Vela e texto (Foto: João Lopes Cardoso) |
A
guerra na Ucrânia, a crise económica pós-pandemia e as alterações climáticas
são temas que vão marcar o ano 2023. O Papa pede-nos para vivermos “juntos” o
futuro. O rumo da Igreja passa por Portugal com a JMJ de Lisboa e abre-se ao
mundo na continuidade de um Sínodo que é, cada vez mais, caminho de todos.
Entretanto, em fevereiro será publicado o relatório sobre os abusos sexuais na
Igreja Católica Portuguesa. Um ano de esperança na comunicação.
Rui Saraiva – Portugal
Em 2023 serão temas críticos a guerra na Ucrânia, a
crise económica pós-pandemia e as alterações climáticas. Desafios que
necessitam de respostas concretas. O novo ano que nos acolhe precisa da
comunicação da esperança.
Juntos para a paz e o bem comum
No título da Mensagem do Papa Francisco para o Dia
Mundial da Paz, celebrado a 1 de janeiro, descobrimos a atitude que deverá
marcar o percurso deste ano de 2023: “Ninguém pode salvar-se sozinho. Juntos,
recomecemos a partir da Covid-19 para traçar sendas de paz”. O Papa pede-nos
para vivermos “juntos” o futuro, convocando-nos para uma atitude que nos leve a
“repensar-nos à luz do bem comum”.
“Não podemos continuar a pensar apenas em
salvaguardar o espaço dos nossos interesses pessoais ou nacionais, mas devemos
repensar-nos à luz do bem comum, com um sentido comunitário, como um «nós»
aberto à fraternidade universal. Não podemos ter em vista apenas a proteção de
nós próprios, mas é hora de nos comprometermos todos em prol da cura da nossa
sociedade e do nosso planeta, criando as bases para um mundo mais justo e
pacífico, seriamente empenhado na busca dum bem que seja verdadeiramente
comum”, escreve o Santo Padre.
JMJ, levantar e partir
É precisamente para a construção de uma sociedade
mais justa, fraterna e em paz que o Papa Francisco convoca os jovens de todo o
mundo para se encontrarem na Jornada Mundial da Juventude (JMJ) no próximo mês
de agosto. O rumo da Igreja passa por Lisboa em 2023.
“Maria levantou-se e partiu apressadamente” é a
frase do Evangelho de S. Lucas que serve de lema à próxima JMJ. E os jovens
estão a responder a esta proposta com entusiasmo e a mobilizarem-se para
fazerem da JMJ em Lisboa um verdadeiro “ponto de partida” das suas vidas, como
referiu recentemente o cardeal Tolentino Mendonça.
A JMJ “vai ser um gigante ponto de partida, que nos
vai projetar em tantas dinâmicas criativas que vão inaugurar uma nova era, uma
nova época, na vida da Igreja, porque a Igreja vai receber o sangue novo da
juventude”, afirmou o purpurado português em entrevista a dois jovens da
organização do evento.
Sínodo é processo de comunicação
Entretanto, o novo ano traz-nos mais duas etapas do
Sínodo. Serão as assembleias continentais entre janeiro e março e a primeira
sessão da XVI Assembleia dos Sínodo dos bispos em outubro. Momentos
absolutamente inéditos de um profundo processo de discernimento coletivo,
promovendo a participação, o encontro, a escuta e o diálogo. Um verdadeiro
processo de comunicação.
Segundo informa o Documento para a Etapa
Continental, publicado em outubro pela Secretaria Geral do Sínodo, a Igreja em
processo sinodal está a colocar em caminho “milhões de pessoas em todo o mundo”
que se sentem “implicadas nas atividades do Sínodo”.
Para esta nova fase do Sínodo a inspiração vem de
uma frase do profeta Isaías que leva a pensar “a Igreja como uma tenda”:
“Alarga o espaço da tua tenda, estende sem medo as lonas que te abrigam, e
estica as tuas cordas, fixa bem as tuas estacas” (Is 42,2).
A esperança no caminho
Com este estimulante lema é lançado o desafio de alargar
o caminho da Igreja ao acolhimento dos outros. “Alargar a tenda exige acolher
outros no seu interior, dando espaço à sua diversidade”, aponta o texto.
Trata-se de uma proposta que sublinha “a visão de
uma Igreja capaz de uma inclusão radical, de pertença mútua e de profunda
hospitalidade segundo os ensinamentos de Jesus”. Uma visão que “está no centro
do processo sinodal”.
“Esta tenda é um espaço de comunhão, um lugar de
participação e uma base para a missão”, refere o texto para a etapa
continental. Nesta grande tenda alargada cabem, desde logo, as 112 sínteses
sinodais enviadas em 2022 pelas conferências episcopais do mundo, na primeira
fase do Sínodo. Estas sínteses são concreta expressão da escuta do povo de Deus
em processo de comunicação.
E este caminho sinodal com as duas sessões em Roma
em 2023 e 2024, vai ao encontro do Jubileu de 2025 com a esperança no coração,
pois o lema deste evento é “Peregrinos da Esperança”. Esta temática escolhida
pelo Papa Francisco para o Jubileu de 2025 faz aumentar a importância dos
processos de comunhão e participação iniciados pelo Sínodo.
Comissão para os abusos
Em Portugal o ano de 2023 terá já no seu início uma
etapa importante com a publicação a 16 de fevereiro do relatório da Comissão
Independente para o estudo dos abusos sexuais contra as crianças na Igreja
Católica Portuguesa.
Em recente entrevista à Agência Ecclesia e Rádio
Renascença, o presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, D. José Ornelas,
realçou o trabalho desta Comissão. “Pedimos um estudo para conhecer a
realidade”, afirmou o bispo de Leiria-Fátima acrescentando a necessidade de
avaliar e discernir os resultados.
Será, com certeza, este um bom momento para assumir
a importância essencial da comunicação em cada uma das dioceses portuguesas,
promovendo o acolhimento das vítimas e a pesquisa de informação necessária para
que seja feita justiça.
Comunicar conteúdos de esperança
Para que a comunicação possa ser veículo de
esperança, é muito importante que desenvolva processos de relação baseados na
escuta, na partilha e no diálogo, nos quais emissor e recetor trocam de funções
em modo dinâmico. Uma atitude unilateral, reativa e não planeada favorece a
polémica e tem dificuldade em disponibilizar elementos informativos.
Para ser esperança, a comunicação na Igreja deve
partir do coração da Palavra de Deus, fazendo discernimento e em atitude de
diálogo com o mundo. Com escrutínio público e em colaboração com os órgãos de
comunicação social, é mais fácil desenvolver processos de comunicação que
produzam conteúdos de esperança.
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