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segunda-feira, 21 de novembro de 2022

Maria, agraciada, medianeira de todas as graças

Maria, medianeira de todas as graças | nadateespante
MARIA, AGRACIADA, MEDIANEIRA DE TODAS AS GRAÇAS

 

 Dom Valdir Mamede

Bispo de Catanduva (SP)

“Porque um só é Deus, também há um só Mediador entre Deus e os homens, o homem Cristo Jesus, que se entregou para a redenção de todos” (1 Tim 2,5-6)

Embasada nos textos das Sagradas Escrituras, a Igreja sempre reconheceu e professou a fé na mediação única do Cristo “que se entregou para a redenção de todos” (1 Tim 2,6), e que, portanto, possui “o nome único pelo qual devemos ser salvos” (Ef 2,9). Trata-se de dado constitutivo, essencial, da fé que a comunidade dos crentes deve professar, mas, que exige o esforço da ciência teológica para ser explicitado nas minúcias que o compõem. Neste contexto é que se deve entender a afirmação clássica acerca da mediação materna que a Bem-aventurada Virgem Maria exerce a favor dos crentes, a fim de que “nenhum deles se perca”. E o Concílio Vaticano II esclarece que “a materna missão de Maria a favor dos homens de modo algum obscurece nem diminui esta mediação única de Cristo, mas até ostenta sua potência, pois todo o salutar influxo da Bem-aventurada Virgem a favor dos homens não se origina de alguma necessidade interna, mas do divino beneplácito” (LG 60).

Os padres da época imediatamente sucessiva à dos apóstolos, no período designado como Patrística, começaram a compreender e a ensinar que, em previsão dos méritos de Cristo, e sempre a Ele referida, a Santíssima Virgem ocupa um lugar primordial na economia da salvação. Assim, ao constatar que “o Verbo se fez carne, e habitou entre nós” (Jo 1,14), compreenderam que a proposta divina tendo encontrado acolhida generosa no seio de Maria, fez com que ela fosse agraciada com graça maior e mais importante: tornara-se a Mãe do Redentor, a casa da carne do Deus que se fez carne, para resgatar a pessoa humana, devolvendo-lhe a dignidade perdida.

Deste modo, na compreensão patrística, ao Sim generoso de Maria, se segue que Deus tenha querido que a Sua graça chegasse às criaturas mediante sua mediação materna. Como afirma o autor da Carta aos Hebreus, “nestes dias, que são os últimos” (Hb 1,2), Deus abriu o caminho das graças em Seu Filho único. E a Bem-aventurada Virgem que fora “coberta com a Virtude do Altíssimo” (Lc 1,35), agora se torna colaboradora eficaz, despenseira de todas as graças, apontando para o Cristo, e assoprando aos ouvidos dos crentes: “façam aquilo que Ele vos disser” (Jo 2,5). Se Deus é onipotente porque pode em si todas as coisas, a Maria se atribui o título honroso de “onipotência suplicante”, já que alcança do Filho tudo o que necessitam aqueles que aos pés da cruz lhe foram dados como filhos (cf. Jo 19,25-27). Assim, a mediação de Maria se exerce através do Cristo, sempre e exclusivamente através d’Ele, donde se entenda a afirmação popular, “pede à Mãe, que o Filho atende”.

Ao refletir acerca da mediação única, exercida pelo Cristo junto ao Pai, em favor dos homens, os teólogos costumam afirmar que ela é perfeitíssima. Porém, que pode ser entendida desde duas perspectivas: ascendente e descendente. Ascendente, enquanto o Cristo ora e se sacrifica pelos seus; Descendente, enquanto distribui seus dons aos homens. Contudo, ao ser referir à mediação materna de Maria, o fazem sob a ótica de quatro interessantes observações: subordinação; não necessariedade; perpetuidade; irresistibilidade.

Este modo, a mediação materna é, sempre e em todas as ocasiões e circunstâncias, subordinada e dependente dos méritos de Cristo; não necessária, no sentido de que “basta o Cristo”, mas é do agrado de Deus que assim o seja; perpétua, quer dizer, até o retorno glorioso do Cristo na Parusia; irresistível, no sentido de que o Filho sempre atende à Mãe, zelosa cuidadora daqueles que lhe foram entregues aos pés da cruz.

Concluindo, em Maria, tudo se refere a Cristo, d’Ele provém e para Ele deve retornar. Por isso, a Igreja nunca teve pretensão de dar-lhe um lugar que não lhe competisse. Ela é a seta que aponta para o caminho único que leva ao Pai, o seu Filho Jesus Cristo. E nós a ela devemos recorrer, “gemendo e chorando neste vale de lágrimas”, pois sempre nos mostrará “Jesus, o bendito fruto do seu ventre”. Aliás, o nosso amor e devoção a Maria, “de modo algum impede, mas até favorece a união imediata dos fiéis com Cristo” (LG 60).

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF