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Se hoje a ciência o confirma, São Bento já tinha compreendido isso há mais de quinze séculos, justificando este conselho com uma explicação particularmente luminosa. Confira aqui:
Talvez já o tenha ouvido antes: é melhor não ir para a cama zangado com alguém próximo de si. Se deixar arrastar uma briga antes de ir dormir, isso criará um ressentimento mais duradouro. Embora os pesquisadores de hoje confirmem que o sono desempenha de fato um papel na ancoragem de sentimentos negativos no cérebro, São Bento, monge nascido há quinze séculos, já tinha dado este conselho, com uma explicação muito mais profunda e esclarecedora.
Voltar à paz antes do pôr-do-sol
Quando começou a fundar mosteiros na Itália, nomeadamente o de Subiaco e Monte Cassino em 529, São Bento notou a falta de regras comuns que estabelecessem uma disciplina de vida para os irmãos. Por volta de 530, decidiu escrever a Regra para guiar os seus discípulos e orientar a sua espiritualidade: marcos que ele próprio seguiu pela primeira vez. Entre uma longa lista de conselhos espirituais expressos, chamados “instrumentos para agir bem”, São Bento dá este: em caso de conflito, é preciso respeitar esta regra de “pôr-se em paz antes do pôr-do-sol quando se tem tido um desacordo”. Porque este gesto de oferecer e receber perdão permite redescobrir uma relação de verdade, e aprender a amar e a ser amado.
Como toda a vida, a vida monástica de clausura não carece de aborrecimentos e frustrações diárias. Face a estas dificuldades na gestão da interioridade, estes poucos “instrumentos para agir bem” recomendados pelo famoso santo são preciosos:
“Não preferir nada ao amor de Cristo”
“Não queira ser chamado de santo antes de ser um; primeiro torne-se um”
“Nunca perca a esperança na misericórdia de Deus”
“Volte à paz antes que o sol se ponha”
Este último conselho concreto foi retomado à sua maneira pelo Papa Francisco em 2013: “pode acontecer de os pratos voarem, palavras fortes são trocadas, mas meu conselho é não terminar o dia sem fazer as pazes”. E ao falar aos religiosos na Catedral de São Rufino em Assis, Francisco voltou a um tema próximo do seu coração: o de “reconhecer os próprios erros e pedir perdão, mas também aceitar as desculpas dos outros perdoando-as”. Ele dirigiu este apelo tanto ao clero como às famílias. “Nunca terminem o dia sem fazer as pazes”, recomendou ele.
Viver cada dia como se fosse o último
Mas o perdão não é uma coisa fácil, por vezes mesmo para além do reino das possibilidades. Para praticá-lo, São Bento dá este conselho que muda radicalmente a perspectiva: “Vive cada dia como se tivesses a morte diante dos teus olhos, e um dia terás razão”. Segundo ele, para se conseguir uma vida feliz, é preciso ter o cuidado de conduzi-la bem, amando-a no essencial. E para entrar na vida eterna, como o monge escreveu no seu Prólogo:
O Senhor diz: Quem deseja a Vida? Quem deseja a felicidade? Se ouvires, responda: “eu…”.
Assim, é apropriado viver cada dia como se fosse o último, lembrando sempre que a graça é dada a todos. E quando é dada, conduz a pessoa “com um coração expandido, à doçura indizível do amor”. “E alcançará”, conclui a Regra.
Como São Bento assinala, o pôr-do-sol simboliza a passagem da morte e da escuridão para a ressurreição de Cristo. “Desejar a vida eterna com todo o ardor espiritual”, para ele, significa estar constantemente orientado para o objetivo final: ‘ter a ameaça de morte diante dos olhos todos os dias’, pensar que esta vida tem um fim, permite viver plenamente a partir de agora, na sua essência.
Adotar um olhar de amor
Perdoar e estar em paz é definitivamente “rasgar a página em que se escreveu com malícia ou raiva a conta contra o seu vizinho”, disse o Padre Henri Caffarel, fundador das Equipes de Notre-Dame. Perdoar é finalmente mudar a visão de um sobre o outro a fim de adotar uma visão do amor. É o momento do despojamento total. Perdoar é encontrar em Cristo, aquele que morreu perdoando os seus tormentos, a energia para falar do fundo do seu coração uma verdadeira palavra que liberta e abre à reparação, ao amor verdadeiro e ao eterno.
Fonte: https://pt.aleteia.org/
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