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terça-feira, 17 de janeiro de 2023

MORAL: O falso drama dos pseudoescrupulosos (2/6)

O falso drama dos pseudoescrupulosos | Presbíteros

O falso drama dos pseudoescrupulosos

Por Pe. José Eduardo Oliveira e Silva

A CONFISSÃO E OS (PSEUDO) ESCRUPULOSOS

O que faz uma pessoa se apresentar com trinta páginas escritas em letra miúda, frente e verso, dizendo que quer fazer uma nova confissão geral, pois a que fez na última semana teria sido inválida? O que a faz, na semana seguinte, chegar com vinte novas folhas, do mesmo modo escritas, alegando serem apenas de pecados esquecidos?

De fato, não é o escrúpulo. É a ignorância presunçosa.

O escrúpulo caracteriza-se por um medo do pecado e pela desorientação de uma consciência flutuante, que necessita de ajuda para sair da insegurança, para entender a moralidade dos próprios atos.

As pessoas acima descritas são, ao contrário, munidas de muita segurança: querem confessar cada pecado cometido na vida passada e chegam a passar duas horas aos pés de um padre, muitas fazes fazendo leituras apressadas e até mesmo explicando e repetindo coisas já ditas.

Ora, tais comportamentos se devem apenas à falta de conhecimento da doutrina católica a respeito do modo de confessar-se.

O Concílio de Trento estabeleceu que a confissão dos pecados deve ser pela “espécie” e pelo “número” (De Sacramento Paenitentiae, cc. 7-8 in DS 1707-1708). A mesma referência é tomada na atual Instrução Geral para o Sacramento da Penitência, n. 7. Veja-se também o Catecismo da Igreja Católica, nn. 1456 e 1497).

Deixe-me dar um exemplo hipotético: “Padre, quando eu tinha 19 anos, eu me envolvi com uma moça e fui à sua casa, permaneci duas horas sozinho com ela… Então, começou a surgir um clima entre nós e ela começou a me seduzir. Daí etc. etc.”. Este modo de se acusar está completamente errado e é abusivo. Não interessa ao padre, no caso, um conto erótico. Bastaria dizer: “Cometi um pecado de fornicação (completa ou incompleta)”, esta é a espécie moral.

Estaria igualmente errado alguém confessar os seus pecados pelo “gênero” dos mesmos. Por exemplo, “pequei contra a castidade”. Quantas espécies de pecados contra a castidade existem? Adultério, masturbação, pornografia, fornicação, concubinato, atos homossexuais, etc. Muitos! É nas espécies que se deve confessar, não no gênero nem nos atos individuais.

O Concílio de Trento estabelece, também, que se deve mencionar as “circunstâncias” que podem mudar a espécie do ato. Por exemplo, se uma pessoa diz “padre, cantar é pecado?”, a resposta seria obviamente que “em si, não”. Contudo, se a pessoa cantasse uma música profana para atrapalhar um ato de culto, isso alteraria a espécie moral: a pessoa não estaria propriamente cantando, o culto não seria uma mera circunstância, pois, ao fazê-lo, estaria “interrompendo um ato de culto”, esta é espécie moral.

Portanto, as circunstâncias que interessam são apenas as relevantes para a determinação da espécie do ato. Por exemplo, se uma pessoa diz que cometeu fornicação, mas foi com uma pessoa consagrada, essa “circunstância” alteraria a moralidade do ato, pois, ao invés de cometer apenas uma fornicação, cometeria também um pecado de sacrilégio. No entanto, se isso aconteceu à meia-noite ou ao cantar do galo, estas já não são circunstâncias relevantes.

A distinção numérica, por sua vez, precisaria ser o quanto mais exata possível. Obviamente, isso nem sempre é fácil. No entanto, essa acusação pode ser tanto por ato individual quanto por período.

Exemplificando: seria tão correto dizer “eu disse dez mentiras” como dizer “durante os últimos cinco meses, eu disse cerca de uma mentira a cada quinze dias”. Aqui, mais uma vez, se a mentira, por exemplo, fosse para um padre dentro do sacramento da confissão, essa circunstância alteraria a moralidade do ato, pois não seria apenas uma mentira, mas um sacrilégio que invalidaria a confissão e se constituiria num pecado moral a mais.

Ou exemplo: “durante dez anos de minha vida, faltei todos os domingos à missa”. Pronto! O

pecado está confessado tanto na espécie quanto no número.

Quando uma pessoa confessa os pecados por espécie e por número não consegue encher facilmente tantas folhas… Isso é apenas fruto da ignorância presunçosa. Não é escrúpulo nem muito menos delicadeza de consciência. É tão somente ignorância.

Aconselho aos colegas padres que, em acontecendo tais coisas, mandem a pessoa de volta para casa, após darem essa explicação acima, a fim de que façam uma redução dos pecados à sua espécie e ao seu número. Deste modo, não cooperamos com a ignorância. Ao contrário, ajudamos essas pessoas, muitas vezes egoístas e inoportunas, a ganharem virtudes e a se corrigirem diante de Deus.

Fonte: https://presbiteros.org.br/

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF