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terça-feira, 24 de janeiro de 2023

Israel e Jordânia se unem para recuperar rio Jordão e mar Morto

Rio Jordão | Folha de São Paulo

Israel e Jordânia se unem para recuperar rio Jordão e mar Morto

Fundamentais nos ecossistemas do Oriente Médio, locais estão secando.

Por: Diogo Bercito - 19.jan.2023

Os governos de Israel e da Jordânia têm se aproximado nos últimos meses para enfrentar um dos grandes desafios ambientais de sua região.

Esses dois países —que no passado guerrearam— assinaram em novembro uma declaração conjunta para cooperarem na recuperação do rio Jordão. A assinatura aconteceu na cúpula do clima COP27, no Egito.

O rio Jordão está contaminado e vem sumindo. É, segundo a Bíblia, o cenário do batismo de Jesus, além de outros episódios centrais do livro. Turistas, em especial os religiosos, costumam visitá-lo para serem batizados e encher garrafinhas com essa água, de simbolismo tamanho.

Rio Jordão com o mar Morto, onde ele deságua, ao fundo, perto da cidade de Jericó (Cisjordânia) - Menahem Kahana - 14.out.2022/AFP

A importância do Jordão vai além da Bíblia, porém. O rio desce do mar da Galileia, no norte de Israel, e desemboca no mar Morto. É uma peça fundamental para os ecossistemas do Oriente Médio –uma das regiões do mundo mais afetadas pela mudança climática, segundo especialistas.

Isso sem mencionar a importância política. O rio Jordão passa pela Cisjordânia, um território que Israel ocupa desde 1967. Sua bacia inclui a Síria, em conflito com Israel, e também os palestinos, sob seu controle.

Segundo Elias Salameh, professor na Universidade da Jordânia e especialista no tema, todos os países que fazem parte da bacia do rio contribuíram —por exemplo, desviando água— à diminuição do fluxo do Jordão. Eram 1.400 milhões de metros cúbicos anuais nos anos 1960; o número caiu à taxa atual: de 100 milhões a 150 milhões de metros cúbicos anuais.

O incremento da atividade agrícola e da urbanização nos países da região foi, ainda, responsável pela poluição do Jordão com dejetos e componentes químicos. Ademais, a intensa atividade humana levou a um aumento "dramático", da salinidade do rio, na avaliação de Salameh.

O curso do rio Jordão afeta também o mar Morto, um ecossistema único e bastante frágil —onde turistas vão para flutuar na superfície, graças à excepcional composição salina da água. Segundo o professor Salameh, o nível desse mar baixou em quase 40 metros desde os anos 1970. O mar Morto corre o risco, assim, de fazer jus ao seu nome e realmente morrer.

A diminuição da superfície do mar Morto resulta em diversos fenômenos, como a diminuição da umidade do ar, afetando a vida ao redor. Crateras têm surgido ao redor da costa, com risco a assentamentos.

Formações salinas no sul do mar Morto, perto de Neve Zohar (Israel) - Gil Cohen-Magen - 9.jan.2023/AFP

O texto assinado por Israel e pela Jordânia inclui planos para aumentar o fluxo de água que vem do rio Jordão, limpá-lo, incentivar a agricultura sustentável na bacia e criar reservas ambientais em toda essa região.

Não está claro qual será o impacto imediato, no entanto, e há razões para ceticismo. Em primeiro lugar, porque o ministro israelense que firmou o acordo já não faz mais parte do governo. Em segundo, porque os palestinos —que vivem na bacia— não foram fizeram parte da conversa.

Ainda assim, a assinatura é um marco importante. "Significa que Israel e Jordânia entenderam as consequências do que está acontecendo", diz Yana Abu-Taleb, uma das diretoras da Eco Peace, ONG que conecta israelenses, jordanianos e palestinos para a proteção ambiental.

"Eles compreenderam que a mudança climática afeta todos os lados e que eles precisam cooperar", ela afirma, reforçando que "o ambiente não respeita fronteiras."

Para além do impacto ambiental, Abu-Taleb ressalta também a importância dos planos de recuperação do rio em termos econômicos. O texto prevê o desenvolvimento sustentável ao redor do Jordão, em especial nos territórios onde vivem jordanianos e palestinos.

Na visão de organizações como a Eco Peace, soluções ambientais como a recuperação do rio Jordão têm, inclusive, o potencial de promover a paz regional. "Ao reunir as partes para falar sobre a mudança climática, nós ajudamos a criar confiança entre elas. Só com confiança haverá paz."

Abu-Taleb diz, ainda, que a própria degradação do rio Jordão é uma das consequências dos conflitos e dos desentendimentos entre os países nessa região. "Não há cooperação, e é aí que o rio perde sua água. Os governos se apropriam há décadas do quanto podem, sem negociar. Agora estão enfrentando secas. Se a gente não colaborar, todos perdem."

Salameh diz algo parecido com a fala de Abu-Taleb. "Devido à situação delicada das fronteiras de diferentes países em conflito, as medidas adequadas não foram implementadas", afirma. "O rio Jordão virou um local de depósito para dejetos. E ninguém se sentiu responsável por ele."

O projeto Planeta em Transe é apoiado pela Open Society Foundations.

Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF