Jesus foi acolhido por Maria e também por José num contexto familiar, da Sagrada Família | Vatican News |
A
Sagrada Família colocou a presença do Filho de Deus na família humana. Este
fato valorizou as ações que a família faz e também da família que o Senhor
deseja de cada um de nós. Ela é dom de Deus e é também missão. A Igreja é
chamada a estar com todas as famílias, a rezar por elas, para que vivam na paz
e no amor e um dia glorifiquem a Deus Uno e Trino na eternidade. A Sagrada
Família acompanhe e abençoe a todas as famílias do mundo inteiro.
Por Dom Vital Corbellini, Bispo de Marabá (PA)
Após o Natal celebra a Igreja a Sagrada Família, de
Jesus, Maira e José. É uma festa expressiva porque diz respeito à família
humana na qual viveu o Filho de Deus, tendo como pais adotivos, Maria e José. A
encarnação do Verbo ocorreu num contexto familiar. Assim como Jesus estava
sempre no seio do Pai e junto com o Espírito Santo, ele entrou na realidade
humana pela família. A família é fundamental para a vida humana e para a
salvação. A salvação é sempre dada como iniciativa de Deus, da qual exige a
participação humana num contexto familiar, comunitário e social.
A família vem do latim família, cujo
significado é doméstico, um conjunto de pessoas ligadas entre si por uma
relação de convivência, de parentesco, de afinidade[1].
Nós dizemos que a família é projeto de Deus, no qual a nossa vida dar-se-á a
graça da vida eterna. Rezemos pela unidade de nossas famílias, para que haja a
fraternidade, o amor e menos violência sobretudo contra as mulheres, contra as
pessoas idosas e assim todas vivam o espírito de unidade e de amor como ocorreu
na Sagrada Família de Nazaré. Os Papas e o magistério realçam sempre a unidade
nas famílias. Em nível de CNBB estamos celebrando o ano vocacional, rezando
pelas vocações e também pela vocação à vida matrimonial. A seguir, nós veremos
algumas considerações importantes a partir da Sagrada Escritura e dos primeiros
escritores cristãos sobre a festa da Sagrada Família.
José acolheu Maria, como sua mulher
Jesus foi acolhido por Maria e também por José num
contexto familiar, da Sagrada Família. O evangelista Mateus falou que o anjo do
Senhor apareceu em sonho para José dizendo que Maria estava grávida por obra do
Espírito Santo. O anjo ressaltou para Ele para não temer de tomar Maria como
sua mulher, sua esposa pois o que fora gerado nela era ação do Espírito de
Deus. Ela daria à luz um filho e ele poria o nome de Jesus, pois ele salvaria o
seu povo dos seus pecados. Portanto Jesus é o Salvador. Ela conceberia um filho
cujo nome seria também Emanuel, cujo significado é Deus conosco. Quando José
despertou do sono, José fez tudo conforme o anjo do Senhor lhe disse e acolheu
Maria como sua mulher ( Mt 1, 19-24).
José e Maria acolheram o Filho
de Deus na carne
São Cromácio de Aquiléia, bispo no século IV
afirmou que José e Maria acolheram o Filho de Deus na realidade humana. Quando
eles estavam em Belém para fazerem o registro, Maria deu a luz o filho
primogênito. Ela o enfaixou e depôs na manjedoura porque não havia lugar para
eles na hospedaria (Lc 2,7). As coisas foram colocadas em evidência pelo
nascimento do Verbo de Deus como Primogênito da Virgem porque era o primeiro e
único a nascer dela, e era também o Unigênito do Pai, porque foi o único gerado
pelo Pai, desde sempre. É essencial perceber a humildade do Filho de Deus por
causa do ser humano, sendo colocado na manjedoura, aquele que com o Pai reina
nos céus e é envolto em faixas aquele que concede a veste da imortalidade,
mostra-se pequeno no corpo aquele que é sublime e poderoso[2].
A alegria pelo nascimento do Verbo de
Deus é de toda a humanidade
São Cromácio ainda disse que o anjo comunicou aos
pastores uma grande alegria porque nasceu para eles o Salvador, Cristo Senhor,
na cidade de Davi (Lc 2,11). A alegria não seria somente dos pastores, mas
também aos anjos de Deus. A Escritura disse que em seguida juntou-se ao anjo
uma multidão do exército celeste dizendo: ´Glória a Deus no mais alto dos céus,
e na terra, paz a todos por ele amados´ (Lc 2,13--14). Era conveniente que ao
nascimento de um Rei assim poderoso se alegrassem não somente os seres humanos,
mas também os anjos, porque ele era o Criador dos seres humanos, mas também o
Criador dos anjos e o Deus de todo o poder[3].
