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História da Igreja: Os Primeiros Concílios – Parte
2
II. OS CÂNONES: Como em todo concílio esta é a
parte disciplinar. São 20 cânones ou normas. A palavra cânon significava
cana ou regra de medir. São normas com respeito às ordenações presbiterais
e eleições dos bispos, os lapsi(caídos) nas perseguições, e jurisdição de
patriarcas. Deles ressaltamos o cânon 3: Proíbe estritamente todo bispo,
presbítero, diácono, ou qualquer do clero a ter uma subintroducta (mulher
alheia) morando com ele, exceto mãe, ou irmã, ou tia, ou uma pessoa que
esteja fora de qualquer suspeita. Cânon 6: Sobre jurisdição dos patriarcas
à semelhança do Bispo de Roma, o de Alexandria terá certa jurisdição sobre
os sucedâneos de Egito, Líbia e Pentápolis, de modo que não poderá ser
ordenado bispo dentro de seu território sem o consenso do Metropolitano. O
que serve também para o Metropolitano de Antioquia. Cânon 9: Somente um
homem sem culpa pode ser ordenado presbítero. Cânon 15: Bispos,
presbíteros e diáconos não devem passar de uma igreja a outra. Nada existe
sobre a separação entre evangelhos canônicos e apócrifos como relata
Roberto C. P. Júnior que a si mesmo se intitula escritor. Mas disto falaremos
em próximo artigo.
ALGUMAS OBSERVAÇÕES
SOBRE O CÂNON IV: Muitos
comentaristas consideram este cânon como o mais importante dos vinte
aprovados pelo Concílio. Ele diz: “Prevaleça o antigo costume no Egito,
Líbia e Pentápolis de modo que o bispo de Alexandria tenha jurisdição em
todos eles, posto que o mesmo é costumeiro para o Bispo de Roma também….E
isto é entendido de modo geral de forma que, se qualquer um é feito bispo
sem o consenso do Metropolitano, o grande Sínodo há declarado que tal
pessoa não é bispo…” A primeira tradução latina deste cânon, a chamada
Prisca(antiga), modifica o texto grego e diz: “É de antigo costume que o
bispo da cidade de Roma tenha um Primado de modo que governe, com seus
cuidados, os lugares suburbicários e toda sua própria Província”. Os
comentaristas gregos do século XII disseram bastante explicitamente que
este sexto cânon confirma os direitos do Bispo de Roma como Patriarca
sobre todo o Ocidente. Em fins do século IV havia 120 metropolitas em 120
províncias. O Império Romano havia anteriormente instituído a diocese
civil para agrupar as províncias. A diocese era dirigida por um vicarius;
a Igreja adotou igual organização. No Oriente havia cinco dioceses. Teria
portanto 5 dioceses religiosas. Em cada parte do Império Romano se
reconhecia a autoridade superior de uma igreja- Antioquia para Síria e
regiões vizinhas; Éfeso para a Ásia Menor; Alexandria para o Egito;
Cesareia para a Pérsia.; Constantinopla para a Grécia; Esse sistema não
foi adotado nem na Gália, nem na Espanha, nem na Itália onde o papel do
Bispo de Roma era bem diferente. Daí as discussões geradas por este cânon.
Posteriormente surgiram os Patriarcados e com eles certos antagonismos e
certos particularismos foram introduzidos na Igreja. Segundo a versão
árabe, ao parecer anterior ao Concílio de Constantinopla (381) nos tempos
de Teodósio, “o Patriarca deve ter cuidado sobre os bispos e arcebispos de
seu patriarcado. A primazia do Bispo de Roma cabe sobre todos… Embora o
arcebispo seja entre os bispos o irmão mais velho, que cuida de seus
irmãos e os mantenha em obediência porque tem autoridade sobre eles, o
patriarca está acima de todos eles. Do mesmo modo o que ocupa a sede de
Roma é a cabeça e o príncipe de todos os Patriarcas, pois que é
o primeiro, como foi Pedro, a quem foi dado o poder sobre todos os
príncipes cristãos, sobre todos os povos, sendo o Vigário de Cristo Nosso Senhor
sobre todos os povos e sobre toda a Igreja Católica. Quem contradizer
isto, seja excomungado pelo Sínodo”. Seguindo esta mesma versão, teremos
um cânon 35 que diz: “Deve haver somente quatro Patriarcas em todo o
mundo, como há quatro evangelhos e quatro rios.. E deve haver um príncipe
e chefe deles, o Senhor da sede do sublime Pedro de Roma, como ordenaram
os apóstolos. Após ele, o Senhor da grande Alexandria, que foi a sede de
Marcos. O terceiro, o Senhor de Éfeso, que foi a sede do sublime João que
disse coisas divinas. E o quarto e último é o meu Senhor de Antioquia, que
é a outra sede de Pedro. Os bispos sejam divididos pelas mãos destes
quatro patriarcas. Os bispos das pequenas cidades que estão sob a
autoridade de grandes cidades fiquem sob autoridade dos respectivos
metropolitas. Cada metropolita das grandes cidades designe os bispos das
províncias, mas nenhum bispo os designe, pois que o metropolita é maior do
que os bispos”. Vamos explicar alguns termos.
Metropolita: Significa cidade mãe em grego; é o bispo
que na antiguidade tinha uma primazia (lugar preferente) e poder de
jurisdição (mandato) sobre outras sedes episcopais em suas vizinhanças. A
primazia tinha como símbolo o pálio, que era um dossel mantido como um
pano sobre a cabeça do metropolita por 4 ou mais varas seguras por
portadores. Hoje, no Ocidente a palavra metropolita designa o arcebispo de
uma província eclesiástica que tem sobre os bispos das sedes sucedâneas
unicamente uma preferência puramente honorífica. O pálio atual é uma faixa
branca com cruzes pretas que o Papa e alguns metropolitas levam como
estolas.
Patriarca: Título dos doze chefes das tribos de Israel.
No NT título dado aos bispos que desciam diretamente de Pedro como
Antioquia e Roma, sendo que Alexandria foi escolhida por ser fundada diretamente
por Marcos, discípulo de Pedro. No Concílio de Niceia, Jerusalém teve
também o título de Patriarca; e mais tarde Constantinopla porque era a
nova Roma. Nos tempos modernos temos o patriarca de Veneza e o patriarca
das índias ocidentais entre outros.
Província: Desde o século IV à semelhança da
administração civil, a eclesiástica adotou o mesmo tipo de organização,
tendo o bispo chamado metropolita, hoje arcebispo, um conjunto de dioceses
sobre as quais presidia.
Primado: O bispo que pela antiguidade de sua igreja
tem o lugar preferente numa determinada nação ou região, como é o
arcebispo de Salvador no Brasil.
III PARTE CONCÍLIO
DE NICEIA
O CONCÍLIO VISTO
PELOS DISSIDENTES NÃO CATÓLICOS. (APOLOGÉTICA)
“Em 313 D.C. com o grande avanço da
Religião do Carpinteiro o imperador Constantino Magno enfrenta problemas
com o povo romano e necessitava de uma nova religião para controlar as
massas. (1). Aproveitando-se da grande difusão do Cristianismo,
apoderou-se dessa Religião e modificou-a, conforme seus interesses. (2)
Alguns anos depois, em 325 D.C.,no Concílio de Niceia, é fundada,
oficialmente, a Igreja Católica… (3) o Concílio de Niceia.., presidido por
Constantino era composto pelos Bispos que eram nomeados pelo Imperador e
por outros que eram nomeados por líderes Religiosos das
diversas comunidades(4). Tal Concílio consagrou oficialmente a
designação “Católica”, aplicada à Igreja organizada por Constantino:
“Creio na igreja una, santa, católica e apostólica”. (5) Poderíamos dizer
que Constantino foi seu primeiro Papa. Como se vê claramente, a Igreja
católica não foi fundada por Pedro e está longe de ser a Igreja primitiva
dos Apóstolos” (6)…
Esta citação é parte do artigo
firmado por Roberto C.P. Junior em março de 1997, e que parece citado por
Jefferson S.B., aparentemente um espírita. Que há de verdade em tudo isso?
Temos numerado os parágrafos para
poder mais facilmente refutá-los sem necessidade de citá-los por extenso.
