Santo Antão viveu entre III e IV séculos, tendo morrido com mais de cem anos | Vatican Media |
"Ele
inspira o povo de Deus e, sobretudo os monges a viverem o amor a Deus, ao
próximo como a si mesmo. Nós somos chamados a viver como Santo Antão, ligados à
Deus, à Igreja e ao mundo e um dia carregamos a esperança na eternidade."
Por Dom Vital Corbellini, bispo de Marabá (PA)
A Igreja festeja no dia 17 de Janeiro, Santo Antão.
O conhecimento de sua vida deu-se através de Santo Atanásio, Bispo de
Alexandria, no Egito[1].
Seguindo a Jesus, ele é considerado pela comunidade eclesial, o pai dos monges,
sendo o inspirador de todo o movimento monacal. Ele viveu entre III e IV
séculos, devendo ter morrido com mais de cem anos.
A obra do bispo de Alexandria foi fundamental para
a orientação de todo o movimento monacal. O período das perseguições contra o
cristianismo estava acabando pelo Império romano e também pelo fato de que o
monaquismo estava iniciando tanto no Oriente como no Ocidente de modo que era
preciso apresentar um modelo de vida monacal para todas as pessoas que seguiam
essa forma de vida na Igreja e com o Senhor. É importante analisar alguns
pontos de Santo Antão como aquele que defendeu o Verbo de Deus diante do
arianismo, que negava a sua divindade. O monge anunciou a vida do Senhor,
sobretudo para o povo de Alexandria.
A sua vida em contínua retirada
Santo Antão, ou Antônio teve uma vida em continua
retirada. Sendo filho de pais ricos, abandonou as riquezas e foi se retirando
de seu lar, comunidade, e foi aos poucos morar nos desertos. Quando ele
participou de uma celebração eucarística de sua comunidade ao ouvir o evangelho
do jovem rico que pediu para Jesus o que ele faria de bom para ganhar a vida
eterna?! Jesus lhe disse que era para ele observar os mandamentos da Lei de
Deus e cumpri-los. Quando ele disse que estava observando os mandamentos, Jesus
lhe fez uma proposta mais radical no sentido da perfeição evangélica, para
vender os seus bens, dá-los aos pobres, tendo um tesouro nos céus e depois era
para ele vir e seguir a Jesus. Mas como o jovem era cheio de riquezas, foi para
casa triste (Mt 19,16-22). A partir desse evangelho, Antão assumiu a palavra de
Jesus no sentido de segui-lo e tomar o lugar daquele jovem. Ele foi abandonando
as suas coisas e foi se retirando aos poucos para seguir a Jesus Cristo.
O desejo pela solidão
Santo Antão ou Antônio foi anacoreta, uma pessoa
que vivia a solidão sem a vida comunitária. Os anacoretas viviam em lugares
desertos e também nas cidades. Além de ele ser o pai do monaquismo em geral,
Antão foi também o pai do monaquismo anacoreta, das pessoas que viviam
sozinhas. No deserto era ele uma pessoa dedicada à oração, ao trabalho e à
leitura da Sagrada Escritura. As pessoas falavam que ele sabia a Escritura de
cor. Ele trabalhava com as próprias mãos seguindo a palavra do apóstolo São
Paulo que quem não quisesse trabalhar não deveria comer (2 Ts 3,10). É
importante afirmar que o trabalho no monaquismo antigo visava prover as
próprias coisas para o sustento de suas vidas e também para ajudar em esmola os
pobres[2].
O enfrentamento com os espíritos maus
Santo Antão enfrentou os espíritos maus no deserto.
O deserto era um lugar para se encontrar com Deus, mas também para lutar contra
os espíritos malignos. Estes o insinuaram a abandonar a vida de ascese, à volta
para trás, o amor ao dinheiro, o desejo da glória, o prazer nas coisas. Tudo
isso era para fazê-lo renunciar à reta eleição. Mas Antão foi muito constante
em enfrentar os espíritos maus pela oração, pela unidade com o Senhor Jesus que
o seguia sempre mais no deserto. Como Santo Atanásio disse Antão pôs Cristo no
coração e meditando a nobreza que vem dele e sobre a espiritualidade da alma,
apagava as forças que vinham do demônio[3].
Antão venceu o demônio da impureza
O santo monge venceu o demônio da impureza que lhe
assaltavam os pensamentos. Ele tinha se apresentado como o amigo da impureza,
mas que Antão sempre o afastava pela oração, pelo encontro com o Senhor Jesus.
Antão se encorajou e alegre prosseguia o seu caminho. Ele dizia que o Senhor
era o seu socorro, de modo que era possível superar, desprezar os seus inimigos
(Sl 117,7)[4].
O valor da perseverança
Santo Antão pregava para todas as pessoas a
importância da perseverança, para desta forma unirem-se sempre mais a Deus e
aos irmãos e irmãs. A pessoa não abandona a vontade de ser fiel também no dia
atual, se ontem o foi de verdade. Jesus pediu de seus discípulos a perseverança
até o final das tribulações em vista da salvação (Mt 24,13). O monge santo tinha
presente a palavra de Paulo que diz que aquele que escolheu o bem, a paz, o
amor, Deus colabora com ele (Rm 8,28)[5].
Jesus venceu o espírito mau
Santo Antão tinha presente o Senhor que venceu as
tentações do ter, do poder e do prazer (Mt 4,1-10). A necessidade é a
realização do bem, da luta pela paz e pelo amor entre as pessoas, famílias e
povos. Assim não será necessário temer os espíritos maus, pela confiança em
Deus e pela caridade com as pessoas, sobretudo para com os pobres. Antão
acreditava nas palavras do Senhor quando mandou embora Satanás onde tinha
presente as palavra da Escritura que somente a Deus a pessoa adorará e só a ele
o servirá (Mt 4,10)[6].
O monge era considerado o substituto
do mártir
Com o fim das perseguições os monges iram no
deserto para enfrentar os espíritos maus e viverem o martírio da solidão, da
oração e das práticas de ascese, do jejum e outras privações. Antão teve esta
idéia que deixou a vida diária para ir ao deserto e viver uma vida de
santidade. Mas ele nunca deixou o seu contato com os fieis de Alexandria que
lhe dava consolo na perseguição de Maximino contra a Igreja. Antão desejava o
martírio. Como não foi possível ser mártir, ele serviu os confessores na fé,
como se estivesse preso por eles, e se consumia nesse serviço[7].
Santo Antão enfrentou o arianismo
Santo Antão foi uma pessoa muito imbuída pela graça
de Deus, pela unidade com o Senhor Jesus Cristo e com o Espírito Santo. Ele
como monge inspirado por Jesus Cristo saiu do deserto para enfrentar os arianos
e todo o sistema do arianismo. Ário negava a divindade do Verbo de Deus de modo
que ele foi condenado no Concílio de Nicéia em 325, quando este afirmou que o
Filho Jesus é Deus como o Pai é Deus, é Deus como o Espírito Santo é Deus; Ele
foi gerado desde sempre pelo Pai e é da mesma substância afastando desta forma
toda a negação de sua divindade que vinha do sistema ariano. A pedido dos
bispos e do povo cristão, Antão foi para Alexandria pregar para todos que o
Filho de Deus não era criatura e que não foi tirado do nada; Ele é o Verbo
eterno e a Sabedoria da substância do Pai. Era impiedade afirmar que teve um
tempo em que ele não existiu, idéia presente em Ário, mas que Antão recusava,
afirmando que o Filho estava sempre com o Pai. Era falsa a idéia ariana de que
se colocaria entre as criaturas o Criador, Jesus, uma vez que tudo foi feito
por meio dele (Jo 1,3)[8].
Ele é Criador e não criatura.
Antão era querido por todos
O povo se alegrava com Antão porque ele combatia a
heresia ariana, que negava a divindade do Verbo. Antão defendeu a sua
divindade. Os pagãos também desejavam ouvi-lo e vê-lo porque percebiam nele um
homem de Deus. Em Alexandria o Senhor fez por meio dele milagres na purificação
de espíritos maus. Muitas pessoas assumiram o cristianismo através de Antão,
porque ele os conduzia ao Senhor Jesus e à Igreja[9].
Santo Antão morreu perto do Mar Vermelho, aos 105
anos de idade, segundo o relato de Santo Atanásio[10].
O Senhor que o amava tornou-o célebre em toda a parte. Foi um homem do Senhor,
segundo o bispo de Alexandria, que desde a juventude até a idade avançada,
conservou igual ardor na ascese[11].
Ele foi conhecido em toda a parte não somente no Oriente, mas também no
Ocidente. Na verdade todos queriam saber a forma de sua vida monacal, porque o
movimento estava iniciando em toda a Igreja. Ele inspira o povo de Deus e,
sobretudo os monges a viverem o amor a Deus, ao próximo como a si mesmo. Nós
somos chamados a viver como Santo Antão, ligados à Deus, à Igreja e ao mundo e
um dia carregamos a esperança na eternidade.
[1] Cfr. Santo Atanásio. Sobre a vida e
conduta de Santo Antão. São Paulo, Paulus, 2002.
[2] Cfr. C. Noce. Il martirio, testimonianza
e spiritualità nei primi secoli. Roma, Studium, 1987.
[3] Cfr. Santo Atanásio. Sobre a vida e
conduta de Santo Antão, n.5.
[4] Cfr. Idem, n. 6.
[5] Cfr. Idem, n. 19.
[6] Cfr. Idem, n. 37.
[7] Cfr. Idem, n. 46.
[8] Cfr. Idem, 69.
[9] Cfr. Idem, n. 70.
[10] Cfr. Idem, n. 92.
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