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"A
espiritualidade do corpo aponta para isso. O importante no corpo não é ser olho
para ver, nem ouvido para ouvir, nem boca para falar, nem mãos para atuar, nem
pés para andar, mas fazer parte e ser corpo para viver e gerar vida, cada qual
em sua missão específica."
Jackson Erpen - Cidade do Vaticano
“Ao
participar realmente do corpo do Senhor, na fracção do pão eucarístico, somos
elevados à comunhão com Ele e entre nós. «Porque há um só pão, nós, que somos
muitos, formamos um só corpo, visto participarmos todos do único pão». E deste
modo nos tornamos todos membros desse corpo, sendo individualmente membros uns
dos outros» (...). A cabeça deste corpo é Cristo. Ele é a imagem do Deus
invisível e n 'Ele foram criadas todas as coisas. (Lumen Gentium n. 7)”
O capítulo I da Constituição
Dogmática Lumen Gentium - O Mistério da Igreja - ao
falar sobre "A Igreja, sociedade visível e espiritual", explica
no número 8, que "Cristo, mediador único, estabelece e continuamente
sustenta sobre a terra, como um todo visível, a Sua santa Igreja, comunidade de
fé, esperança e amor, por meio da qual difunde em todos a verdade e a graça.
Porém, a sociedade organizada hierarquicamente, e o Corpo místico de Cristo, o
agrupamento visível e a comunidade espiritual, a Igreja terrestre e a Igreja
ornada com os dons celestes não se devem considerar como duas entidades, mas
como uma única realidade complexa, formada pelo duplo elemento humano e
divino."
Ao participar realmente do corpo do Senhor, na
fração do pão eucarístico, "somos elevados à comunhão com Ele e entre nós,
e deste modo nos tornamos todos membros desse corpo, sendo individualmente
membros uns dos outros". O Espírito Santo, "unificando o corpo
por si e pela sua força e pela coesão interna dos membros, produz e promove a
caridade entre os fiéis." Mas "a cabeça deste corpo é Cristo. Ele é a
imagem do Deus invisível e n 'Ele foram criadas todas as coisas."
Aprofundando nossa compreensão sobre a
Igreja, Pe. Gerson Schmidt* nos propõe hoje a reflexão "A
espiritualidade da Igreja como corpo":
"Arcebispo emérito da Arquidiocese de Porto
Alegre-RS, Dom Dadeus Grings, em seu livro “Igreja do Diálogo Ecumênico”, reflete
sobre essa temática da espiritualidade da Igreja como um Corpo. A visão da
Igreja como um Corpo sugere uma espiritualidade de comunhão e unidade. É a
busca que todos sejam um como foi a prece de Jesus ao Pai. (cf Jo 17,21).
Vivendo o amor recíproco por meio da convivência humana conforme a vontade do
Pai, concretizamos o desejo de Cristo da unidade na humanidade. Todos sejam um.
Não simplesmente uma comunidade seleta. Escreve assim Dom Dadeus: “Neste
contexto percebe-se a convivência humana. Consiste não só em estar aí, mas
estar unido. Formamos todos um só Corpo, com cabeça divina e alma divina no
Espírito Santo. Somos, sem dúvida, muitos membros. Mais que sociedade, que se
forma pela consecução do bem comum, pela convergência da atividade de todas as ações
humanas livres, no Corpo Místico se integram sujeitos, num mesmo organismo
vivo. Interpenetram-se as subjetividades, da fé, da esperança e da caridade.
Todos formam uma unidade em Cristo”[1].
A organicidade na Igreja não é obra simplesmente do ser humano, capaz de formar
uma sociedade perfeita, mas obra da redenção, fruto do Espírito Santo que
congrega, une, reúne na fé, costura o amor recíproco. Por isso recebemos
infusas as virtudes teologais de fé, esperança e caridade. Elas atuam em nós,
no campo eclesial, social, harmônico, construindo relações.
Em relação a espiritualidade que decorre do
conceito da Igreja como um Corpo Místico de Cristo, Grings ainda diz assim:
“Não podemos esquecer a espiritualidade deste corpo sobrenatural. Cristo nos
orienta com a graça do Espírito Santo. O Pai, no qual cremos, em primeiro
lugar, é alguém muito próximo e indispensável para esta espiritualidade. A
referência a Cristo, como irmão, também nos assume neste Corpo no Espírito
Santo, com seus dons sobrenaturais. É preciso imbuir-se da mentalidade do
Corpo, do qual fazemos parte: amar este Corpo e se empenhar por ele, para que
chegue à plenitude em cada membro[2].
Lembramos reflexão do programa anterior, já
introduzíamos essa temática da espiritualidade do Corpo Eclesial. Cada um tem
uma missão específica dentro do Corpo Místico. A espiritualidade do corpo
aponta para isso. O importante no corpo não é ser olho para ver, nem ouvido
para ouvir, nem boca para falar, nem mãos para atuar, nem pés para andar, mas
fazer parte e ser corpo para viver e gerar vida, cada qual em sua missão
específica. Tal como São Paulo diz: “Se o pé disser: mão eu não sou, logo não
pertenço ao corpo. E se a orelha disser, olho eu não sou, logo não pertenço ao
corpo, nem por isso deixará de fazer parte do Corpo” (1 Cor 12, 15-16). Podemos
imaginar o mostro que seria a Igreja se todo o corpo fosse cabeça ou todo o
corpo fosse pés. O importante é o todo, bem maior que a soma das partes e a
unidade no corpo orgânico. Cada membro tem sua função e missão específica, de
acordo com sua condição, idade, profissão, carisma, ministério, dons recebidos.
“Assim aparece a maravilha do corpo, com seus membros, tanto contemplativos
como ativos. Na atuação de cada um está a espiritualidade do todo”[3]."
*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de
janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é
graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.
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[2] GRINGS, Dadeus. “Igreja do Diálogo Ecumênico”. Evangraf, Porto Alegre, 2022, p. 47.
[3] Ibidem.
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