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A
sociedade é complexa. As decisões a serem tomadas devem ser muito bem
analisadas. Quando mexemos num fator, o resultado pode chegar em um outro
lugar. Está cada vez mais difícil explicar o mundo de forma linear.
Dom Edson Oriolo - bispo Igreja particular de
Leopoldina MG
Acredito que três desafios vêm impactando a
sociedade contemporânea, nos últimos anos, causando transformações, incertezas
e rupturas globais: as revoluções tecnológicas, a crise econômica de 2008 e a
crise sanitária Covid 19. Como não poderia ser diferente, esses abalos são
frutos de cenários instáveis de conflitos políticoideológicos que repercutem em
todos os ambientes da sociedade hodierna, e também na vida eclesial. Eles estão
alterando a maneira de ser e de agir das pessoas. Necessitamos conhecer essa
nova lógica para lançar as “sementes do Verbo” com convicção.
Esses desafios rompem o cotidiano e a normalidade
das pessoas, afetando todos os tipos de organização. De maneira sistêmica,
causam mudanças nos processos das organizações. Assim, não podemos repetir
receitas antigas para desafios novos. Temos que sair do imobilismo. Papa
Francisco, na Evangelli Gaudium, n.33, comenta essa realidade quando afirma: “A
pastoral em chave missionária exige o abandono deste cômodo critério pastoral
‘fez-se sempre assim’”. Isto é um veneno para a Igreja e também para a
sociedade. Faz-se necessário conhecer para mudar e construir uma arquitetura
organizacional, uma nova performance da vida eclesial. Uma evangelização que
atinja todos os setores.
Os abalos sísmicos ou mais conhecidos terremotos
são o resultado de movimentos de gases, choques de placas rochosas ou erupções
vulcânicas. São abalos e tremores de terra. Eles iniciam no interior da terra,
onde acontecem os choques de placas rochosas, liberando energia sob a forma de
ondas sísmicas e expandindo em longas distâncias.
Atualmente, a realidade vivencia uma transposição
sísmica entre dois mundos: o mundo VUCA e o BANI. Esses abalos de maneira
sísmica estão expandindo por causa do mindset e da aceleração digital.
O termo “VUCA” é um acrônimo, que surgiu na década
de 90, no exército militar americano, para produzir cenários instáveis e
complexos dos militares nos campos de guerra. Após a Guerra Fria, os Estados
Unidos começaram a utilizar o termo VUCA para demonstrar as características que
deveriam enfrentar, após o conflito e para tentar resolver algumas possíveis
respostas para continuar sua caminhada, isto é, seguir adiante.
O termo VUCA significa que tudo é volátil
(volatile), incerto (uncertain), complexo (complex) e ambíguo (ambiguous).
Vivemos numa sociedade líquida e volátil. Não conseguimos acompanhar as
mudanças. As coisas mudam sem parar. Não temos condições de acompanhar as
transformações. Está se tornando difícil para as organizações e as instituições
acompanharem o mercado. O nosso futuro está ameaçado. Não temos condições de
prever resultados futuros e a imprevisibilidade é o principal elemento que vem
dificultando as novas soluções.
A sociedade é complexa. As decisões a serem tomadas
devem ser muito bem analisadas. Quando mexemos num fator, o resultado pode
chegar em um outro lugar. Está cada vez mais difícil explicar o mundo de forma
linear. Nesse mundo há uma falta de clareza das coisas. Há uma interpretação
dúbia dos fatos que prejudicam a capacidade de encontrar uma solução para
determinado fenômeno. Para sobreviver temos que ter um olhar mais humano.
No entanto, devido ao mindset e à aceleração
digital vem se solidificando um outro mundo: o BANI. Esse acrônimo foi
apresentado pelo futurista e antropólogo americano Jamais Cascio e significa
frágil (brittle), ansioso (anxious), não linear (nonlinear) e incompreensível
(incomprehensible). As coisas são frágeis e os nossos sistemas são vulneráveis
e suscetíveis a falhas. As estruturas se rompem com facilidade. Assim, a
fragilidade nos leva à ansiedade. O imprevisível e o desconhecido geram
ansiedade, prejudicando o foco. Em um mundo ansioso, todas as escolhas têm
chances de trazer resultados não desejados e até mesmo desastrosos.
Estamos num mundo não-linear. Não existe linha
reta. A não-linearidade se refere às perturbações e desequilíbrios que estamos
vivendo, seja a questão das mudanças climáticas ou o surgimento de novo vírus.
Precisamos de clareza, pois as coisas acontecem. Resultados brotam de
resultados derivados de eventos inesperados e não programados. Essa situação
nos leva a uma realidade incompreensível. As múltiplas fontes de informações
nos deixam sem entender as coisas. A alta volatilidade caracteriza a
fragilidade dos sistemas que mudam constantemente. Com isso, as incertezas
crescentes culminam em grande ansiedade, enquanto a complexidade evolui para a
não-linearidade e o ambíguo se torna incompreensível.
No entanto, essa transição do mundo VUCA para o
BANI devido ao mindset e à aceleração digital, numa realidade sísmica, exige
construir relações de confiança com as equipes que trabalhamos, melhorar nossa
performance, alinhar expectativa, ter pensamento crítico, adequar as novas
tecnologias com criatividade e atualização e, principalmente, desenvolver uma
visão de mundo dinâmico e reflexivo. Isso vai ajudar a entender as mudanças que
vêm acontecendo em todos os setores da sociedade.
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