pelo
contrário eles continuam casados diante de Deus e da Igreja. Não há rompimento
do vínculo matrimonial, por isso não podem contrair uma nova união, enquanto o
outro cônjuge estiver vivo.
Segunda união
Os cônjuges divorciados recasados
então em estado objetivo de pecado mortal de adultério. Se for de conhecimento
público, essa união ilícita é escandalosa. Por isso a Igreja “proíbe os
pastores, por qualquer motivo ou pretexto mesmo pastoral, de fazer em favor dos
divorciados que contraem uma nova união, cerimônias de qualquer gênero. Estas
dariam a impressão de celebração de novas núpcias sacramentais válidas, e
consequentemente induziriam em erro sobre a indissolubilidade do matrimónio
contraído validamente” (Papa São João Paulo II, Exortação
Apostólica Familiares consortio n. 84).
Na prática é fácil perceber que
tal união é contrária à dignidade natural do ser humano, porque se criam
situações anómalas em que enteados e padrastos, pessoas, portanto, não
consanguíneas, vivem numa mesma casa, propiciando a promiscuidade sexual. Fora
a dificuldade de criação, pois os filhos não vivem habitualmente com um dos
seus pais. Além disso, os recursos econômicos são compartilhados de modo
competitivo entre as crianças que vivem na nova casa e aqueles que a visitam.
Mais ainda, estas situações frequentemente contribuem para fomentar o descrédito
no significado do casamento.
Procriação
A união marital, ou seja, a
doação mútua dos corpos, necessária para que haja prole, é um fim bom, porque é
dom de Deus, e o núcleo dessa aliança. Quem exclui essa doação do consentimento
tornar nulo o seu casamento. Ela é essencialmente diferente do impulso
instintivo de reprodução no reino animal, porque, além de gerar uma satisfação
humana legítima, se orienta à perpetuação da espécie humana e à educação dos
filhos. Do seu bom e correto uso dependerá o crescimento psicológico, afetivo e
espiritual dos próprios cônjuges, o desenvolvimento afetivo e educacional das
crianças e a harmonia de toda a sociedade.
A mentalidade anticonceptiva
Embora o fenômeno de contracepção
existe desde os tempos antigos, a invenção da pílula anticoncepcional nos anos
1950 induziu muitas pessoas a separarem o aspecto unitivo do procriativo na
relação sexual (cfr. Papa Beato Paulo VI, Carta Encíclica Humanae vitae n. 12).
Nós vivemos em uma sociedade onde
a sexualidade tem sido banalizada e onde a fecundidade – famílias numerosas – é
vista com desconfiança. A criança não é considerada um dom de Deus, mas um
direito individual que pode ser acessado por qualquer meio, como acontece com a
inseminação artificial.
Existe um tipo de esquizofrenia
na sociedade moderna que a de, por um lado, colocar todos os meios para
controlar os nascimentos, inclusive com políticas impostas injustamente,
especialmente nas classes mais humildes: esterilização, distribuição de
contraceptivos e denigração das grandes famílias; e por outro lado,
especialmente em pessoas com boas condições econômicas, a de pôr todos os meios
para se ter um filho, utilizando métodos de fertilização artificial que
rebaixam a dignidade da pessoa humana, do casamento e, acima de tudo, da
criança, que tem o direito de ser concebida no ventre materno e de ter um pai e
uma mãe que ela saiba com clareza que se uniram em matrimonio. Além disso,
em quase todas estas técnicas, sempre se escolhe, para a implantação, os
embriões congelados em melhor estado, descartando (abortando) os outros.
O desafio aqui é incutir nas
consciências o valor da paternidade e da maternidade, que cada filho é um dom,
que Deus é sábio e providente, e que é necessário praticar a generosidade em
renunciar aos confortos supérfluos a favor dos filhos. (cfr. Relatio Synodi,
n. 57 e 58).
Unidade
Além dessa abertura à procriação,
o Matrimonio requer a unidade desse vínculo contraído por um homem e uma
mulher. Não existe outra forma de casamento a não ser a monogâmica. Jesus
Cristo, além de condenar toda poligamia e toda poliandria, para assegurar
completamente a inviolabilidade do santuário familiar, proibiu até mesmo os
desejos de adultério, manifestados apenas com um olhar concupiscível (cfr. Mt
5,28).
O documento final do Sínodo
Extraordinário de 2014, apresentou o desafio da Igreja em ajudar os fiéis
cristãos a aprofundar a doutrina sobre a inseparabilidade entre os significados
unitivo e procriativo dos atos conjugais, ajudando-os a superar uma visão
materialista e utilitarista da pessoa que fecha a generosa abertura à
fertilidade (faz referência especial a doutrina da Enc. Humanae
Vitae do Venerável Papa Paulo VI).
Homossexualidade
Há pessoa com inclinações
homossexuais. Isso não pode ser considerado um pecado. Como não o é a
cleptomania. No entanto, nem uma nem outra podem ser vistas como algo bom ou
indiferente. Pelo contrário, são tendência que inclinam para um mal moral. É
uma desordem na tendência comportamental. Praticar atos homossexuais são ações
contrarias à natureza humana, porque tornam livremente o ato sexual, criado por
Deus como dom da vida, uma ação estéril. Por isso são atos pecaminosos
(cfr. Catecismo da Igreja
Católica, n. 2357) . A Bíblia os apresenta como depravações graves
(cfr. Gn 19,1-29; Rm 1,24-27; 1 Cor 6,9-10; 1 Tim 1,10)
Tanto as pessoas que sofrem dessa
tendência, mas que não se deixam levar por ela, como as que praticam a
homossexualidade por fraqueza ou porque acham que é correto, e até mesmo
propagandeiam a sua ação com orgulho, devem ser tratadas com delicadeza e
compreensão e estimuladas à serem castas.
“As pessoas homossexuais são
chamadas à castidade. Pelas virtudes do autodomínio, educadoras da liberdade
interior, e, às vezes, pelo apoio duma amizade desinteressada, pela oração e
pela graça sacramental, podem e devem aproximar-se, gradual e resolutamente, da
perfeição cristã” (Catecismo da Igreja
Católica, n. 2359).
O chamado “casamento gay”
Com relação ao casamento gay,
bastaria lembrar que o casamento só pode existir entre um homem e uma mulher,
porque essa união está na raiz da própria natureza do ser masculino e feminino.
Por isso nenhuma autoridade tem o poder de redefinir o que é de lei natural.
Logo, não tem o direito de redefinir o casamento como se fosse uma relação
entre dois homens ou duas mulheres. Seria o mesmo que redefinir a lei da
gravidade. Pode até definir por lei que não existe mais lei da gravidade, mas
causará muitos danos às pessoas e à sociedade em geral.
Na base natural da concepção
correta está o fato de que a diversidade sexual é necessária para a
complementaridade é para a fertilidade.
O desafio é superar a ideia
generalizada de que o que importa no casamento são os sentimentos e as emoções
ou, mais concretamente, o amor erótico, independentemente do que é digno e bom
para o indivíduo e a sociedade. Haveria que voltar a ensinar a todos que é o
amor de dileção o motivo fundamental pelo qual um homem e uma mulher se decidem
a se unirem em casamento, a fim de gerar – pelo amor erótico – uma prole e
praticar a caridade conjugal.
O amor de dileção pode existir
entre pessoas do mesmo sexo ou de sexo diferente; por exemplo: o amor paternal,
maternal, filial, fraterno, entre amigos, etc. Mas o amor erótico só pode
existir no amor matrimonial entre pessoas de sexos diferente, porque duas
pessoas do mesmo sexo não podem cumprir uma das finalidades essenciais da união
(caridade) conjugal: a procriação. Eles não podem constituir uma família.
Por isso, a união homossexual é
gravemente pecaminosa e não pode ser abençoada pela Igreja, como tão pouco pode
abençoar um grupo de pessoas que se uniram para assaltar bancos.
Sacramento
O consentimento matrimonial foi
elevado por Jesus Cristo à dignidade de sacramento para que, dotado de conteúdo
e de meios espirituais, oferecidos pelo próprio Deus, os cônjuges que o recebem
possam cumprir com fidelidade e fortaleza o seu fim: amarem-se mutuamente,
gerar filhos e criá-los para que sejam bons cidadãos da sociedade terrena e
aptos para habitarem o Céu. Além disso, os cônjuges cristãos, pelo sacramento
do matrimonio, estão chamados a serem testemunhos vivos na sociedade da união
mística e amorosa de Cristo com a Igreja. Por isso, perdem consideravelmente
essa ajuda, deixam de cumprir a sua missão e põem em risco a sua salvação
eterna os batizados que só contraem uma união Civil.
Por isso a Igreja não admite o
“casamento de ensaio”, a união conjugal prévia, antes de recebem o sacramento,
para que as partes possam ir se conhecendo pouco a pouco, até chegarem a um
grau de maturidade na convivência que fosse desejável para se realizar o
contrato definitivo. A Igreja rejeita isso como contrário à moral, como pecado
de adultério ou fornicação, que só pode ser perdoado se o pecador manifestar
não somente um arrependimento sincero, mas também o propósito de emendar-se,
isto é, de romper o comportamento pecaminoso. Além do mais, esse tipo de casal
é o que está mais sujeito ao divórcio.
Verdade e Misericórdia
A Misericórdia divina pode
superar a sua Justiça, mas não violá-la, do contrário seria injusta; cairia na
condenação bíblica: “Ai daqueles que ao mal chamam bem, e ao bem, mal, que
mudam as trevas em luz e a luz em trevas, que tornam doce o que é amargo, e
amargo o que é doce!” (Is 5,20).
A misericórdia, portanto, não é
uma dispensa dos Mandamentos de Deus e das leis da Igreja. Ela procede do amor.
E sabemos que não existe amor sem justiça e sem verdade. São Paulo diz que amor
verdadeiro é a aquele que realiza as obras da Lei (cfr. Gl 5, 13-18). Com
efeito, todo Mandamento de Deus, até o mais severo, tem o rosto do amor divino,
do amor misericordioso.
A Igreja não pode se comportar
como um charlatão que ilude os que sofrem oferecendo-lhes poções que não fazem
sentir a dor, mas camuflam a doença e a agravam. A Igreja deve agir como o bom
samaritano – figura de Cristo -, como um médico sábio que visa curar os doentes
e feridos espirituais com medicamentos eficazes, embora dolorosos e amargos,
para libertá-los do mal e poupá-los de recaídas. Um médico honesto também não
oculta aos doentes a gravidade de sua situação, nem lhes isenta de
responsabilidade em pôr os meios para se curarem, ao mesmo tempo que põe todos
os cuidados para fechar-lhes as feridas, sempre levando em consideração a sua
vulnerabilidade. Mas não pode ser fracamente condescende com o doente que sofre
por causa de uma terapia dolorosa e nem com a susceptibilidade de quem se
recusa a ser curado.
Regra de ouro foi a dada pelo
Beato Papa Paulo VI: “Não minimizar em nada a doutrina salutar de Cristo é
forma de caridade eminente para com as almas. Mas, isso deve andar sempre
acompanhado também de paciência e de bondade, de que o mesmo Senhor deu o
exemplo, ao tratar com os homens. Tendo vindo para salvar e não para julgar,
Ele foi intransigente com o mal, mas misericordioso para com os homens” (Beato Papa Paulo
VI, Carta Encíclica Humane vitae, n. 29).