Vejamos o 1o ponto: (Constantino) apoderou-se dessa religião e modificou-a
conforme seus interesses. A religião cristã em tempos de Constantino era
majoritária unicamente no Oriente. No Ocidente era ainda minoritária,
especialmente entre os pagos, vilas rústicas. Daí o nome de pagãos para os
gentios. Uma exceção era a região de Cartago ou Túnez. Não era o povo romano,
mas o Oriente que, com as ideias de Ario que negava a divindade de Jesus,
estava dividido. Constantino viu nessa divisão um perigo para a sociedade
majoritariamente cristã no Oriente onde ele morava. Pensava podia se repetir o
caso dos donatistas como veremos mais adiante. De fato só 5 bispos ocidentais,
e dois presbíteros, pertencentes ao Metropolita de Roma, o Papa, estiveram
presentes entre os quase 300 bispos do Concílio. A heresia de Ario era
praticamente desconhecida no Ocidente. Desde 313 até 324, doze anos,
Constantino não influiu na religião cristã do Oriente. Mais: Licínio, que era o
imperador do Oriente perseguiu os cristãos, apesar do decreto de Milano em 313
e que ele próprio promulgou pouco mais tarde em Nicomedia, a capital de seu
império. Um decênio durou esta perseguição, de modo que no ano 321 todo o
Oriente ardia em perseguição. Foi por isso que Constantino, de coração cristão,
embora só se batizasse na hora da morte, querendo conservar a paz religiosa,
lutou contra ele e o derrotou na batalha de Andrianópolis em 323. Em 324
decapitou Licínio, seu cunhado, como réu de alta traição e ficou dono de todo o
império. Como fosse recebido em Roma após dez anos de ausência de modo hostil,
e, visto o entusiasmo com que era aclamado no Oriente praticamente cristão,
Constantino levantou uma nova Roma em Constantinopla que inaugurou em 330,
dividindo o império em 4 prefeituras (Oriente, Ilírico, Itália, e Gália) com 14
dioceses e 116 províncias, base das divisões eclesiásticas. A experiência do
donatismo no norte da África, cujo extremismo e violências chegaram a perturbar
a província e até todo o norte do continente na época (313) sobre o domínio de
Constantino, foi decisiva para posteriores atuações do imperador. Foi para
aplacar os ânimos e a violência suscitada pelos donatistas, que pela primeira
vez ele interveio em problemas eclesiásticos. Reuniu em Roma um sínodo, tendo
como presidente o Papa Milciades, 15 bispos italianos, 3 galos, e 10 de cada
facção(donatistas e contrários). O sínodo de Roma foi contrário aos donatistas
que apelaram de novo; e em Arlés, um outro sínodo de caráter mais universal, de
novo condenou as bases donatistas. Por fim Constantino decidiu-se a atuar com
energia. Mas não deu certo. Os donatistas formaram sus exércitos de agonistici
(lutadores) e que foram chamados vulgarmente de circumcelliones (merodeadores).
Imperadores posteriores intentaram acalmar os ânimos e a luta chegou até os
tempos de S. Agostinho que tentou solucionar a licitude da supressão violenta
da heresia por parte da autoridade em seus escritos. As palavras de Agostinho
serviram de base para a instituição da Inquisição contra os albigenses, que
alteravam a ordem social do modo que o faziam os donatistas. A entrada dos
vândalos na África, oprimindo juntamente hereges e católicos, acabou com o
donatismo.
O 2° ponto que vamos estudar diz:
“Alguns anos depois, em 325 D.C. no Concílio de Niceia, é fundada,
oficialmente, a Igreja Católica”. Vamos estudar o que há de verdade nesta
afirmação. Tomaremos como referência histórica a Britannica, a Catholic
Encyclopedia, a História da Igreja, Volume I da BAC e a Patrística de
Johannes Quasten. Katholikos, do grego, significa universal, palavra que,
segundo os autores eclesiásticos da 2a centúria, distinguia a Igreja
cristã em geral, das comunidades locais; e também servia para distingui-la
de seitas heréticas ou cismáticas. No primeiro sentido o adjetivo foi
usado por Aristóteles e Políbio entre outros clássicos. Justino, mártir
(+165) fala da católica ressurreição, Tertuliano (+220) escreve sobre
a católica bondade divina e S. Ireneu (+202) sobre os quatro ventos
católicos. São palavras que hoje traduziríamos por ressurreição universal,
absoluta bondade divina e quatro ventos principais. Mas a combinação de
Igreja Católica é encontrada pela primeira vez em S. Ignácio de Antioquia
(+107) na sua carta aos de Esmirna(8): “Onde o bispo está, esteja também o
povo, como onde está Jesus, aí está a Igreja CATÓLICA”. Segundo alguns
autores a palavra deve interpretar-se como a única e só Igreja. A
Britannica interpreta católica como universal, única e a mesma, onde quer
que haja uma congregação cristã. O cânon de Muratori (c180) fala que
certos escritos heréticos não podem ser recebidos na Igreja Católica. Clemente
de Alexandria(+220) declara: “Nós dizemos que tanto em substância como em
aparência, tanto em origem como em desenvolvimento, a primitiva e Igreja
Católica é a única, em concordância, como ela faz, com a unidade da única
fé” (Stromata 7,17).
Destes escritos se deduz logicamente
que o termo católico era usado tecnicamente no início da terceira centúria
(um século antes de Niceia) para designar uma doutrina sã como oposta à
HERESIA, e uma unidade de organização como oposta ao ESQUISMA ou divisão
das seitas. Terminamos com S. Cipriano (c252). Sua obra mais extensa é
Sobre a unicidade da Igreja Católica e frequentemente encontramos em suas
obras frases como fé católica, unidade católica, regra católica, referidas
a uma ortodoxia como oposta à heresia. Kattenbusch, professor evangélico
de Giessen (Alemanha central), não duvida em admitir que, para Cipriano,
Católico e Romano são termos intercambiáveis. Mais: a palavra católica
algumas vezes foi usada como substantivo para substituir seu equivalente
Igreja Católica, como no fragmento Muratoriano e em Tertuliano. Terminamos
com palavras de S Cirilo de Jerusalém (c. 347): “Se por acaso tens que
pernoitar numa cidade, pergunta não só onde está a casa do Senhor,
– porque as seitas também chamam seus tugúrios casa do Senhor- não só onde
está a igreja, mas onde está a Igreja Católica. Porque este é o nome
peculiar do santo corpo, mãe de todos nós”. Para terminar em suas
catequeses: “A Igreja é chamada católica na base de sua extensão
universal, sua completa doutrina, sua adaptação a todas as necessidades
dos homens de toda classe, e de sua perfeição moral e espiritual”.
Igreja Católica em
Niceia: O Credo, atribuído ao
Concílio, rejeita os erros arianos sobre a temporalidade do Filho e a
diferença de essência do Pai, e termina com estas palavras: “a todos eles
a Católica e Apostólica igreja anatematiza”. Se estas palavras podem ser
consideradas uma adição posterior, não podemos dizer o mesmo do cânon 8,
em que referindo-se àqueles que a si mesmos se consideram Cataros
(limpos), quando retornarem à Católica e Apostólica Igreja…deverão
professar por escrito que observarão e seguirão os dogmas da Católica e
Apostólica Igreja. E fala não só dos dogmas da Igreja Católica, mas também
dos bispos ou presbíteros da Igreja Católica. Com estes exemplos basta
para que o leitor tenha uma ideia clara do assunto.
3° Ponto: “O Concílio de Niceia… presidido
por Constantino era composto pelos bispos, que eram nomeados pelo
Imperador e por outros que eram nomeados por líderes religiosos das
diversas comunidades”. Que existe de verdade nesta afirmação? Já temos
visto como Constantino só foi dono do Oriente no ano 324, ano anterior ao
Concílio. O Oriente, do qual procediam a maioria dos bispos, acabava de
sofrer uma perseguição sob Licínio, originada em 320, sendo esta uma das
causas da guerra entre os dois cunhados, que terminou com a batalha de
Andrianópolis e no ano seguinte com a morte de Licínio e seu filho em
Tessalônica. Do Ocidente, em que reinava Constantino na época, só 5 bispos
estiveram presentes. Tudo isso é completamente contrário à afirmação que
tentamos refutar.
Presidido por
Constantino: É verdade que foi
Constantino quem chamou os bispos para um concílio por medo que surgisse
uma “contenda não nascida de algum mandato importante da lei”. Por isso
chamou em carta Ario e Alexandro(seu bispo em Alexandria) a ter o mesmo
sentimento, e uma mesma comunhão, pois é indecoroso e contra lei que um
povo tão numeroso, povo de Deus, seja governado por seu bel prazer, comportando-se
ambos como êmulos que disputam por picuinhas e minúcias. Constantino tinha
uma experiência desagradável com os donatistas do norte da África, e daí
seu interesse em ter a paz e a concórdia. Também é verdade que esteve
presente na aula inaugural; que ele dirigiu um apelo aos bispos para
encontrar a unidade. Mas os debates e as conclusões do concílio foram
feitos pelos bispos de maneira livre, pois Constantino não votou nem usou
qualquer força para dirigir os votos dos padres consulares. Dos 300 bispos
em números redondos reunidos, 17 não estavam conformes em aceitar o credo.
Mas finalmente só três se negaram. A razão foi a palavra Homoousios,
apresentada por Constantino, devido à sua novidade e à interpretação dada
por Paulo de Samosata, tão materialista que tornava o Filho em essência
igual ao Pai, com parte da natureza comum, como um filho se assemelha ao
seu pai terreno. A natureza divina estaria dividida em duas: parte era do
pai e parte era do Filho. Vencidas as duas dificuldades, a maioria aprovou
o credo. É verdade que Constantino desterrou dois bispos
à Ilíria(Iugoslávia) junto com Ario e que os livros deste último foram
proibidos e mandados queimar por ordem do Imperador. Alguns anos após o
Concílio, Ario descobriu uma nova forma de interpretar o Homoousios e
apelou ao imperador. Pediu para ser readmitido na comunhão da Igreja, mas
esta última recusou. Seu apelo chegou ao imperador a quem sua irmã
Constância, moribunda no leito de morte, pediu por Ario e por isso
Constantino quis impor à Igreja uma readmissão de Ario, marcando uma data.
Enquanto esperava por essa reconciliação, forçada pelo imperador, Ario
sofreu uma indisposição e no reservado morreu por uma ruptura dos
intestinos. Grande parte desta História foi narrada por Eusébio, filo-ariano.
Mas vejamos o que
diz Atanásio na História dos Monges em 358: “Quando uma decisão da Igreja recebeu sua
autoridade do Imperador?” e “nunca os padres buscaram o consenso do
Imperador, nem o Imperador esteve ocupado com a Igreja”. Foram os
heréticos os que se apoiaram no Imperador. Podemos dizer, como conclusão,
que a igreja estava desejosa de aceitar a ajuda do Imperador, de ouvir o
que ele tinha a dizer, porém não podia aceitar o rol do imperador em
matéria de fé. Devemos lembrar que o critério sobre o credo que foi
chamado de católico, não foi o pensamento do Imperador, mas o que a
maioria pensava que era tradicional, a fé dos apóstolos transmitida e pela
qual muitos deles tinham dado seu sangue (eram “confessores” das
perseguições anteriores) e estavam dispostos a dar a sua vida pela sua fé.
Com os artigos anteriores temos visto
que a Igreja não foi chamada pela primeira vez de católica, nem fundada
por Constantino, nem seus bispos eram nomeados diretamente pelo imperador.
Mas vejamos outras peregrinas afirmações para saber a verdade. “O
concílio reconhece a deidade (sic) do homem da Galileia, embora essa
conclusão não tenha sido unânime. Os bispos que discordaram, foram
simplesmente perseguidos pelo Imperador Constantino”. Como temos visto,
dos 300 bispos(números redondos) só dois não concordaram. A afirmação “os
bispos que discordaram, foram simplesmente perseguidos pelo imperador
Constantino” é uma meia-verdade. Pela frase parece serem muitos os
discordantes e que a perseguição foi uma constante. Na realidade só dois
bispos foram punidos. A perseguição foi um exílio que na morte de
Constança (irmã de Constantino), poucos anos após o Concílio e vista uma
nova interpretação de Ario (Ario morre em 336), Constantino quer readmitir
o heresiarca. Outra afirmação é: “poderíamos dizer que Constantino foi seu
primeiro Papa. Como se vê claramente a Igreja Católica não foi fundada por
Pedro e está longe de ser a Igreja primitiva dos Apóstolos”. Porém sabemos
que os papas sempre foram bispos de Roma e Constantino era, na época de
Niceia, o Imperador residente no Oriente e cuja capital foi transferida de
Niceia para Constantinopla. no ano de 330… Por outra parte temos os nomes
dos bispos de Roma desde Pedro até Milciades, papa no tempo do Concílio de
Niceia. São no total 35 papas divididos por séculos em 4+ 9+ 15+4, dos
quais dois mártires e um antipapa (Hipólito).
Eis uma outra afirmação que
pretendemos rebater. Cito textualmente: “Os quatro evangelhos canônicos, que se
acredita terem sido inspirados pelo espírito Santo, não eram aceitos como tais
no início da igreja. O bispo de Lyon, Irineu, explica os pitorescos critérios
utilizados na escolha dos quatro evangelhos (reparem na fragilidade dos
argumentos…): O evangelho é a coluna da Igreja, a Igreja está espalhada por todo
o mundo, o mundo tem quatro regiões, e convém, portanto, que haja também quatro
evangelhos. O evangelho é o sopro do vento divino da vida para os homens, e
pois, como há quatro ventos cardeais, daí a necessidade de quatro evangelhos.
(…) O Verbo criador do Universo reina e brilha sobre os querubins, os querubins
têm quatro formas, eis porque o Verbo nos obsequiou com quatro evangelhos”. A
cita é textual, com os erros de gramática correspondentes.
Ainda temos mais uma outra versão
pitoresca, mas do lado espírita: “As versões sobre como se deu a separação
entre os evangelhos canônicos e apócrifos, durante o Concílio de Niceia no
ano 325 D.C, são também singulares. Uma das versões diz que estando os
bispos em oração, os evangelhos inspirados foram depositar-se no altar por
si só!!!…Uma outra versão informa que todos os evangelhos foram colocados
por sobre o altar, e os apócrifos caíram no chão… Uma terceira versão
afirma que o Espírito santo entrou no recinto do Concílio em forma de
pomba, através de uma vidraça (sem quebrá-la), e foi pousando no ombro
direito de cada bispo, cochichando nos ouvidos deles os evangelhos
inspirados…” Vamos refutar estas afirmações estudando a formação do cânon
tanto do AT como do NT.
LIVROS INSPIRADOS.
O CANON
O CANON: Como se formou a lista dos livros sagrados?
A palavra cânon significava em grego junco ou caniço. As varas desse
material eram usadas como réguas para medir e portanto a palavra veio
significar régua ou fixação de uma determinada matéria. Como se formou o
cânon ou se fixou os números dos escritos do Velho e Novo Testamento?. Não
entraremos com os livros do AT por eles não serem enumerados no artigo que
estamos refutando. Quem quiser ver a matéria pode clicar em newadvent.org/
na enciclopédia católica no artigo cânon. Vamos intentar averiguar a fonte
de semelhantes afirmações. Parece seja Voltaire no seu Dictionnaire
Philosophique na seção Conciles. Era o mesmo homem que afirmou: mente que
algo fica. Mas vejamos os fatos verdadeiros.
Tendo, pois, a palavra cânon o
significado de lista dos livros sagrados, escritos sob a inspiração do
Espírito Santo, vamos, através dos documentos históricos, ver quais e
quantos são esses livros, especialmente os do NT.
LIVROS INSPIRADOS:
O primeiro a reconhecer a inspiração
é o próprio Jesus segundo o que lemos em Mateus 4,4. Jesus usa o termo
técnico judaico da época: Gegraptai (está escrito) Não só de pão vive o
homem… de Dt 8,3. Na mesma passagem vemos outras citações: Salmos e de
novo Deuteronômio. Seguindo esta tradição estudaremos os primeiros
escritos dos padres apostólicos.
A DIDAQUÉ (90-120) -Da crença nos livros que podemos
chamar de Sagrados, está a frase da Didaque em XVI 7, (os errethe) como
“foi dito”: O Senhor virá e todos os santos com Ele de Zac 14,5
para imediatamente seguir com uma alusão a Mt 26, 64: Então o mundo virá o
Senhor vindo sobre as nuvens do céu.
S. IGNÁCIO DE
ANTIOQUIA (+ 107) – Fala de “Os gegraptai”
como está escrito; e cita uma frase dos Pr 18,17: O justo é acusador de si
mesmo. Tem também uma citação de Mt 10, 16 quando recomenda ser prudente
como a serpente e sem falsidade(simples) como a pomba.
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