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quinta-feira, 26 de janeiro de 2023

Dom Edson Oriolo: gestão de mudanças, aceleração e "mindset" digital

Mundo | Vatican News

A sociedade é complexa. As decisões a serem tomadas devem ser muito bem analisadas. Quando mexemos num fator, o resultado pode chegar em um outro lugar. Está cada vez mais difícil explicar o mundo de forma linear.

Dom Edson Oriolo - bispo Igreja particular de Leopoldina MG

Acredito que três desafios vêm impactando a sociedade contemporânea, nos últimos anos, causando transformações, incertezas e rupturas globais: as revoluções tecnológicas, a crise econômica de 2008 e a crise sanitária Covid 19. Como não poderia ser diferente, esses abalos são frutos de cenários instáveis de conflitos políticoideológicos que repercutem em todos os ambientes da sociedade hodierna, e também na vida eclesial. Eles estão alterando a maneira de ser e de agir das pessoas. Necessitamos conhecer essa nova lógica para lançar as “sementes do Verbo” com convicção.

Esses desafios rompem o cotidiano e a normalidade das pessoas, afetando todos os tipos de organização. De maneira sistêmica, causam mudanças nos processos das organizações. Assim, não podemos repetir receitas antigas para desafios novos. Temos que sair do imobilismo. Papa Francisco, na Evangelli Gaudium, n.33, comenta essa realidade quando afirma: “A pastoral em chave missionária exige o abandono deste cômodo critério pastoral ‘fez-se sempre assim’”. Isto é um veneno para a Igreja e também para a sociedade. Faz-se necessário conhecer para mudar e construir uma arquitetura organizacional, uma nova performance da vida eclesial. Uma evangelização que atinja todos os setores.

Os abalos sísmicos ou mais conhecidos terremotos são o resultado de movimentos de gases, choques de placas rochosas ou erupções vulcânicas. São abalos e tremores de terra. Eles iniciam no interior da terra, onde acontecem os choques de placas rochosas, liberando energia sob a forma de ondas sísmicas e expandindo em longas distâncias.

Atualmente, a realidade vivencia uma transposição sísmica entre dois mundos: o mundo VUCA e o BANI. Esses abalos de maneira sísmica estão expandindo por causa do mindset e da aceleração digital.

O termo “VUCA” é um acrônimo, que surgiu na década de 90, no exército militar americano, para produzir cenários instáveis e complexos dos militares nos campos de guerra. Após a Guerra Fria, os Estados Unidos começaram a utilizar o termo VUCA para demonstrar as características que deveriam enfrentar, após o conflito e para tentar resolver algumas possíveis respostas para continuar sua caminhada, isto é, seguir adiante.

O termo VUCA significa que tudo é volátil (volatile), incerto (uncertain), complexo (complex) e ambíguo (ambiguous). Vivemos numa sociedade líquida e volátil. Não conseguimos acompanhar as mudanças. As coisas mudam sem parar. Não temos condições de acompanhar as transformações. Está se tornando difícil para as organizações e as instituições acompanharem o mercado. O nosso futuro está ameaçado. Não temos condições de prever resultados futuros e a imprevisibilidade é o principal elemento que vem dificultando as novas soluções.

A sociedade é complexa. As decisões a serem tomadas devem ser muito bem analisadas. Quando mexemos num fator, o resultado pode chegar em um outro lugar. Está cada vez mais difícil explicar o mundo de forma linear. Nesse mundo há uma falta de clareza das coisas. Há uma interpretação dúbia dos fatos que prejudicam a capacidade de encontrar uma solução para determinado fenômeno. Para sobreviver temos que ter um olhar mais humano.

No entanto, devido ao mindset e à aceleração digital vem se solidificando um outro mundo: o BANI. Esse acrônimo foi apresentado pelo futurista e antropólogo americano Jamais Cascio e significa frágil (brittle), ansioso (anxious), não linear (nonlinear) e incompreensível (incomprehensible). As coisas são frágeis e os nossos sistemas são vulneráveis e suscetíveis a falhas. As estruturas se rompem com facilidade. Assim, a fragilidade nos leva à ansiedade. O imprevisível e o desconhecido geram ansiedade, prejudicando o foco. Em um mundo ansioso, todas as escolhas têm chances de trazer resultados não desejados e até mesmo desastrosos.

Estamos num mundo não-linear. Não existe linha reta. A não-linearidade se refere às perturbações e desequilíbrios que estamos vivendo, seja a questão das mudanças climáticas ou o surgimento de novo vírus. Precisamos de clareza, pois as coisas acontecem. Resultados brotam de resultados derivados de eventos inesperados e não programados. Essa situação nos leva a uma realidade incompreensível. As múltiplas fontes de informações nos deixam sem entender as coisas. A alta volatilidade caracteriza a fragilidade dos sistemas que mudam constantemente. Com isso, as incertezas crescentes culminam em grande ansiedade, enquanto a complexidade evolui para a não-linearidade e o ambíguo se torna incompreensível.

No entanto, essa transição do mundo VUCA para o BANI devido ao mindset e à aceleração digital, numa realidade sísmica, exige construir relações de confiança com as equipes que trabalhamos, melhorar nossa performance, alinhar expectativa, ter pensamento crítico, adequar as novas tecnologias com criatividade e atualização e, principalmente, desenvolver uma visão de mundo dinâmico e reflexivo. Isso vai ajudar a entender as mudanças que vêm acontecendo em todos os setores da sociedade.

Mindset: o mesmo que mentalidade, isto é, maneira como pensamos, julgamos, compreendemos, tomamos decisões e enfrentamos situações cotidianas.

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF