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segunda-feira, 7 de novembro de 2022

Quando a vontade de Deus é tão diferente da minha…

Guadium Press
Tudo vai bem quando tudo vai bem, mas basta que os acontecimentos comecem a se precipitar de uma forma que nos desagrade, e já passamos a duvidar da vontade de Deus, duvidar até mesmo que Ele esteja no controle.

Redação (06/11/2022 11:19Gaudium Press) Ao longo da vida, conhecemos muitas pessoas piedosas, que aparentam ser verdadeiramente consagradas a Deus e que demonstram estar sempre dispostas a fazer a vontade dEle. No entanto, entre a aparência e a realidade, existe uma distância que nossa limitada percepção não consegue alcançar.

Parece haver uma tendência de sermos dóceis à vontade de Deus, desde que ela seja o reflexo da nossa vontade, ou seja, desde que a nossa vontade prevaleça e nos permita fazer de conta que se trata da vontade de Deus. Exemplos disso são comuns quando tudo vai bem.

E alimentamos a ilusão de que tudo vai bem porque estamos vivendo em conformidade com a vontade de Deus, mas, na verdade, só nos sentimos bem porque as coisas estão acontecendo sem contrariar a nossa vontade.

Porém, basta que alguma coisa saia dessa linha reta, que lá se vai a nossa serenidade, a nossa humildade e a nossa capacidade de viver em conformidade com a vontade de Deus.

Quando os acontecimentos nos contrariam…

Outra coisa lamentável que costumamos fazer é aplicar a vontade de Deus à vida das outras pessoas. É comum dizermos “Deus não gosta disso. Deus não se agrada daquilo. Deus age assim ou assim diante de tal situação”. Agimos como se fôssemos amigos íntimos de Deus, para os quais Ele faz confidências sobre o seu modo de agir e a sua vontade.

Então, fazemos previsões de coisas que imaginamos que acontecerão. Entretanto, essas previsões se baseiam exclusivamente naquilo que nós achamos que seja a vontade de Deus, e não no que realmente é a vontade dEle.

Tudo vai bem quando tudo vai bem, mas basta que os acontecimentos comecem a se precipitar de uma forma que nos desagrade, e já passamos a duvidar da vontade de Deus, duvidar até mesmo que Ele esteja no controle. Em tais circunstâncias, para a vida se tornar um caos e perdermos a fé, é um passo, pois, nessas horas, corremos o risco de agir como crianças mimadas.

Quantas vezes, ao rezar pedindo alguma coisa a Deus, estamos, na verdade, tentando determinar o que esperamos que Ele faça por nós, e depois, quando vem um resultado que diverge daquilo que tínhamos certeza que aconteceria, vamos protestar, vamos fazer birra, vamos obstruir o caminho do outro, vamos brigar, vamos agredir.

Nem sempre percebemos, mas, nesses momentos, mostramos aos outros como somos hipócritas, porque anunciamos aos quatro ventos que confiamos na vontade de Deus e que vai acontecer tal ou tal resultado, contudo, se o vento muda e o resultado é o oposto daquilo que acreditamos e anunciamos, nós simplesmente não aceitamos.

Para onde foi a fé? Para onde foi a conformidade com a vontade de Deus se não aceitamos o resultado dos acontecimentos? Será que esquecemos que Ele está no controle de tudo, sempre? Ou a vontade dEle só é real quando atende aos nossos interesses, aos nossos caprichos, àquilo que nós julgamos que seja justo e bom, mas que não é o que Ele determina?

Santo Afonso Maria de Ligório nos ensina que “o grande ponto é abraçar a vontade divina em tudo quanto acontece, seja agradável ou desagradável às nossas inclinações.” E Santa Teresa D’Ávila nos diz, sobre o que pedimos a Deus, que “tudo o que se deve procurar no exercício da oração é a conformidade da nossa vontade com a vontade divina, tendo por certo que nisto consiste a maior perfeição”.

Aceitar a vontade soberana de Deus

Nos últimos meses, temos vivido um período difícil, de muita polarização política, passando por um processo eleitoral completamente atípico. Até os momentos finais, estivemos diante de uma balança muito equilibrada, o que demonstrou que uma linha tênue dividiu o país em duas partes, com duas ideologias opostas.

Em tempos de crise, quando há grande comoção social, é comum as pessoas dizerem que não se pode aceitar tudo passivamente. Não obstante, se temos fé, verdadeiramente, sabemos que em tudo se faz a vontade de Deus, mesmo quando ela não pareça lógica, porque Deus não se curva aos nossos desejos, todavia, age com justiça e sabedoria, sempre para o bem de todos e de cada um.

Findo o pleito, muitas pessoas que dobraram os joelhos repetidas vezes, pedindo – e esperando – por um determinado resultado, enfrentam dificuldades em aceitar o resultado, por ele divergir do que elas pediram em suas orações. Mas, se somos cristãos e se, de fato, acreditamos que Deus está no controle de todas as coisas, precisamos admitir que aconteceu o que tinha de acontecer. E, mesmo que metade da população tenha ficado insatisfeita com o resultado das urnas, o presidente eleito não governará apenas para a metade que o elegeu, mas para a totalidade dos brasileiros, e só resta aos que se sentiram derrotados, aceitar que muitas vezes a vontade de Deus faz chover quando se deseja sol.

Que pessoas desprovidas de fé não aceitem o rumo dos fatos é uma coisa; aos cristãos, aos católicos, porém, que pautam suas vidas pelos ensinamentos de Nosso Senhor Jesus Cristo, que são guiados pelas santíssimas mãos de Maria, cabe lembrar que, tanto o presidente eleito quanto o presidente derrotado merecem o nosso respeito e necessitam de nossas orações, e que a paz e a ordem são o objetivo maior.

Não aceitar a vontade soberana de Deus, e acreditar que, num quesito tão importante quanto a escolha do governo de uma nação do porte da nossa, as coisas tenham fugido ao controle de nosso Criador, é o caminho mais curto para a revolta, o sofrimento e a perda da fé, e só revela o quanto ainda flertamos com a hipocrisia e o quanto estamos longe da verdadeira conversão.

Não nos esqueçamos de que o ato político mais injusto da História levou à cruel morte na cruz o Inocente por excelência, Aquele a quem servimos e amamos, e que nem mesmo isto esteve em desacordo com a suprema e soberana vontade de Deus.

Por Afonso Pessoa

Fonte: https://gaudiumpress.org/

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF