You Tube |
A Doutrina Católica do Batismo Infantil
Karl Keating, Catholic Answers
Tradução: Rondinelly Ribeiro
Fonte: www.veritatis.com.br
Algumas igrejas protestantes,
principalmente as fundamentalistas, criticam a prática da Igreja Católica de
batizar crianças. Para eles, o batismo é reservado apenas para adultos e
crianças mais crescidas, pois este deve ser administrado apenas após a evidência
do “nascer de novo” – isto é, após a pessoa “aceitar Jesus como único Senhor e
salvador”. No instante desta “aceitação”, a pessoa “nasce de novo” e se torna
cristão, um dos eleitos, e sua salvação está garantida, para sempre. Só então
se segue o batismo, já que este não possui poder salvífico algum. Na verdade,
quem morre antes que seja batizado, mas depois de ter “aceitado” Jesus, vai
para o paraíso de qualquer forma.
Da forma como estes protestantes
entendem, o batismo não é um sacramento (no real sentido da palavra) mas um
ordenança. De forma alguma transmitiria a graça que está simbolizando. Para
eles, é apenas um manifestação pública da conversão de alguém. Pelo fato de
somente adultos ou crianças maiores poderem se converter, o batismo é negado às
crianças que ainda não alcançaram a “idade da razão” (em torno dos sete anos).
A maioria destes fundamentalistas bíblicos afirmam que durante os anos
anteriores à idade da razão, os bebês e as crianças menores estão
automaticamente salvas. Assim que determinado indivíduo alcança a tal idade,
deve “aceitar” Jesus para alcançar o paraíso.
Desde os tempos do Antigo
Testamento, a Igreja Católica entendeu o batismo de forma diferente, ensinando
que este é um sacramento que traz consigo diversas coisas, a primeira das quais
é a remissão dos pecados, tanto o pecado original como o pecado atual – apenas
o pecado original no caso dos bebês e crianças pequenas, pois são incapazes de
pecado atual – quando o batizado for adolescente ou adulto.
Pedro explica o que no ocorre no
batismo quando diz, arrependei-vos e cada um de vós seja batizado em nome de
Jesus Cristo para remissão dos vossos pecados, e recebereis o dom do Espírito
Santo (At 2,38). Porém, ele não faz restrição a este ensinamento apenas aos
adultos. Ele acrescenta, pois a promessa é para vós, para vossos filhos e para
todos os que ouvirem de longe o apelo do Senhor, nosso Deus (v.39). E também
lemos, Levanta-te. Recebe o batismo e purifica-te dos teus pecados, invocando o
seu nome (At 22,16). Este mandamento é universal, não restrito a adultos. Além
do mais, estes versículos tornam clara a necessária conexão entre o batismo e a
salvação, uma conexão explicitamente mencionada por Pedro, que diz, esta água
prefigurava o batismo de agora, que vos salva também a vós, não pela
purificação das impurezas do corpo, mas pela que consiste em pedir a Deus uma
consciência boa, pela ressurreição de Jesus Cristo (1Pd 3,21).
Cristo chama todos ao batismo
Apesar de os protestantes
fundamentalistas modernos serem os principais opositores do batismo de
crianças, esta heresia não é nova. Na idade média, alguns grupos começaram a
rejeitar o pedobatismo, como os Cátaros e Valdenses. Mais tarde, os Anabatistas
(re-batizadores) deram prosseguimento a esta corrente doutrinária, afirmando
que crianças são incapazes de receber o batismo validamente. Porém, a Igreja
Cristã historicamente sempre sustentou que as leis de Cristo se aplicam às
crianças da mesma forma como aos adultos, pois Cristo disse que ninguém poderá
entrar no céu a menos que tenha renascido pela água e pelo Espírito (Jo 3,5).
Suas palavras devem ser aplicadas a todos aqueles que desejem ter direito ao
seu reino. Ele também defendeu este direito mesmo às crianças, deixai vir a mim
estas criancinhas e não as impeçais, porque o Reino dos céus é para aqueles que
se lhes assemelham (Mt 19,14).
Lucas nos dá mais detalhes sobre
esta bela passagem das Escrituras. Trouxeram-lhe também criancinhas, para que
ele as tocasse. Vendo isto, os discípulos as repreendiam. Jesus, porém, chamou-as
e disse: Deixai vir a mim as criancinhas e não as impeçais, porque o Reino de
Deus é daqueles que se parecem com elas (Lc 18,15-16).
