Imagem de Jesus e apóstolos no alto da fachada da Basílica de São Pedro | Vatican News |
"A
Igreja não é mera associação de fiéis de Cristo, mas, por assim dizer, de uma
estrutura divina, que integra Deus: Cristo, como cabeça e o Espírito Santo como
alma, bem como todos os cristãos, elevados pelo batismo a uma ordem
sobrenatural, como membros. Em outras palavras, a Igreja é divina."
Jackson Erpen - Cidade do Vaticano
“Que
a Igreja é um corpo, ensinam-nos muitos passos da sagrada Escritura:
"Cristo, diz o Apóstolo, é a cabeça do corpo da Igreja" (Cl 1, 18).
Ora, se a Igreja é um corpo, deve necessariamente ser um todo sem divisão,
segundo aquela sentença de Paulo: "Nós, muitos, somos um só corpo em
Cristo" (Rm 12, 5). E não só deve ser um todo sem divisão, mas também algo
concreto e visível, como afirma nosso predecessor de feliz memória Leão XIII,
na encíclica "Satis cognitum" (...). O corpo requer também
multiplicidade de membros, que unidos entre si se auxiliem mutuamente. E como
no nosso corpo mortal, quando um membro sofre, todos os outros sofrem com ele,
e os sãos ajudam os doentes; assim também na Igreja os membros não vivem cada
um para si, mas socorrem-se e auxiliam-se uns aos outros, tanto para mútua
consolação, como para o crescimento progressivo de todo o Corpo. (CARTA
ENCÍCLICA MYSTICI CORPORIS n. 14-15)”
"A doutrina do Corpo Místico de Cristo, que é
a Igreja (cf. Cl 1, 24), recebida dos lábios do próprio
Redentor e que põe na devida luz o grande e nunca assaz celebrado benefício da
nossa íntima união com tão excelsa Cabeça, é de sua natureza tão grandiosa e
sublime que convida à contemplação todos aqueles a quem move o Espírito de
Deus; e, iluminando as suas inteligências, incita-os eficazmente a obras
salutares, consentâneas com a mesma doutrina." Assim começa a Carta
Encíclica Mystici Corporis do Papa Pio XII publicada em 29 de
junho de 1943.
Depois de "A Igreja vista como uma
continuidade e um todo", padre Gerson Schmidt* resgata
hoje o tema da Igreja como Corpo Místico:
"Na Primeira Carta aos Coríntios, São Paulo
compara a Igreja de Cristo a um Corpo. Põe Cristo como cabeça, o Espírito Santo
como alma, os cristãos batizados como membros desse corpo orgânico.
O filósofo, teólogo e canonista, Dom Dadeus Grings,
arcebispo emérito da Arquidiocese de Porto Alegre-RS, em seu livro “Igreja do
Diálogo Ecumênico”, afirma assim: “A consideração do Papa Pio XII, com a Encíclica Mystici
Corporis – a Igreja como Corpo Místico – tirou a
Igreja da teologia fundamental, como uma espécie de base racional do
embasamento da teologia, para elevá-la à categoria dogmática, como exigia o
artigo de fé (ou seja, o Credo que professamos). De fato, na profissão da fé
apostólica, se vê a Igreja na base da fé cristã: creio na Igreja” [1].
Portanto, Pio XII tirou a eclesiologia da teologia fundamental, para colocá-la
na teologia dogmática. A Igreja não é tema de argumentos racionais, mas da fé.
Cremos na Igreja conforme afirmamos na Profissão da Fé, desde tempos antigos.
“O Papa Pio XII abriu uma nova visão da Igreja. Na verdade, era de toda a
cristandade. Fazia parte dos artigos da fé cristã. Não por nada o Concílio de
Constantinopla, em 381, a apresenta sob quatro notas: “A Igreja de Cristo é
una, santa, católica e apostólica”. Assim passou para a História e se
desenvolveu, ao longo dos tempos. O século XX a retomou como Corpo Místico de
Cristo, na Teologia Sistemática”[2].
A Igreja não é mera associação de fiéis de Cristo,
mas, por assim dizer, de uma estrutura divina, que integra Deus: Cristo, como
cabeça e o Espírito Santo como alma, bem como todos os cristãos, elevados pelo
batismo a uma ordem sobrenatural, como membros. Em outras palavras, a Igreja é
divina.
“Surgiu uma nova eclesiologia. Não apenas está
atenta ao surgimento deste organismo vivo, mas elabora para a teologia,
principalmente, para a espiritualidade eclesial. Não basta apenas, crer na
Igreja. É preciso também assumi-la pela espiritualidade, de quem vive sua fé,
numa dimensão eclesial: somos Corpo Místico de Cristo”[3].
Nós somos Igreja. Um dos conceitos que o Concílio
Vaticano II em recuperado é que todo o batizado não só pertence à Igreja, mas é
membro ativo e protagonista do Reino. Antes a visão da Igreja foi muito
hierárquica, atribuindo a missão de evangelizar somente ao clero e aos
religiosos. Todo o batizado na verdade é um missionário. Cada um tem uma missão
específica dentro do Corpo Místico. A espiritualidade do corpo aponta para
isso. O importante no corpo não é ser olho para ver, nem ouvido para ouvir, nem
pés para andar, mas fazer parte e ser corpo para viver e gerar vida. O
importante é o todo, bem maior que a soma das partes. Cada membro tem sua
função e missão específica, de acordo com sua condição, idade, profissão,
carisma, ministério. “Assim aparece a maravilha do corpo, com seus membros,
tanto contemplativos como ativos. Na atuação de cada um está a espiritualidade
do todo”[4].
Dom Dadeus Grings ainda aponta a beleza dessa
analogia paulina da Igreja como um organismo vivo e comparada a um corpo
orgânico: “A curiosidade de conhecer todo e de assumir a própria
responsabilidade nele. Este corpo existe e nós nele. É vivo e atuante no mundo.
É preciso conhecê-lo como um todo, amá-lo como parte dele e colaborar com ele e
nele, para o bem da humanidade. Foi colocado exatamente no mundo para o bem de
todos, mesmo para os que não lhe pertencem. A humanidade inteira é beneficiada
com sua presença e atuação. Contemplamos esse corpo maravilhoso. Constitui uma
das grandes maravilhas do universo, com sua Cabeça, sua Alma e seus Membros.
Trata-se de uma beleza que extasia! Foi o que de mais precioso Deus colocou no
universo criado”"[5].
*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de
janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é
graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.
[1] GRINGS, Dadeus. “Igreja do Diálogo Ecumênico”. Evangraf, Porto Alegre, 2022, p.11.
[2] Idem, pg. 45.
[3] GRINGS, Dadeus. “Igreja do Diálogo Ecumênico”. Evangraf, Porto Alegre, 2022, p.46.
[4] Ibidem.
[5] Idem, 46-47.
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