A visita do Papa Francisco ao Sudão do Sul | Vatican News |
Hoje
mais da metade da população do Sudão do Sul é cristã, com predominância de
católicos, que representam 52% da população, seguidos por anglicanos,
presbiterianos e outras confissões protestantes, enquanto os ortodoxos (coptas,
etíopes e greco-ortodoxos) representam menos de 1% da população. Há também uma
presença consistente de seguidores de religiões tradicionais africanas, que
segundo algumas fontes seriam até mesmo predominantes.
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O Sudão do Sul tem uma população de cerca
13.794.000 de habitantes, dos quais cerca de 7.225.000 são católicos. As
Circunscrições Eclesiásticas no país são 7, com 124 paróquias, 781 centros
pastorais.
A Igreja no país africano é pastoreada por 10
bispos, 185 sacerdotes diocesanos, 115 sacerdotes religiosos (totalizando 300
sacerdotes). Os diáconos permanentes são 7, os religiosos não sacerdotes 35, as
religiosas professas 218, os membros de Institutos Seculares 3, os missionários
leigos 6 e os catequistas 3.756.
Em relação às vocações sacerdotais, os seminaristas
menores são 313 enquanto os maiores 189.
Já os centros de educação de propriedade e/ou
dirigidos por eclesiásticos e religiosos são: maternais e escolas primárias
202, médias e secundárias 33, superiores e universidades 7.
Os estudantes das escolas maternas e primárias, por
sua vez, são 83.098. Das escolas médias inferiores e secundárias 10.959, dos
institutos superiores e universidades 2.481.
Ademais, a Igreja administra 10 hospitais, 41
ambulatórios, 9 leprosários, 12 casas para idosos, inválidos e menores, 9
orfanatróficos e jardins da infância, 6 consultórios familiares, 1 centro
especial de educação ou reeducação social, além de outras 5 instituições.
As origens
A história do cristianismo no Sudão do Sul está
ligada à do Sudão, ao qual o jovem Estado africano se uniu até 2011. A primeira
evangelização deste território remonta ao século VI por obra do clero de
Bizâncio. A Igreja então se desenvolveu com os bispos que mais tarde passaram a
se submeter ao patriarca copta de Alexandria.
Com o colapso do reino cristão da Núbia no início
do século XIV seguiu-se o desaparecimento quase completo do cristianismo.
Apenas algumas comunidades franciscanas permaneceram na região. Em meados do
século XIX, começaram as primeiras novas tentativas de evangelização das
missões ocidentais, que no entanto fracassaram devido à malária e às difíceis
condições climáticas. Por outro lado, as tentativas dos Missionários
Combonianos do Coração de Jesus e das Irmãs Missionárias Pie Madri della
Nigrizia foram coroadas de sucesso, ainda que com inúmeras dificuldades, graças
à tenacidade do seu fundador, São Daniel Comboni (1831 -1881), a quem se deve o
nascimento da Igreja local. Também graças ao seu trabalho, entre 1901 e 1964, o
cristianismo experimentou um crescimento extraordinário no Sudão do Sul,
contribuindo para fortalecer a identidade dos sul-sudaneses em relação à
população árabe e muçulmana do norte.
A sua oposição às tentativas de islamização do Sul
promovidas pelo governo de Cartum após a independência do Sudão do domínio
anglo-egípcio (acompanhada de forte hostilidade aos missionários), alimentou os
impulsos secessionistas na origem das duas sangrentas guerras civis (1955 -
1972 e 1983-2005) desencadeadas na independência do Sudão do Sul em 2011.
A Igreja no Sudão do Sul independente
Hoje mais da metade da população do Sudão do Sul é
cristã, com predominância de católicos, que representam 52% da população,
seguidos por anglicanos, presbiterianos e outras confissões protestantes,
enquanto os ortodoxos (coptas, etíopes e greco-ortodoxos) representam menos de
1% da população. Há também uma presença consistente de seguidores de religiões
tradicionais africanas, que segundo algumas fontes seriam até mesmo
predominantes.
Com a independência do Sudão do Sul, a Igreja
Católica e as outras Igrejas puderam se reorganizar e dedicar-se mais
livremente às suas atividades pastorais. A Constituição reconhece
explicitamente a igualdade entre as confissões religiosas e a liberdade de
culto. Em mais de uma ocasião, os líderes políticos do Sudão do Sul independente
expressaram seu apreço pelo apoio das Igrejas à paz e à construção da nação,
elogiando sua contribuição para o crescimento humano, social e civil da
sociedade Sudanês do Sul. No entanto, não faltaram atritos e tentativas por
parte das autoridades sul-sudanesas de limitar a voz da Igreja quando esta não
lhe agradava, como aconteceu em 2014 com as políticas do país em relação à
guerra civil que eclodiu em 2013.
O empenho da Igreja pela paz e pelo
desenvolvimento do Sudão do Sul
O tema da paz continua a dominar a Igreja local
que, desde os tempos da luta pela independência do Sudão do Sul, sempre esteve
ao lado da população atormentada pela guerra. As Igrejas cristãs, que colaboram
no Conselho das Igrejas do Sudão do Sul (SSCC), são ainda hoje as únicas
instituições nacionais que trabalham seriamente pela reconciliação com o apoio
solidário das outras Igrejas africanas e no mundo e da Santa Sé.
