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quinta-feira, 8 de dezembro de 2022

São Sofrônio

S. Sofrônio | catedralortodoxa
08 de dezembro
São Sofrônio

Sofrônio tinha ascendência árabe; nasceu em Damasco, na Síria, no fim do século VI (560?). Piedoso e com amor pelo conhecimento desde a juventude, foi chamado de “O Sábio” pela facilidade com a Filosofia. Foi professor de Retórica e mais tarde destacou-se como teólogo, frente à heresia monotelista.

Em 580 tornou-se asceta, no Egito, e entrou para o Mosteiro de São Teodósio, situado entre Belém e Jerusalém. Ali tornou-se filho espiritual do monge e sacerdote João Mosco, famoso cronista. Passaram a viajar juntos na Síria, Ásia Menor e Egito, registrando e escrevendo sobre a vida de diferentes ascetas (na sua obra “Prado Espiritual”, dedicada a Sofrônio e obra importante no II Concílio de Nicéia em 787, ou VII Concílio Ecumênico do Cristianismo, o último a ser aceito tanto pela Igreja Católica quanto pela Igreja Ortodoxa, João Mosco refere, por exemplo, a história de São Gerásimo, falecido em 475, o qual curou um leão que passou a servi-lo como um animal doméstico). Permaneceram dois anos em Alexandria, auxiliando São João o Esmoleiro (Esmoler; ou também São João Misericordioso) no combate ao monofisismo. Em 619, tendo ido a Roma em peregrinação, falece João Mosco, e Sofrônio acompanha o traslado do seu corpo para o sepultamento no Mosteiro de São Teodósio.

Enquanto isso, o imperador romano do Oriente, Heráclio, após concluir a paz com os persas invasores entre 628-630, procurava unir seus súditos, divididos entre cristãos e monofisitas (heresia surgida dois séculos antes proclamando haver apenas uma natureza em Cristo, a divina, que teria absorvido a humana). Propôs assim, juntamente como patriarca Sérgio I de Constantinopla, o chamado monoenergismo, que admitia corretamente as duas naturezas de Cristo, mas afirmava ter Ele apenas uma “energia” (energeia), ou “atividade” (um termo cuja definição foi deixada deliberadamente vaga), divina – deste modo, pretendiam agradar a ambos os lados. Em 632 foi aceita esta “fusão” pelos patriarcas de Constantinopla, Alexandria e Antioquia (mas não pelos fiéis); o Papa Honório, a princípio, parece não ter percebido a gravidade do problema, e não se manifestou claramente contra o monoenergismo. Contudo Sofrônio, do seu mosteiro, opôs-se energicamente. Em 633 viajou parra Alexandria e Constantinopla na tentativa de demover seus patriarcas da heresia, mas sem sucesso. Infelizmente, as suas muitas obras sobre o tema foram perdidas – uma como que antologia de cerca de 600 textos dos Padres Gregos, isto é, os apologistas que escreveram em Grego, como por exemplo Santo Ireneu, São João Crisóstomo, etc., defendendo as duas vontades em Jesus.

Retornando à Palestina em 634, Sofrônio foi eleito patriarca de Jerusalém pela sua sabedoria, piedade e ortodoxia na Fé. Logo convocou um sínodo em Chipre para tratar da heresia, escrevendo uma carta na qual expunha e defendia a correta doutrina cristã (ratificada no III Concílio de Constantinopla, ou VI Concílio Ecumênico de 680-681, onde ficaram definitivamente condenadas as heresias monoenergita e monotelita). Os bispos, porém, não o apoiaram. Como a situação não ficasse bem resolvida, em 638 Heráclio e Sérgio I propuseram outra alternativa, o monotelismo, onde, além de uma única “energia”, Cristo teria igualmente apenas uma vontade (Sua vontade humana “absorvida” pela vontade divina). Esta nova versão herética foi tão combatida quanto a anterior, tanto por São Sofrônio quanto por São Máximo, estendendo-se o confronto ainda após a morte de Heráclio, em 641. Por fim, o concílio de 680-681 definiu dogmaticamente a respeito das vontades e operações, divina e humana, de Jesus, que não se misturam nem se contradizem, assim como o Concílio de Calcedônia (em 451) esclareceu a respeito das Suas duas naturezas, divina e humana.

A união dos cristãos era fundamental para o imperador Heráclio, que depois dos persas teve que enfrentar o avanço do Islamismo na Palestina no ano do patriarcado de Sofrônio (634), por isso a tentativa monotelita. Mas Damasco foi tomada pelos maometanos em 636, após a batalha de Jarmuque, acabando com a resistência imperial na região; o controle muçulmano foi entendido por São Sofrônio como “o inevitável castigo aos cristãos fracos e vacilantes pelos involuntários representantes de Deus", uma referência clara à insistência nas heresias.

Com o cerco a Jerusalém, em 637, São Sofrônio teve que pregar o sermão da Natividade nesta cidade, pois Belém já era inacessível. A ameaça da fome obrigou a rendição ao califa Omar em 638, e Sofrônio ainda negociou com ele certas liberdades civis e religiosas para os cristãos, pelo Acordo de Omar, que, contudo, não foi plenamente cumprido. Pouco tempo depois, depauperado pelas lutas contra as heresias e aos 78 anos, Sofrônio faleceu a 11 de março. Ele é venerado na Igreja Católica e na Ortodoxa (nesta e em algumas fontes católicas, o dia da sua festa é também 11 de março).

Além dos textos contra as heresias, Sofrônio escreveu muitas outras obras, como: os elogios funerários (encômios) de São Ciro e São João, mártires de Alexandria; um agradecimento pela recuperação da sua própria vista; 23 poemas sobre temas como o cerco muçulmano a Jerusalém e sobre diversas celebrações litúrgicas; a “Vida de Santa Maria do Egito” (ou Maria egipcíaca); comentários sobre a Liturgia; quase mil tropários (poemas de forma típica do rito das Igrejas do Oriente), sermões e homilias, incluindo vários sobre Nossa Senhora.

Reflexão:

O apreço à santidade e à sabedoria levou São Sofrônio a buscar incansavelmente, ao longo de toda a sua vida, a Verdade, única fonte de felicidade e realização – e salvação. Na vida ascética monacal e nas peregrinações e viagens para conhecer e registrar a vida e o exemplo dos santos, pode-se dizer, na vida contemplativa e na vida ativa, deu-nos ele o exemplo de tudo direcionar para Cristo e Nele fundamentar as ideias e ações. E não por mera coincidência defrontou-se este santo com os inimigos internos e externos da Igreja, no seu caso as últimas heresias cristológicas e o avanço muçulmano: para nós, hoje, há o combate contra a ideologização política e socializante da Igreja, vinda de dentro, e os perigos concretos de perseguição política, cultural e em alguns casos mesmo territorial em nações onde o Catolicismo é a base histórica. Seu diagnóstico sobre a queda de Constantinopla é um alerta atualíssimo para os que se afastam da Verdade de Deus: “o inevitável castigo aos cristãos fracos e vacilantes pelos involuntários representantes de Deus". “Involuntários” parece indicar o sentido dos que de fato “não têm vontade” de seguir a sã Doutrina... De certo modo cabe também para a atualidade prestar atenção se, como nos princípios dos monotelitas e monoenergitas, não estão os católicos mais afeitos a uma única vontade – mas, neste caso, só a “humana”, e não à divina – e se não se dá mais importância a “energias” mal definidas do que à realidade da atividade Toda Poderosa de Deus, e da nossa concomitante livre-escolha e, portanto, responsabilidade, como imagem e semelhança que Dele somos por natureza. Vale a pena considerar estes pontos; pois tudo o que fazemos e o que por fim teremos depende disto.

Oração:

Senhor Deus, Amor Todo Poderoso e o único em Quem se pode confiar, concedei-nos por intercessão de São Sofrônio a graça, a coragem e a determinação de, por amor à Verdade, isto é, a Vós como Pai, Filho e Espírito Santo, jamais deixarmos de lutar pelo que nos ensinastes por Jesus, na Vossa única e Santa Igreja Católica, para a Vossa glória, o bem das nossas almas e as dos nossos irmãos. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, e Nossa Senhora. Amém.

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF