Maria, medianeira de todas as graças | nadateespante |
Dom Valdir Mamede
Bispo de Catanduva (SP)
“Porque
um só é Deus, também há um só Mediador entre Deus e os homens, o homem Cristo
Jesus, que se entregou para a redenção de todos” (1 Tim 2,5-6)
Embasada nos textos das Sagradas Escrituras, a Igreja sempre reconheceu
e professou a fé na mediação única do Cristo “que se entregou para a redenção
de todos” (1 Tim 2,6), e que, portanto, possui “o nome único pelo qual devemos
ser salvos” (Ef 2,9). Trata-se de dado constitutivo, essencial, da fé que a
comunidade dos crentes deve professar, mas, que exige o esforço da ciência
teológica para ser explicitado nas minúcias que o compõem. Neste contexto é que
se deve entender a afirmação clássica acerca da mediação materna que a
Bem-aventurada Virgem Maria exerce a favor dos crentes, a fim de que “nenhum
deles se perca”. E o Concílio Vaticano II esclarece que “a materna missão de
Maria a favor dos homens de modo algum obscurece nem diminui esta mediação
única de Cristo, mas até ostenta sua potência, pois todo o salutar influxo da
Bem-aventurada Virgem a favor dos homens não se origina de alguma necessidade
interna, mas do divino beneplácito” (LG 60).
Os padres da época imediatamente sucessiva à dos apóstolos, no período
designado como Patrística, começaram a compreender e a ensinar que, em previsão
dos méritos de Cristo, e sempre a Ele referida, a Santíssima Virgem ocupa um
lugar primordial na economia da salvação. Assim, ao constatar que “o Verbo se
fez carne, e habitou entre nós” (Jo 1,14), compreenderam que a proposta divina
tendo encontrado acolhida generosa no seio de Maria, fez com que ela fosse
agraciada com graça maior e mais importante: tornara-se a Mãe do Redentor, a
casa da carne do Deus que se fez carne, para resgatar a pessoa humana,
devolvendo-lhe a dignidade perdida.
Deste modo, na compreensão patrística, ao Sim generoso de Maria, se
segue que Deus tenha querido que a Sua graça chegasse às criaturas mediante sua
mediação materna. Como afirma o autor da Carta aos Hebreus, “nestes dias, que
são os últimos” (Hb 1,2), Deus abriu o caminho das graças em Seu Filho único. E
a Bem-aventurada Virgem que fora “coberta com a Virtude do Altíssimo” (Lc
1,35), agora se torna colaboradora eficaz, despenseira de todas as graças,
apontando para o Cristo, e assoprando aos ouvidos dos crentes: “façam aquilo
que Ele vos disser” (Jo 2,5). Se Deus é onipotente porque pode em si todas as
coisas, a Maria se atribui o título honroso de “onipotência suplicante”, já que
alcança do Filho tudo o que necessitam aqueles que aos pés da cruz lhe foram
dados como filhos (cf. Jo 19,25-27). Assim, a mediação de Maria se exerce
através do Cristo, sempre e exclusivamente através d’Ele, donde se entenda a
afirmação popular, “pede à Mãe, que o Filho atende”.
Ao refletir acerca da mediação única, exercida pelo Cristo junto ao Pai,
em favor dos homens, os teólogos costumam afirmar que ela é perfeitíssima.
Porém, que pode ser entendida desde duas perspectivas: ascendente e
descendente. Ascendente, enquanto o Cristo ora e se sacrifica pelos seus;
Descendente, enquanto distribui seus dons aos homens. Contudo, ao ser referir à
mediação materna de Maria, o fazem sob a ótica de quatro interessantes
observações: subordinação; não necessariedade; perpetuidade; irresistibilidade.
Este modo, a mediação materna é, sempre e em todas as ocasiões e
circunstâncias, subordinada e dependente dos méritos de Cristo; não necessária,
no sentido de que “basta o Cristo”, mas é do agrado de Deus que assim o seja;
perpétua, quer dizer, até o retorno glorioso do Cristo na Parusia;
irresistível, no sentido de que o Filho sempre atende à Mãe, zelosa cuidadora
daqueles que lhe foram entregues aos pés da cruz.
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