Nestes anos, os bispos, missionários e outros
líderes cristãos não cessaram de denunciar a dramática situação humanitária
causada pela guerra e pela fome e foram feitos inúmeros apelos às partes em
conflito e à comunidade internacional pela paz e pela reconciliação. Entre
estes, recorda-se aquele lançado em julho de 2017 pelo presidente da
Conferência Episcopal (SCBC), Dom Edward Hiiboro Kussala, na mensagem divulgada
por ocasião do sexto aniversário da independência. No documento, o prelado
pedia um cessar-fogo total, apoio ao diálogo nacional proposto pelo presidente
Salva Kiir e de rezar incansavelmente pela paz. Também houve críticas da Igreja
aos líderes políticos por suas responsabilidades no conflito.
O esforço da comunidade cristã pela reconciliação
ocorre em vários níveis. Um é o da mediação, no qual as Igrejas locais
estiveram envolvidas desde os primeiros anos de vida do novo Estado. Em 2013, o
presidente Salva Kiir convocou o bispo emérito de Torit, Dom Paride Taban, e o
arcebispo anglicano Daniel Deng Bul para liderar um novo comitê encarregado de
promover o processo de reconciliação nacional. Nesses processos de mediação, as
Igrejas foram ativamente apoiadas pelas Igrejas do mundo. Basta pensar na
chamada "Iniciativa de Roma", o processo de paz paralelo promovido em
2020 pela Comunidade de Sant'Egidio para levar à mesa de negociações também os
movimentos de oposição que não são signatários do acordo de paz revitalizado de
2018.
Entre as iniciativas para promover a reconciliação,
destaca-se também o projeto Kit, um centro voltado para a formação dos cidadãos
em temas de paz e cura interior, promovido pelas congregações missionárias da
cidade de Rajaf e financiado pela Conferência Episcopal Italiana. Outro âmbito
que vê as Igrejas sudanesas comprometidas em primeira linha é a assistência
humanitária aos cerca de dois milhões de deslocados internos que fugiram da
violência nos últimos anos. Além da Igreja local, várias organizações
caritativas católicas estrangeiras estão envolvidas nesta obra. Entre estas
Catholic Relief Services (CRS) dos bispos estadunidenses,
a Caritas italiana, Médicos com a África CUAMM e várias
congregações religiosas. Digno de nota, a este respeito, o projeto
"Solidariedade com o Sudão do Sul" lançado em 2008 pela UISG (União
Internacional de Superiores Gerais) e pela USG (União de Superiores Gerais), a
pedido da Conferência Episcopal Sudanesa, e apoiado por mais de 270 institutos,
congregações, benfeitores e agências internacionais.
A estas iniciativas somam-se os muitos projetos de
desenvolvimento e promoção humana levados a cabo durante anos, no meio de mil
dificuldades, pelo clero, pelos missionários das várias congregações religiosas
presentes no país.
A pobreza, a falta de educação e oportunidades de
trabalho para os jovens e a situação difícil das crianças-soldados são, de
fato, os principais obstáculos à paz no Sudão do Sul.
A proximidade do Papa Francisco ao
povo sul-sudanês
Particular preocupação pelo martirizado povo
sul-sudanês também foi expressa em várias ocasiões pelo Papa Francisco, que nos
últimos anos lançou repetidos apelos pela paz, mas também várias iniciativas
pelo Sudão do Sul.
Entre essas, a especial vigília de oração pela paz
no Congo e no Sudão do Sul, por ele presidida na Basílica de São Pedro em 23 de
novembro de 2017 e o Dia de Oração convocado para 23 de fevereiro de 2018,
depois que sua viagem ao país foi adiada por motivos de segurança, juntamente
com o primaz anglicano inglês Justin Welby, que havia sido anunciada para 2017.
Digno de nota é o retiro espiritual convocado para
se realizar no Vaticano em 10 de abril de 2019 com os dois líderes rivais do
Sudão do Sul. Um encontro em que fica gravada na memória a imagem do Pontífice
beijando-lhes os pés.
Em 9 de julho de 2021, o Papa Francisco, o
arcebispo Welby, juntamente com o então moderador da Assembleia Geral da Igreja
da Escócia, Jim Wallace, escreveram uma mensagem conjunta aos líderes do Sudão
do Sul expressando satisfação com o progresso feito no processo de paz,
reafirmando a necessidade de realizar "maiores esforços" para que o
povo do Sudão do Sul possa "gozar plenamente dos frutos da
independência". A mensagem também confirmou sua intenção de visitar o
Sudão do Sul assim que as condições o permitissem.
A recordar, por fim, a iniciativa "O Papa pelo
Sudão do Sul" lançada no verão de 2017, uma contribuição econômica de
cerca de meio milhão de dólares para apoiar intervenções nos campos da saúde,
educação e agricultura, com as quais Francisco quis expressar concretamente a
caridade e proximidade com as populações da nação africana.
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