Os protestantes afirmam que estas
passagens não se aplicam a crianças mais jovens e a bebês pois a passagem
implica que as crianças a que Cristo está se referindo são aquelas que podem ir
até ele por si mesmas (algumas traduções trazem “soltem as criancinhas para que
venham a mim”, o que dá a entender que elas poderiam fazer isso por si
próprias). Os fundamentalistas, então, concluem que a passagem se aplica
somente às crianças que são capazes de andar, e, presumivelmente, capazes de
cometer pecados. Mas o texto de Lc 18,15 diz Trouxeram-lhe também criancinhas
(do grego proseferon de auto kai ta brephe). A palavra grega brephe significa
“bebês, crianças nos primeiros anos de vida” – crianças completamente incapazes
de chegar até Cristo por si mesmas e que não possuem a capacidade de fazer uma
decisão consciente de “aceitar Jesus como seu Senhor e salvador”. Este é
precisamente o problema. Os fundamentalistas refutam a possibilidade de
conceder o batismo a crianças porque elas não possuem ainda a capacidade de
fazer uma escolha consciente, como esta, por exemplo. Mas notem que Jesus diz por
que o Reino de Deus é daqueles que se parecem com elas [referindo-se justamente
a estas crianças que estavam sendo levadas a ele por suas mães/responsáveis]. O
Senhor não exigiu que elas fizessem uma escolha consciente. Disse que elas são
precisamente o tipo de pessoa que pode vir até Ele e receber o reino. Então com
que bases, pergunta-se aos protestantes fundamentalistas, os bebês e as
crianças jovens deveriam ser excluídas do sacramento do batismo? Se Jesus disse
Deixai vir a mim as criancinhas e não as impeçais, por que impedi-las negando-as
o batismo?
Em lugar da Circuncisão
Além disso, Paulo nota que o
batismo substitui a circuncisão (cf. Cl 2,11-12). Nesta passagem, ele se refere
ao batismo como “circuncisão de Cristo” e “circuncisão não feita por mão de
homem”. Usualmente, somente crianças eram circuncidadas sob a Antiga Lei; a
circuncisão de adultos era rara, pois eram poucos os convertidos ao judaísmo.
Se Paulo quisesse excluir as crianças, não teria escolhido a circuncisão como
paralelo do batismo.
Esta comparação entre quem
poderia receber o batismo e a circuncisão é muito apropriada. No Antigo
Testamento, se alguém quisesse se tornar judeu, deveria crer no Deus de Israel,
e ser circuncidado. No Novo Testamento, se alguém quisesse se tornar cristão,
deveria crer em Deus e em Seu Filho Jesus, e ser batizado. No Antigo
Testamento, aqueles nascidos em lares judeus poderiam ser circuncidados em
antecipação à fé judaica na qual iriam crescer e praticar. Da mesma forma, no
Novo Testamento, aqueles nascidos em lares cristãos poderiam ser batizados em
antecipação à fé cristã na qual iriam crescer e praticar. O caminho é o mesmo:
se alguém é adulto, deverá proclamar a fé para ser aceito entre os membros;
porém se este alguém é uma criança que ainda não possui faculdades para
proclamar a fé, a ele será conferido o rito para aceitação entre os membros
sabendo que será nesta fé que irá crescer. Esta é a base da referência de Paulo
ao batismo como sendo uma “circuncisão de Cristo” – ou seja, o equivalente
cristão da circuncisão.
Somente adultos eram batizados?
Os fundamentalistas relutam em
admitir que a Escritura em lugar algum restringe o batismo a adultos, mas
quando pressionados, acabam admitindo. Eles concluem que mesmo que o texto não
explicite esta idéia, existem significados que suportam esta visão.
Naturalmente, as pessoas cujos batismos são lidos na Escritura (e alguns são
identificados individualmente) eram adultos, mas porque foram convertidos como
adultos. Isto faz muito sentido, pois o cristianismo estava apenas em seu
começo. Não existia ainda uma “população cristã”, com crianças educadas em
lares cristãos, etc.
Mesmo nos livros do Novo
Testamento escritos mais tardiamente no primeiro século, nós nunca – nem mesmo
uma vez – vemos uma criança crescida em lar cristão sendo batizada apenas após
fazer a tal “decisão” por Cristo. De preferência, sempre se assumiu que as
crianças nascidas em lares cristãos já eram cristãs, pois já haviam sido
“batizadas em Cristo” (Rm 6,3). Se o batismo de crianças não fosse o costume, deveria
haver referências de filhos de pais cristãos sendo aceitos na Igreja apenas
após chegarem à idade da razão, mas não há nenhuma referência a isso na Bíblia.
Referências Bíblicas?
