30giorni.it |
Sem nós, não é possível a paz
Do Iraque e Afeganistão à crise entre Israel e Palestina, das relações com a Europa ao diálogo entre islã e cristianismo. O ponto de vista da República Islâmica do Irã em um artigo do vice-ministro do Exterior para a Europa
de Ali Ahani, vice-ministro do Exterior
A colaboração com a
Europa
As relações com a Europa remontam à antiguidade, sempre houve várias esferas de
colaboração, mesmo com altos e baixos. Atualmente são os comuns interesses
reais a solicitar-nos para que usemos todas as nossas potencialidades,
superando alguns pontos de vista políticos por parte europeia. Por exemplo, o
comércio. Alguns anos atrás o volume do comércio bilateral com a Europa
representava 60% das trocas comerciais totais iranianas, hoje é 40%. Os
europeus foram substituídos por outros. E se a Europa mantiver esta tendência,
os volumes serão reduzidos ainda mais. As trocas com a China, que antes
chegavam a 2 bilhões de dólares, agora chegam a 30 bilhões. Os empresários não
esperam.
Outro âmbito de colaboração é a energia. A Europa depende principalmente da
Rússia, e a União Europeia procura diversificar as fontes de provimentos. O Irã
é uma fonte de petróleo e gás com o qual a Europa pode contar, mesmo assim
ignora, por opção política. O projeto Nabucco [o transporte tubular que levará
gás da Ásia para a Europa, bypassando pelo Irã, ndr] demonstra
isso. Os próprios especialistas afirmam que preterir a grande fonte energética
de gás iraniano no futuro não dará margens de lucros ao Nabucco.
O diálogo com os europeus sempre foi vivo, em nível de direitos humanos, de
investimentos, de luta às drogas, de imigração, de meio ambiente. Hoje o dossiê
nuclear bloqueou tudo, ou pelo menos enfraqueceu-o muito.
Um olhar sobre a crise atual
Agora olhemos às crises em curso: Iraque, Afeganistão, Paquistão, processo de
paz entre Israel e Palestina. Áreas nas quais os Estados Unidos e os
governantes europeus têm dificuldade em encontrar uma medida.
São todas crises que queremos atenuar. Depois da ocupação americana do Iraque a
nossa posição foi logo clara: contra a invasão e a favor de um processo democrático
no país. Nós fomos os primeiros a reconhecer o Iraque democrático, apesar das
críticas de alguns países árabes que nos acusavam de colaborar com os Estados
Unidos, enquanto para nós era uma linha de princípio em favor da democracia.
Tivemos contatos com vários grupos presentes no país, favorecendo um governo de
coalizão nacional, afirmando também que as potências de ocupação devem deixar o
país o quanto antes. Felizmente o processo político foi para esta direção, e
com estas bases sempre apoiamos o governo iraquiano. Os problemas não
terminaram, mas a direção tomada pelo país está certa.
O Afeganistão tem a sua complexidade específica. Três fatores complicaram uma
crise já complexa: extremismo, terrorismo e droga. Fatores também
inter-relacionados. Depois de nove anos de ocupação militar pergunto-me se a
estabilidade e a segurança melhoraram. A minha resposta é negativa.
No que se refere à droga: antes da ocupação a produção era de 200 toneladas por
ano, no ano passado chegou-se a 7 mil toneladas, das quais mais de 90%
desembarcam na Europa. Às interrogações sobre as atividades de luta às drogas
os americanos respondiam que a sua presença tinha como função o antiterrorismo,
não antidroga. Evidentemente para eles não era um problema. Para a Europa sim.
Propusemos insistentemente aos europeus encaminhar uma colaboração para
bloquear o fluxo do ópio na fonte. Responderam-nos positivamente, mas nunca
prosseguiram no assunto.
O contexto afegão torna-se cada vez mais preocupante. O extremismo se acentua.
A nossa opinião é que a solução da crise afegã deve ser encontrada na esfera
regional. Os de fora não conhecem as raízes das crises, e apenas com militares
europeus e americanos a luta ao terrorismo não tem sucesso. Com efeito, nós
encaminhamos uma iniciativa de nível regional com o Afeganistão e o Paquistão,
contando com chefes de Estado e Ministros do Exterior, realizando várias
reuniões, e pretendemos intensificar estas conversas. Acreditamos que podemos
chegar a soluções concretas. O apoio da comunidade internacional, da ONU e dos
países europeus, poderia contribuir positivamente: são os nossos auspícios. E
certamente a Itália poderia ter um papel importante para os projetos comuns de
reconstrução do Afeganistão e a criação de empregos, para que no país seja criado
um ambiente econômico mais favorável.
Paralelamente pode-se treinar as forças afegãs de segurança, da polícia e do
exército: assim se resolve a crise.
O Irã tem 940 quilômetros de fronteira com o Afeganistão, em trinta anos
entraram no nosso país três milhões de refugiados, regulares e irregulares, e
nós sustentamos sozinhos o grande custo de acolhida para poder ajudá-los.
Atualmente há 330 mil crianças afegãs que estudam no Irã e 5 mil
universitários. Isso sem falar dos problemas sociais que criam no nosso país,
violências, homicídios...
Criar estabilidade no Afeganistão é nosso interesse nacional. Por isso estamos
abertos à colaboração com os europeus.
Na questão do Oriente Médio, até agora a União Europeia não teve um papel
determinante, é doador e espectador. Espera-se que depois do Tratado de Lisboa
possa encontrar uma colocação melhor como ator independente. O contexto
médio-oriental é complicado, houve muitos projetos de paz e pergunto-me porque
nenhum deles jamais deu frutos.
Uma das razões é o comportamento de Israel, que não acredita na paz e ignora as
resoluções das Nações Unidas, para não falar da questão das colônias e do
assédio de Gaza. Também neste caso quem projeta a paz não considerou as raízes
da crise, entre as quais há, em evidência, o destinos dos refugiados
palestinos, que devem poder voltar aos seus lugares de origem e decidir com
voto democrático o próprio futuro. Se isso acontecer, será um bom sinal para o
futuro do Oriente Médio. Não podemos ignorar os protagonistas concretos em campo.
Em Teerã sempre criticamos quando a União Europeia culpa o Hamas e as forças
palestinas, considerando-os terroristas e não interlocutores. Mas eles são os
verdadeiros protagonistas do cenário palestino, e qualquer projeto de paz deve
passar por eles.
Sobre a tentativa de paz do governo americano até agora estamos céticos. Como
pode o governo americano dar atenção adequada aos problemas se apoia as
posições de Israel e das lobby judaicas internas, em
particular sobre o tema da volta dos refugiados e da condição palestina em
geral? Considerando tudo isso, não se pode chegar a uma solução.
Nós pensamos assim, talvez estejamos errados, mas tento exprimir-me com
franqueza.
E agora falemos das relações com a Santa Sé. Dos meus encontros recentes com Sua Excelência Mamberti e o cardeal Tauran compreendi que há ótimas chances para uma colaboração. A visita do cardeal Tauran no Irã, para a 7ª Sessão do Encontro Inter-religioso entre Igreja Católica e Islã, é a prova disso. Com a Santa Sé partilhamos o parecer sobre importantes questões globais. Um dos problemas que aflige a humanidade é o afastamento da religião. Ambos notamos que aumenta a distância entre sociedade e religião, e que algumas vezes há fobia contra a religião, como no projeto daquele pastor americano que queria queimar os exemplares do Alcorão. A Santa Sé, na pessoa do cardeal Tauran, adotou uma clara posição de condenação, neutralizando a iniciativa deste senhor, enquanto, infelizmente, algumas autoridades europeias premiam personagens que ofendem o islã e a religião em geral. É um percurso perigoso. Para impedir tais fenômenos pede-se um compromisso comum. Nós compartilhamos a declaração final do Sínodo dos Bispos do Oriente Médio com relação ao juízo sobre a ocupação de terras alheias, e a necessidade de um desarmamento nuclear mundial.
Acolhemos favoravelmente o diálogo entre islã e cristianismo. As minorias religiosas devem ser respeitadas. Assim como esperamos que os direitos das minorias islâmicas na Europa sejam respeitados é do mesmo modo óbvio que sejam respeitadas também as minorias cristãs presentes no Oriente Médio e em outros países. Nós insistimos na convivência pacífica fundamentada no respeito: o Irã constitui um exemplo de convivência pacífica entre muçulmanos e cristãos. Estes últimos, assim como os judeus, gozam de total respeito e têm seus representantes no Parlamento, as suas igrejas e as suas sinagogas gozam da liberdade de culto. Isso deve ser válido em todos os lugares no mundo.
A questão da Turquia
Sabemos que alguns países europeus se opõem à adesão da Turquia à União Europeia. Devemos ser realistas. Sabemos que tal oposição tem motivações históricas que levam ao tempo dos otomanos... Porém, a realidade de hoje criou uma condição devido à qual a Turquia, ao invés, poderia tornar-se um Estado membro. Pergunta-se se isso seja do interesse da Europa. Certamente a presença da Turquia na União Europeia ajudará esta última a entender melhor o mundo islâmico. E, somando tudo, é do interesse da União Europeia. Apesar das reservas de alguns países.
Nenhum comentário:
Postar um comentário