Maria colaborou com o mistério da encarnação do Filho de Deus, na superação do pecado e da morte | Vatican News |
"Maria
foi concebida sem o pecado original por graça de Deus. A Igreja deve seguir os
passos de Maria porque ainda que neste mundo haja a deficiência, a limitação, a
maldade, o pecado, a graça de Deus triunfará sobre o pecado e a morte, em Jesus
Cristo. Em Cristo Jesus são chamadas as pessoas a lutar pelo bem, pelo amor a
Deus, ao próximo e a si mesmo."
Por Dom Vital Corbellini, bispo de Marabá (PA)
No dia 08 de dezembro celebrou a Igreja, uma festa
cristã muito importante: a Imaculada Conceição de Nossa Senhora. Desde os
primórdios do cristianismo, a comunidade eclesial teve fé em Maria imaculada,
porque ela recebeu a graça de Deus, vivendo sem o pecado original para conceber
na carne o Filho de Deus sem o pecado. Ela é a Imaculada, a mulher sem a mancha
do pecado; conceição, concebida na realidade humana, mas sem o pecado que passa
dos pais para os filhos, as filhas e o batismo dá a graça de sua superação, de
uma vida nova. A palavra Imaculada vem de Immaculatus, cujo
significado é sem mancha, cândida, imune do pecado original, no caso de Maria[1].
Os Padres da Igreja desenvolveram uma doutrina a respeito da Mãe do Filho de
Deus, sem o pecado.
O Verbo de Deus na carne humana
Por que o Verbo de Deus se encarnou? | cancaonova
Santo Inácio de Antioquia, bispo e mártir no século
I afirmou que Jesus é o verdadeiro médico, carnal e espiritual, Deus feito
carne, Filho de Maria e Filho de Deus, vida passível na realidade humana e
impassível na realidade divina, Jesus Cristo nosso Senhor[2].
O bispo tinha presente o plano de salvação assumido por Jesus à humanidade,
sendo ele levado no seio de Maria, da descendência de Davi e do Espírito Santo[3].
Santo Inácio enfrentou os gnósticos que negavam a realidade humana de Jesus de
modo que ele é verdadeiramente da descendência de Davi, segundo a carne e Filho
de Deus segundo a vontade e o poder de Deus, nascido verdadeiramente da virgem,
batizado por João, para que toda a justiça fosse cumprida por ele[4].
A morte e a vida
São Justino de Roma, padre da Igreja, século II
disse que na relação entre Eva e Maria houve a morte e a vida. Quando era ainda
virgem e incorrupta, Eva tendo concebido a palavra que a serpente lhe disse,
deu à luz à desobediência e à morte. No entanto, a virgem Maria, concebeu fé e
alegria quando o anjo Gabriel lhe deu a boa notícia de que o Espírito do Senhor
viria sobre ela e a força do Altíssimo a cobriria com a sua sombra, e o menino
que nasceria dela, seria santo, o Filho de Deus, de modo que ela disse sim à
palavra do Senhor, e que tudo se fizesse nela segundo a vontade do Senhor (Lc
1, 35-38).
As duas mulheres
Tertuliano, padre da Igreja dos séculos II e III
também colocou a diferença de concepções de Eva e de Maria, pelo fato de que
tudo era em vista da salvação que se realizaria em Jesus. Se Eva era ainda
virgem, introduziu na humanidade a palavra edificadora de morte, de modo que o
Verbo de Deus, deveria por sua vez entrar numa virgem, para reconstruir na
humanidade dada à morte, pela vida. Aquilo que através da mulher caiu na
perdição, voltaria à salvação através do mesmo sexo. Enquanto Eva acreditou na
serpente, Maria acreditou no anjo Gabriel. Se o pecado que Eva cometeu com a
sua fé, Maria o reparou com a sua própria fé em Deus[5].
A obediência que leva à graça em
Maria
Santo Irineu, bispo de Lião, séculos II e III
afirmou que a obediência de Maria levou à graça da salvação, pela vinda do
Salvador da humanidade. Se Eva desobedeceu levando ao pecado, tornando-se para
si e para todo o gênero humano causa de morte, assim Maria, pela sua obediência
se tornou para si e para todo o gênero humano causa de salvação[6].
Desta forma, o nó da desobediência de Eva, segundo Santo Irineu foi desatado
pela obediência de Maria e o que Eva, a primeira mulher amarrou pela sua
incredulidade, Maria, a segunda mulher, livre do pecado, soltou pela sua fé[7].
Maria, advogada de Eva
Santo Irineu colocou que Maria tornou-se a advogada
de Eva, no sentido de que ela obedeceu à palavra do Senhor, tornando-se a mãe
do Salvador. Assim como Eva foi seduzida pela fala de um anjo e na qual ela
afastou-se de Deus, fazendo a transgressão da sua Palavra, Maria recebeu a
boa-nova pela boca de um anjo e trouxe Deus em seu seio virginal, obedecendo à
sua palavra. Se uma deixou-se seduzir de modo que entrou na realidade humana a
desobediência a Deus, a outra se deixou persuadir a obedecer a Deus, para que, da
virgem Eva, a Virgem Maria se tornasse a sua advogada[8].
A relação entre Eva e Maria
Santo Irineu colocou a relação entre Eva e Maria
que se pela desobediência de uma virgem o ser humano foi ferido, caiu e morreu,
assim também por causa de uma virgem obediente à Palavra de Deus, o ser humano
ressuscitou e recobrou a vida por Jesus. Na verdade, Jesus veio buscar a ovelha
perdida, ou seja, o ser humano que se perdeu (Mt 15,24), de modo que ele
assumiu um corpo não diverso de Adão, igual ao ser humano em tudo menos o
pecado, de modo que Adão foi recapitulado por Cristo, a fim de que o mortal
fosse submetido na imortalidade e Eva em Maria para que por meio de uma virgem,
dissolvesse e destruísse com a sua obediência de virgem a desobediência de uma
virgem. O pecado cometido por causa da arvore foi anulado pela obediência a
Deus, na qual o Filho do Homem foi pregado na árvore, proporcionando a
obediência, o bem, a paz e o amor aos seres humanos[9]
Deus enviou o seu Filho, nascido de
mulher (Gl 4,4)
O bispo de Lião, seguindo a palavra de São Paulo,
disse que Deus enviou o seu Filho, Jesus Cristo que nasceu de uma mulher, para
recapitular todo o ser humano através do Senhor Jesus. O inimigo não teria sido
vencido com justiça se não tivesse nascido de mulher o homem que o venceu,
Jesus, na qual dominou o ser humano, opondo-se a ele desde o princípio. Assim o
próprio Senhor declarou ser o Filho do Homem, recapitulando em si aquele
primeiro ser humano, homem e mulher, para desta forma dar-lhes a vida
verdadeira, a eterna[10].
A fé no Filho de Deus que nasceu de
Maria
Santo Agostinho, bispo de Hipona, afirmou que a fé
cristã leva a pessoa a crer no Filho de Deus que na realidade humana, nasceu
pelo Espírito Santo, da Virgem Maria. O dom de Deus, isto é o Espírito Santo
possibilitou a grandeza da humildade por parte de Deus tão magnífico, tão
poderoso a ponto de se dignar tomar a natureza toda inteira no seio de uma
virgem, vindo habitar entre as pessoas, pelo seio materno, deixando-o intacto.
Da mesma forma como no sepulcro onde o corpo do Senhor fora depositado, para ele
ressuscitar para a vida nova dada por Deus, assim também no seio virginal de
Maria, nem antes nem depois, ser mortal algum foi concebido, a não ser Jesus, o
Cristo[11].
Jesus assumiu a vida humana
A alegria humana é grande porque o Senhor desceu
até a vida humana. Ele tomou sobre si a morte de todas as pessoas,
exterminando-a com a superabundância de sua própria vida. Ele entrou no seio da
Virgem Maria, onde se uniu à natureza humana, à carne mortal, a fim de torná-la
imortal. Através de sua vida, paixão, morte e ressurreição elevou ele a
natureza humana até o alto[12].
Maria colaborou com o mistério da encarnação do Filho de Deus, na superação do
pecado e da morte.
A fé em Jesus e em sua mãe
Santo Agostinho também disse que a fé cristã
colocou que Jesus nasceu da Virgem Maria, porque assim está escrito no
evangelho, a palavra de Deus. Ele passou pela cruz, morte e ressuscitou dos
mortos pelo poder de Deus, porque tudo isso está escrito no evangelho. A fé nos
evangelhos está acima de tudo, porque é palavra de Deus de modo que o ser
humano louva Deus[13].
Jesus concebido na carne humana
O bispo de Hipona afirmou também a pureza dada pelo
seio da Virgem Maria, o qual ainda que o corpo do Senhor se originou na carne
de pecado, todavia ela não concebeu por influxo do pecado. Assim o corpo de
Cristo, no seio de Maria, não esteve submetido ao pecado, à lei nas quais o
corpo humano leva ao pecado, fator fundamental que não se realizou em Jesus,
pela sua mãe livre do pecado e o seu Filho, da mesma forma. A carne de Jesus
Cristo, nascida de Maria, não foi concebida em pecado, mas totalmente livre,
pura do pecado original, para resgatar a toda a humanidade no pecado e na morte[14].
O ser de Maria: Imaculada Conceição
Imaculada Conceição | cancaonova
Santo Agostinho também disse que a Virgem Maria
precedeu a Igreja como sua figura, afirmando que Jesus nasceu de uma Virgem
chamada Maria, que viveu esta realidade não só na concepção, mas no parto e até
a morte iluminando a vida da Igreja. Desta forma Jesus acabou com toda a
vaidade da nobreza carnal. Ele tornou-se pobre (2 Cor 8,9) aquele a quem tudo
pertence e por meio do qual tudo foi criado (Cl 1,16) para que assim toda a
pessoa que nele crer não ousasse de se orgulhar de suas riquezas terrenas[15],
mas partilhasse com os outros.
Maria foi concebida sem o pecado original por graça
de Deus. A Igreja deve seguir os passos de Maria porque ainda que neste mundo
haja a deficiência, a limitação, a maldade, o pecado, a graça de Deus triunfará
sobre o pecado e a morte, em Jesus Cristo. Em Cristo Jesus são chamadas as
pessoas a lutar pelo bem, pelo amor a Deus, ao próximo e a si mesmo. Um dia
viverá a pessoa livre do pecado de modo que também nós seremos por graça do
Senhor, imaculados, assim como foi Maria, pelos méritos de Cristo, para viver
para sempre, a graça de Deus da imortalidade.
[1] Cfr. Immacolato. In: Il
vocabolario treccani, Il Conciso. Milano, Trento, 1998, pg. 721.
[2] Cfr. Inácio de Antioquia aos Efésios,
7,2. São Paulo, Paulus, 1995, pg. 84.
[3] Cfr. Idem, 18, 2, pg. 88.
[4] Cfr. Idem, aos Esmirniotas, 1,1,
pg. 115.
[5] Cfr. Tertulliano. La Carne di Cristo,
XVII, 5. Introduzione, traduzione e Note di Claudio Moreschini.
Milano, 1996, pgs. 429-431.
[6] Cfr. Ireneu de Lião, III, 22,4.
São Paulo, Paulus, 1995, pgs. 351-352.
[7] Cfr. Idem, pg. 352.
[8] Cfr. Idem, V, 19, 1, pg. 569.
[9] Cfr. Irineu de Lyon. Demonstração da
pregação apostólica, 33. São Paulo, Paulus, 2014, pg. 95.
[10] Cfr. Idem, V, 21,1, pg. 573.
[11] Cfr. De Fide et symbolo V,11.
In: Santo Agostinho. A Virgem Maria. Cem textos marianos
com comentários. São Paulo, Paulus, 1996, pgs. 28-29.
[12] Cfr. Confissões, IV, 12,19. Santo
Agostinho. São Paulo, Paulus, 1997, pg. 104.
[13] Cfr. Contra Faustum, 26,7.
In: Santo Agostinho. A Virgem Maria, pgs. 37-38.
[14] Cfr. De Genesi ad Literram, 18,32.
In: Idem, pg. 43.
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