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quinta-feira, 2 de fevereiro de 2023

A sua paciência nos espera (3/3)

Rembrandt, O lava-pés, Amsterdã, Rijksmuseum |
30Giorni

Arquivo 30Dias – 03/2003

Luciani e a confissão

A sua paciência nos espera

“O Senhor é um pai que espera no portão. Que nos vê quando ainda estamos longe, e se enternece, e, correndo, vem se atirar ao nosso pescoço e nos beijar com ternura... Nosso pecado, então, transforma-se quase numa joia que podemos lhe dar de presente para prover-lhe a consolação de perdoar... Agimos como senhores, quando damos joias de presente. E não é derrota, mas uma vitória cheia de alegria deixar Deus vencer!”

 de Stefania Falasca


“Da quod iubes, iube quod vis”

(Santo Agostinho)
Em janeiro de 1965, Albino Luciani, bispo de Vitório Vêneto, pregou exercícios espirituais a sacerdotes de várias dioceses do Vêneto. Naqueles encontros, escolheu este tema: Historia salutis. Tomou como ponto de partida a parábola do Bom Samaritano: “O Bom Samaritano é Jesus”, disse, “o viajante desafortunado somos nós”. E começou com estas palavras: “História salutis significa isto: o Senhor corre atrás dos homens”. Foi um sucesso tão grande que o texto daqueles encontros foi depois publicado. Algumas partes se referem à graça. O Concílio de Trento, explica Luciani, diz: “‘Ninguém ouse aceitar a afirmação temerária, refutada também pelos Padres, de que os mandamentos de Deus são impossíveis de observar. Deus não ordena coisas impossíveis, mas, quando ordena, exorta a fazer o que for possível e a pedir-lhe aquilo de que não se for capaz, ao mesmo tempo em que ajuda a sê-lo’. Dizia Santo Agostinho: ‘Agnosce ergo gratiam eius cui debes quod non commisisti’, ‘reconhece, pois, a graça dAquele a quem deves o fato de não cometeres certos pecados’, e continuava: ‘Nullum est peccatum quod fecit homo, quod non possit facere et alter homo, si desit rector a quo factus est homo’, ‘não existe pecado cometido por homem que outro homem não possa cometer, se faltar a ajuda dAquele que fez o homem’”. Luciani então comentava: “O Paraíso é um pouco alto e nós custamos a chegar lá. Nós estamos na situação de uma menininha que viu as cerejas mas não as alcança; é preciso então que venha o pai, pegue-a nos braços e diga: pra cima, pequena, pra cima! Aí sim, quando ele a levanta, é que ela pode pegar e comer as cerejas. Nós somos assim: o Paraíso nos atrai, mas é alto demais para as nossas pobres forças. Ai de nós se o Senhor não vier com sua graça! O próprio Santo Agostinho repetia uma oração com extrema freqüência: ‘Da, Domine, quod iubes, et iube quod vis’. Senhor, eu não alcanço, dá-me fazer o que me ordenas; ordena-me o que quiseres, mas só depois de me dares a graça de fazê-lo. Tudo é possível com a graça de Deus. Precisamos da Sua graça. Portanto, deixem que agora lhes diga uma palavra sobre a oração”. E contou este episódio: “Padre Mac Nabb, famoso dominicano que pregava em Londres, dizia: ‘Quando estou no confessionário, eu me revisto realmente da paciência do Senhor. Seja o que for que me digam, nunca me sinto agitado: mesmo que sejam pecados horríveis. Digo: o Senhor perdoará, esta pessoa veio aqui, humilhou-se... Coragem, coragem... Há apenas uma exceção: quando chega alguém que diz ter negligenciado a oração. ‘Mas não rezou nenhum dia, mesmo?’. ‘Não, padre, não rezei’. ‘Ah’, ele diz, ‘é nessa hora que se pudesse eu passaria a mão pela janelinha e lhe daria com vontade umas belas bofetadas!’”. “Como é possível neste mundo”, retomou Luciani, “inclinados para o mal como somos, fracos como somos, não rezar? Não pedir a graça, a ajuda de Deus? Isso significa não ter mesmo conhecimento da realidade, não entender realmente nada. [...] Não dá nem para seguir em frente sem a oração, sem a confiança na graça de Deus. ‘Quero que peçais’, disse o próprio Jesus, ‘com insistência’ até. [...] ‘Quero que peçais.’ ‘Basta que peçais, basta terdes confiança, esperança.’ Omnia possibilia sunt credenti. ‘De minha parte tudo é possível, basta que tu tenhas fé’. Quantas vezes... Espero em Vós, porque sois infinitamente bom, reza o Ato de Esperança, ou seja: espero com certeza. ‘Esperar com certeza’, dizia Dante. A esperança não é facultativa, é obrigatória...”.
“Mas, nesse meio tempo, é a Sua paciência que nos espera”, retomou enfim Luciani. E, voltando ao início da Historia salutis: “Porque, vejam, é Ele que quer nos encontrar, e não desanima mesmo que fujamos: ‘Quero tentar de novo, uma, dez, mil vezes...’. Alguns pecadores não gostariam de tê-lo em sua casa. Pegariam até uma arma para matá-lo e não ouvi-lo mais falar. Não importa, Ele espera. Sempre. E nunca é tarde demais. É assim que ele é, é disso que ele é feito... é Pai. Um pai que espera no portão. Que nos vê quando ainda estamos longe, e se enternece, e, correndo, vem se atirar ao nosso pescoço e nos beijar com ternura... Nosso pecado, então, transforma-se quase numa jóia que podemos lhe dar de presente para prover-lhe a consolação de perdoar... Agimos como senhores, quando damos joias de presente. E não é derrota, mas uma vitória cheia de alegria deixar Deus vencer!”.

Fonte: http://www.30giorni.it/

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF