Cléofas |
Pecados duvidosos?
Não é raro ter dúvidas de dois tipos:
– “Será que este pecado é grave, ou é
só leve?”
– “Será que cometi mesmo um pecado,
que consenti, ou foi só uma tentação?”
Nestes pontos, nada como a doutrina
para formar a consciência e esclarecer essas dúvidas.
Lembre-se sempre de que a Igreja
ensina que, para que exista pecado grave, devem dar-se, simultaneamente, três
condições: “matéria grave”, “plena advertência”, isto é, plena consciência do
que se faz, e “consentimento deliberado” (Cf. Catecismo, n. 1857).
Primeiro, “matéria grave”. Uma pessoa
formada sabe que é grave ofender seriamente alguém, divulgar faltas graves do
próximo que outros não conhecem, dizer mentiras que causem danos a terceiros,
ter condutas injustas (não pagar o que é devido por justiça, trapacear nos
negócios, eliminar o verdadeiro ganhador de um concurso ou concorrência por
motivos escusos, praticar sexo fora do casamento, abortar, etc.). Em caso de
dúvida, deve se consultar um bom confessor.
Segundo “consciência plena do que se
faz”. Não pode ser grave um mau pensamento, sentimento ou ato que ocorreram
durante o sono ou num estado de semi-inconsciência. Também não costuma ser
grave um rompante verbal de ira perante um estímulo forte e inesperado (o fato
de não ser grave não significa que seja coisa boa, mas quer dizer que não faz
perder o estado de graça e, portanto, não impede de comungar).
Terceiro, “consentimento pleno ou
deliberado”. É bom recordar que uma coisa é “sentir” e outra “consentir”. A
tentação pode-se sentir, até com violência (por exemplo, sentir com força – sem
o querer nem o provocar – o desejo de agredir uma pessoa; ou um pensamento, uma
fantasia, desejo ou movimento físico contrário à castidade). Mas, mesmo que a
tentação seja insistente (que volte uma e outra vez, pegajosa como uma mutuca),
não haverá pecado, pelo menos pecado grave, enquanto não for aceita, enquanto
não se “quiser” deliberadamente (“quero mesmo fazer isso”, “esse desejo sexual,
eu praticaria se pudesse”).
Alguém dizia, de modo expressivo e
correto: “Primeiro você sentiu a tentação e, sem reparar, deteve-se um pouco nela,
mas logo se acendeu na consciência o sinal vermelho: ‘Isto está errado, repudia
a tentação, reza e luta firmemente por afastá-la, esteja certo de que não pecou
gravemente”.
Ainda sobre os pecados duvidosos,
lembro-lhe que a Igreja ensina que não há obrigação de confessá-los, embora
quase sempre seja bom mencioná-los na confissão para obter critério, mas – como
ensinava São Pio X – <<o certo deve ser confessado como certo e o
duvidoso como duvidoso>>. Caso sofra do tormento da dúvida doentia, ou
seja, dos escrúpulos de consciência, peça ajuda a Deus e siga fielmente as
orientações do confessor. Quando for o caso – pois os escrúpulos angustiantes
podem ser uma doença – consulte um médico de bom critério.
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