Em todo caso, é melhor sempre
prevenir do que remediar. Por isso, a preparação remota ao casamento seria o
meio mais adequado para se evitar uniões maus sucedidas e, até mesmo, uniões
que nunca deveriam ter ocorrido, pelo menos não no momento em que ocorreram,
por que faltou nos contraentes uma noção mais clara do que é o matrimonio. Os
jovens são muito mais abertos para falar sobre a virtude da castidade do que se
possa imaginar. Além disso, haja visto o modo inadequado com que se ensinam às
crianças nas escolas a se iniciarem na vida sexual, respaldado por uma
imposição legal, se faz mais necessário que os pais cristãos, ajudados por
catequistas e formadores bem preparados na Igreja, instruam quanto antes os
seus filhos nesse campo.
A ajuda da graça
A Igreja ensina que “todos fieis
de Cristo são chamados a levar uma vida casta, segundo o seu estado de vida
particular” (Catecismo da Igreja
Católica, n. 2348). E ela propõe esse cume porque está convencida de
que a castidade absoluta, tanto dentro como fora do casamento, é uma atitude
conforme com a natureza e, portanto, possível de ser vivida por qualquer um.
Acrescente-se que ela também está persuadida de que a castidade conjugal é
condição indispensável para que um casamento e uma família sejam saudáveis –
física e espiritualmente – e fecundos, bem como socialmente benéficos.
Por outro lado, por causa das
feridas do pecado original, ela sabe também que essa meta não é fácil de ser
alcançada, ainda mais numa sociedade onde os ambientes, a cultura e os meios de
comunicação favorecem a luxúria. No entanto, Deus não exige de seus filhos
alcançar um fim impraticável, cumprir um compromisso acima das suas forças. Por
isso, onde lhes falta as forças naturais, a Providência divina lhes dá forças
sobrenaturais, a graça santificante, que os faz aptos para viverem as virtudes
em grau máximo, também a castidade. Por isso Jesus afirmou: “meu jugo é suave e
o meu fardo é leve” (Mt 11,29-30).
“Esta insistência inequívoca na
indissolubilidade do vínculo matrimonial pôde criar perplexidade e aparecer
como uma exigência impraticável. No entanto, Jesus não impôs aos esposos um
fardo impossível de levar e pesado demais, mais pesado que a Lei de Moisés.
Tendo vindo restabelecer a ordem original da criação, perturbada pelo pecado,
Ele próprio dá a força e a graça de viver o matrimónio na dimensão nova do
Reino de Deus. É seguindo a Cristo, na renúncia a si próprios e tornando a
sua cruz, que os esposos poderão compreende o sentido original do matrimónio e
vivê-lo com a ajuda de Cristo. Esta graça do Matrimónio cristão é fruto da cruz
de Cristo, fonte de toda a vida cristã” (Catecismo da Igreja
Católica, n. 1615).
Junto à graça os fiéis devem
recorrer assiduamente à oração e à ascese penitencial.
Amar a família
Há muito o que fazer e com
urgência. Em vez de reclamar da situação ou resignar-se ao pior, achando que a
causa da família está perdida, está é a hora dos cristãos porem mãos à obra
para recuperar o terreno perdido, indo contra a corrente e fazendo uso de todos
os meios necessários, lembrando que “Tudo posso n’ Aquele que me conforta” (Fil
4,13).
“Amar a família significa saber
estimar os seus valores e possibilidades, promovendo-os sempre. Amar a família
significa descobrir os perigos e os males que a ameaçam, para poder superá-los.
Amar a família significa empenhar-se em criar um ambiente favorável ao seu
desenvolvimento. E, por fim, forma eminente de amor à família cristã de hoje,
muitas vezes tentada por incomodidades e angustiada por crescentes
dificuldades, é dar-lhe novamente razões de confiança em si mesma, nas riquezas
próprias que lhe advém da natureza e da graça e na missão que Deus lhe confiou.
É necessário que as famílias do nosso tempo tomem novamente altura! É
necessário que sigam a Cristo” (Papa São João Paulo II, Exortação
Apostólica Familiares
consortio, Conclusão).
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