Rembrandt, O lava-pés, Amsterdã, Rijksmuseum | 30Giorni |
Arquivo 30Dias – 03/2003
Luciani e a confissão
A sua paciência nos espera
“O Senhor é um pai
que espera no portão. Que nos vê quando ainda estamos longe, e se enternece, e,
correndo, vem se atirar ao nosso pescoço e nos beijar com ternura... Nosso
pecado, então, transforma-se quase numa joia que podemos lhe dar de presente
para prover-lhe a consolação de perdoar... Agimos como senhores, quando damos
joias de presente. E não é derrota, mas uma vitória cheia de alegria deixar
Deus vencer!”
de Stefania Falasca
(Santo Agostinho)
Em janeiro de 1965, Albino Luciani, bispo de Vitório Vêneto, pregou exercícios
espirituais a sacerdotes de várias dioceses do Vêneto. Naqueles encontros,
escolheu este tema: Historia salutis. Tomou como ponto de partida a
parábola do Bom Samaritano: “O Bom Samaritano é Jesus”, disse, “o viajante
desafortunado somos nós”. E começou com estas palavras: “História salutis significa
isto: o Senhor corre atrás dos homens”. Foi um sucesso tão grande que o texto
daqueles encontros foi depois publicado. Algumas partes se referem à graça. O
Concílio de Trento, explica Luciani, diz: “‘Ninguém ouse aceitar a afirmação
temerária, refutada também pelos Padres, de que os mandamentos de Deus são
impossíveis de observar. Deus não ordena coisas impossíveis, mas, quando
ordena, exorta a fazer o que for possível e a pedir-lhe aquilo de que não se
for capaz, ao mesmo tempo em que ajuda a sê-lo’. Dizia Santo Agostinho:
‘Agnosce ergo gratiam eius cui debes quod non commisisti’, ‘reconhece, pois, a
graça dAquele a quem deves o fato de não cometeres certos pecados’, e
continuava: ‘Nullum est peccatum quod fecit homo, quod non possit facere et
alter homo, si desit rector a quo factus est homo’, ‘não existe pecado cometido
por homem que outro homem não possa cometer, se faltar a ajuda dAquele que fez
o homem’”. Luciani então comentava: “O Paraíso é um pouco alto e nós custamos a
chegar lá. Nós estamos na situação de uma menininha que viu as cerejas mas não
as alcança; é preciso então que venha o pai, pegue-a nos braços e diga: pra
cima, pequena, pra cima! Aí sim, quando ele a levanta, é que ela pode pegar e
comer as cerejas. Nós somos assim: o Paraíso nos atrai, mas é alto demais para
as nossas pobres forças. Ai de nós se o Senhor não vier com sua graça! O
próprio Santo Agostinho repetia uma oração com extrema freqüência: ‘Da, Domine,
quod iubes, et iube quod vis’. Senhor, eu não alcanço, dá-me fazer o que me
ordenas; ordena-me o que quiseres, mas só depois de me dares a graça de
fazê-lo. Tudo é possível com a graça de Deus. Precisamos da Sua graça.
Portanto, deixem que agora lhes diga uma palavra sobre a oração”. E contou este
episódio: “Padre Mac Nabb, famoso dominicano que pregava em Londres, dizia:
‘Quando estou no confessionário, eu me revisto realmente da paciência do
Senhor. Seja o que for que me digam, nunca me sinto agitado: mesmo que sejam
pecados horríveis. Digo: o Senhor perdoará, esta pessoa veio aqui,
humilhou-se... Coragem, coragem... Há apenas uma exceção: quando chega alguém
que diz ter negligenciado a oração. ‘Mas não rezou nenhum dia, mesmo?’. ‘Não,
padre, não rezei’. ‘Ah’, ele diz, ‘é nessa hora que se pudesse eu passaria a
mão pela janelinha e lhe daria com vontade umas belas bofetadas!’”. “Como é
possível neste mundo”, retomou Luciani, “inclinados para o mal como somos,
fracos como somos, não rezar? Não pedir a graça, a ajuda de Deus? Isso
significa não ter mesmo conhecimento da realidade, não entender realmente nada.
[...] Não dá nem para seguir em frente sem a oração, sem a confiança na graça
de Deus. ‘Quero que peçais’, disse o próprio Jesus, ‘com insistência’ até.
[...] ‘Quero que peçais.’ ‘Basta que peçais, basta terdes confiança,
esperança.’ Omnia possibilia sunt credenti. ‘De minha parte tudo é possível,
basta que tu tenhas fé’. Quantas vezes... Espero em Vós, porque sois
infinitamente bom, reza o Ato de Esperança, ou seja: espero com
certeza. ‘Esperar com certeza’, dizia Dante. A esperança não é facultativa, é
obrigatória...”.
“Mas, nesse meio tempo, é a Sua paciência que nos espera”, retomou enfim
Luciani. E, voltando ao início da Historia salutis: “Porque, vejam,
é Ele que quer nos encontrar, e não desanima mesmo que fujamos: ‘Quero tentar
de novo, uma, dez, mil vezes...’. Alguns pecadores não gostariam de tê-lo em
sua casa. Pegariam até uma arma para matá-lo e não ouvi-lo mais falar. Não
importa, Ele espera. Sempre. E nunca é tarde demais. É assim que ele é, é disso
que ele é feito... é Pai. Um pai que espera no portão. Que nos vê quando ainda estamos
longe, e se enternece, e, correndo, vem se atirar ao nosso pescoço e nos beijar
com ternura... Nosso pecado, então, transforma-se quase numa jóia que podemos
lhe dar de presente para prover-lhe a consolação de perdoar... Agimos como
senhores, quando damos joias de presente. E não é derrota, mas uma vitória
cheia de alegria deixar Deus vencer!”.
Fonte: http://www.30giorni.it/
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