O dia eterno de unidade com a
humanidade
Santo Agostinho, bispo de Hipona, séculos IV e V
afirmou que a encarnação do Verbo iniciou um dia sem o seu fim na realidade
humana, familiar. Aquele único Verbo de Deus, a vida, a luz dos seres humanos
era então o dia eterno. Assim a família humana foi enriquecida com a presença
do Filho de Deus na Sagrada Família. Aquele dia da unidade com a carne humana
tornou-se como um esposo que sai do quarto nupcial (Sl 18,6). Desta forma
aquele que nasceu lembra o eterno nascido da Virgem, porque o eterno nasceu da
Virgem, consagrando o cotidiano da existência humana[4].
A mesma pessoa, Jesus Cristo, Deus e Homem
São Leão Magno, papa no século V, ressaltou a
unidade da pessoa do Verbo de Deus como Filho de Deu e Filho do Homem. Cristo
Senhor subsistiu na unidade da pessoa: sendo Filho de Deus pelo qual os seres
humanos foram criados, tornou-se ele também Filho do Homem mediante a assunção
da carne, com o fim de morrer como disse o Apóstolo pelos pecados por todos e
ele ressurgiu para a justificação de todos (Rm 4,25)[5].
Desta forma a sua unidade com a família humana foi total, para reconciliá-la
com Deus e com a humanidade.
A importância da Sagrada Família na
Família humana
Santo Ambrósio, bispo de Milão, final do século IV,
colocou também na festa da Sagrada Família, a Família humana. Simeão, o ancião
que esperou o Senhor, recebeu o menino Jesus, em seus braços na presença de
Maria e de José. Outras pessoas e personagens viram o Salvador como os anjos,
os pastores, mas também os idosos e os justos receberam o testemunho do
nascimento do Senhor. Todas as idades testemunharam que uma virgem deu à Luz,
uma mulher estéril teve um filho, um mudo falou, Isabel profetizou, os magos
adoraram, um menino pulou de alegria, uma viúva louvou a Deus, um justo esteve
na espera[6].
A alegria de Simeão
Santo Ambrósio disse também que Simeão esperou ver
o Messias prometido, o Ungido do Senhor, ao recebeu em suas mãos o Verbo de
Deus e o agarrou entre os seus braços da sua fé, de modo que não veria mais a
morte, porque viu a vida. Assim se a profecia é negada aos incrédulos, mas não
aos justos (cfr. 1 Cor 14,22), eis que também Simeão
profetizou que o Senhor Jesus veio para a ruína e para ressurreição de muitos
(Lc 2,34), para fazer a divisão entre os justos e os injustos, segundo os
merecimentos e para dar-nos como juiz verdadeiro e justo, seja a pena seja a
graça da vida eterna segundo as ações de caridade e de amor[7].
A Sagrada Família colocou a presença do Filho de
Deus na família humana. Este fato valorizou as ações que a família faz e também
da família que o Senhor deseja de cada um de nós. Ela é dom de Deus e é também
missão. A Igreja é chamada a estar com todas as famílias, a rezar por elas,
para que vivam na paz e no amor e um dia glorifiquem a Deus Uno e Trino na
eternidade. A Sagrada Família acompanhe e abençoe a todas as famílias do mundo
inteiro.
[1] Cfr. Famiglia. In: Il
vocabolario treccani, Il Conciso. Milano, Trento, 1998, pg. 570.
[2] Cfr. Cromazio di Aquileia. Sermone
32,2. In: Ogni Giorno con i Padri della Chiesa. A cura di
Giovana della Croce. Presentazione di Enzo Bianchi. Milano, Paoline, 1996,
p. 399.
[3] Cfr. Idem, Sermone 32,5.
In: Idem, pg. 400.
[4] Cfr. Agostino d´Ippona. Sermone188,2. In: Idem,
pg 403.
[5] Cfr. Sermone 10 (30), Sul Natale Del
Signore 10, 5. In: Leone Magno. I Sermoni del Ciclo Natalizio,
a cura di Elio Montanari, Mario Naldini, Marco Pratesi. Bologna, Edizioni
Dehoniane Bologna, 2007, pg. 213.
[6] Cfr. Ambrogio. Exp. In Luc., 2,58-60. In: I
Padri vivi. Commenti Patristici al Vangelo dominicale, Anno B, a cura di Marek
Starowleyski. Roma, Città Nuova Editrice, 1984, pg. 31.
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