Mas, alguém poderia perguntar, a
Bíblia diz que bebês e crianças menores podem ser batizadas? As evidências são
claras. No Novo Testamento lemos que Lídia foi convertida pela pregação de
Paulo e que foi batizada juntamente com a sua família (At 16,15). O carcereiro
a quem Paulo e Silas converteram foi batizado naquela noite juntamente com sua
família, então, naquela mesma hora da noite, ele cuidou deles e lavou-lhes as
chagas. Imediatamente foi batizado, ele e toda a sua família (v. 33). Em sua
saudação aos coríntios, Paulo recorda, aliás, batizei também a família de
Estéfanas (1Cor 1,16).
Em todos estes casos, lares e
famílias inteiras foram batizadas. Isto significa mais do que apenas o cônjuge,
pois as crianças também estavam incluídas. Se o texto de Atos fizesse
referências apenas ao carcereiro e à sua esposa, porque não lemos “foi
batizado, ele e sua esposa”? Portanto, suas crianças também deveriam estar
incluídas. O mesmo se aplica aos demais batismos semelhantes citados na
Escritura.
Devemos admitir que é impossível
conhecer a idade exata das crianças; poderiam ser crianças que já passaram da idade
da razão, mas também poderiam ser bebês ou crianças menores, mais jovens. É
mais provável que habitassem tanto crianças mais novas como mais velhas, e
certamente haveria crianças que ainda não alcançaram a idade da razão nestes e
tantos outros lares que foram batizados, especialmente se considerarmos que a
sociedade da época não se preocupava com métodos de controle de natalidade.
Além do mais, dado o caminho para o entendimento de batismo em lares inteiros,
se houvesse exceção a esta regra (as crianças), deveria estar explícita.
Padres e Concílios
A doutrina da Igreja Católica de
hoje sempre foi a mesma adotada desde o início do cristianismo. Orígenes, por
exemplo, escreveu no terceiro século que “de acordo com o costume da Igreja, o
batismo é conferido às crianças” [Homilia a Leviticus 8:3:11, (244 d.C.}]. O
Concílio de Cartago, em 253, condenou a doutrina de que o batismo das crianças
deveria ser adiado até os oito anos de idade. Mais tarde, Santo Agostinho
ensinou que “O costume da madre Igreja de batizar crianças certamente não deve
ser zombado…nem que esta tradição seja algo que não dos apóstolos”
[Interpretação Literal do Gênesis 10:23:39 (408 d.C.)]
Sem chance para “invenção”
Nenhum dos pais ou Concílios da
Igreja disse que esta prática era contrária às Escrituras ou à Tradição.
Concordavam que o batismo de crianças era uma prática costumeira e apropriada
desde os tempos da Igreja primitiva; a única incerteza parecia ser quando –
exatamente – a criança deveria ser batizada. Mais evidências de que o batismo
de crianças era uma prática aceita na Igreja primitiva é o fato de que se o
batismo infantil fosse contrário às práticas religiosas dos primeiros cristãos,
porque não possuímos nenhum documento, nenhum, de escritores cristãos que
reprovem esta prática?
Entretanto os protestantes
fundamentalistas buscam ignorar os escritos dos primitivos cristãos que
claramente legitimam o batismo infantil. Tentam se refugiar apelando para a
história de que o batismo requer fé e, pelo fato de as crianças serem incapazes
de terem fé, não podem ser batizadas. É verdade que Cristo deu instruções sobre
a fé atual de adultos convertidos (Mt 28,19-20), mas a sua lei geral sobre a
necessidade do batismo (cf. Jo 3,5) não coloca restrições aos sujeitos ao
batismo. Apesar de as crianças estarem incluídas na lei que Ele estabeleceu,
existem exigências da lei que elas ainda não podem cumprir por causa de sua
idade. Não se pode esperar que sejam instruídos e tenham fé se ainda são
incapazes de receber alguma instrução ou manifestar a fé. O mesmo é verdadeiro
para a circuncisão, a fé em Deus era necessária para que o adulto a recebesse,
mas não se fazia necessária aos filhos dos judeus.
Além do mais, a Bíblia nunca diz
“a fé em Cristo é necessária à salvação, com exceção das crianças”, mas
simplesmente diz “a fé em Cristo é necessária à salvação”. Mesmo os
protestantes fundamentalistas devem admitir que aqui há uma exceção às crianças
a menos que desejem condenar todas as crianças automaticamente ao inferno.
Desta forma, os próprios protestantes fazem uma exceção às crianças em relação
à necessidade da fé para alcançar a salvação. Eles, dessa forma, criticam o
católico por fazer a mesma exceção para o batismo, especialmente se, como
cremos, o batismo for um instrumento para a salvação.
Nenhum comentário:
Postar um comentário