Jesus Cristo: Rei pobre | cebi |
REI POBRE
Dom Lindomar Rocha Mota
Bispo de São Luís de Montes Belos (GO)
Nas
proximidades em que Cristo é celebrado Rei do universo, o Papa Francisco
avizinhou-lhe o dia do pobre. Parece contraditório, mas em Deus não há
contradição. Como no infinito tudo se conecta, o início é igual ao fim. A
estética da realeza, que já vinha mudando desde o Antigo Testamento, assumiu
forma definitiva em Jesus Cristo. Da beleza e esplendor dos palácios marfíneos
à própria beleza de Davi foi superada nos contornos descaracterizados do Servo
que nos apresenta Isaias 53.
Rei
sem beleza, que muitos vieram ver, é a novidade gritante da
escatologia profética. A condição estética da antiga realeza não vale mais,
pois como continua nos informando Isaias 53,2 “Ele não tinha aparência (eídos) nem beleza (kállos) para atrair o nosso olhar, nem simpatia
(dóxa) para que pudéssemos apreciá-lo.
A
entrada neste novo feitio produz violência ao conceito e ao sentido, mas não
nega o desejo e a busca, pois, mesmo sem eídos, dóxa e kállos,
todos desejam alcançar sua incalculável riqueza (Ef 3,8).
A
realeza de Jesus é outro tipo de advento. É outro modo pelo qual o
belo contamina o mundo e ultrapassa o domínio das formas e da atração
visual.
O
mundo do Novo Testamento é totalmente desprovido do “belo” ostensivo, como
ressalta Gehard Nebel, em seu Das Ereignis des Schönen: “Davi e
Salomão eram grandes reis, mas a arte busca sempre sua identificação com o
poder da história terrena. Os galileus, entre os quais o Verbo de Deus se fez
carne, são provincianos, sem grande cultura […], onde é impossível que o belo
pudesse significar um grande advento”.
A
compreensão do belo sem o poder é alargada e se encontra com o desejo
iminente dos Gregos que pediram: «Senhor queremos ver Jesus». Assim, é
supriminda a contradição entre o Antigo e o Novo Testamento. É clara a
expressão: «queremos ver!». Ela é um imperativo e
serve para interpretar o que significaria beleza neste novo sentido. O kállon em
seu autônomo modo de existir funda um novo estilo na apresentação de Jesus,
capaz de atrair os olhares humanos e dos anjos, pois, como continua São Paulo
aos Efésios: “os principados e autoridades no céu doravante, conhecem, graças a
Igreja, a multiforme sabedoria de Deus”. O Rei pobre é novidade extraordinária
que a Igreja revela até mesmo aos anjos.
A
transcendência do belo, produtor de interesse para os sentidos, evolui no
pensamento cristão até aos nossos dias. Essa transcendência encontra uma ordem
simétrica na evolução que vai das coisas belas à alma bela e avança na tradição
latina, onde o belo é o constitutivo do ser, e não a forma. A
atração é pela existência – razão pela qual o ser perfeitamente
humano de Jesus atrai todos os olhares.
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