O falso drama dos pseudoescrupulosos | Presbíteros |
O falso drama dos pseudoescrupulosos
Estou preocupado. Ultimamente,
estão surgindo pessoas que, sem a devida preparação doutrinal e pastoral,
começam a estudar moral e acabam desenvolvendo transtornos obsessivos. Colegas
padres me relatam casos de falta de docilidade e mesmo de julgamento acerca de
bons sacerdotes a partir de critérios rigoristas. A situação é alarmante, pois
o único meio para sair deste problema é a obediência a experimentados e
criteriosos confessores. Mas essas pessoas acabam se erigindo em juízas de si
mesmas. Pretendo apresentar alguns apontamentos sobre isso.
Por Pe. José Eduardo Oliveira e
Silva
ESCLARECENDO
CONCEITOS EM TORNO DO ESCRÚPULO
Horror ao pecado. Esta é uma disposição habitual
em toda alma que busca a santidade. Fruto do dom temor de Deus, o qual, como
todos os dons do Espírito Santo, procede da caridade, pela qual Ele inabita em
nosso espírito, o horror ao pecado é uma consequência do nosso amor
sobrenatural por Deus, de modo que a tônica geral da vida cristã não é negativa
(ou seja, uma busca incessante para encontrar pecados), mas positiva (isto é, o
desejo de unir-se cada vez mais a Cristo pela fé e pela caridade, exercitadas
na oração).
Escrúpulo. A consciência escrupulosa é um
estado da mente em que está conjugada uma consciência delicadíssima com uma
incapacidade para a prudência, quer dizer, quanto mais se explica para a pessoa
um princípio moral, menos ela consegue entender. É um fenômeno muito raro. As
pessoas que o sofrem, em geral, são simples e dóceis, querendo verdadeiramente
encontrar um confessor criterioso e paciente ao qual obedeçam com toda a
confiança. O estudo da moral apenas perturba mais o escrupuloso, pois ele é
quase incapaz de prudência, não consegue realmente discernir.
Transtorno obsessivo-compulsivo. É uma psicopatologia que se
caracteriza por pensamentos, imagens ou impulsos recorrentes que trazem
ansiedade e perturbação. Pode causar uma espécie de escrúpulo, pois o doente,
com ideias fixas e contínuas acerca do pecado, acaba por se tornar maníaco em
vasculhar pecados antigos ou atuais. É bastante diferente do escrúpulo moral,
principalmente porque neste a pessoa se submete a um diretor com tranquilidade,
naquele a pessoa não consegue ficar tranquila para se confiar a ninguém, sua
mente está sempre perturbada. Um dos piores quadros se dá quando o doente
encontra alguém que, ao invés de encaminhar-lhe ao médico, alimenta a fixação
psíquica, justificando as suas preocupações. Em muitos casos, é necessário
tratamento psiquiátrico com medicação e psicoterapia, além da direção
espiritual e da confissão.
A ignorância presunçosa e o hobby dos princípios. Contudo, a maioria dos casos que estão em circulação não é nenhum dos anteriores. Trata-se apenas de sujeitos que mesclaram conhecimento aparente com arrogância espiritual: munidos de alguns princípios que não são capazes de manejar, aplicam-se a ser juízes de si mesmos e dos outros, tentando raciocinar nos termos destes princípios mal aprendidos e aplicá-los a qualquer ação que se lhes apresente. Levianos, acabam transformando numa espécie de hobby a análise de casos morais que decerto dariam debate entre moralistas sérios ou são em si insignificantes, importunando nas madrugadas a sacerdotes com perguntas pueris, tais como se é pecado pentear o cabelo de um modo ou se colocar aparelhos nos dentes é vaidade… E tudo em termos de “princípios”. A consequência desse “exercício” para quem não tem o devido traquejo moral é que, ao invés de terem uma consciência mais clara, vão se tornando cada dia mais confusos e, isso, sem o perceberem direito. Analisam ações a partir de princípios equivocados, aplicam errado os princípios que nem conhecem direito, subordinam princípios superiores a inferiores e terminam por se tornar impermeáveis a todo e qualquer bom senso.
Fonte: https://presbiteros.org.br/
Nenhum comentário:
Postar um comentário