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A VERDADEIRA LEI É O AMOR!
Dom
Eurico dos Santos Veloso
Arcebispo Emérito de Juiz de Fora (MG)
Jesus
nos convida a seguir o caminho dos seus mandamentos, pois ao nosso alcance
estão o bem e o mal, a felicidade e a infelicidade. A liturgia do 6º Domingo do
Tempo Comum garante-nos que Deus tem um projeto de salvação para que o homem
possa chegar à vida plena e propõe-nos uma reflexão sobre a atitude que devemos
assumir diante desse projeto.
Na
segunda leitura (1Cor 2,6-10), Paulo apresenta o projeto salvador de Deus
(aquilo que ele chama “sabedoria de Deus” ou “o mistério”). É um projeto que
Deus preparou desde sempre “para aqueles que o amam”, que esteve oculto aos
olhos dos homens, mas que Jesus Cristo revelou com a sua pessoa, as suas
palavras, os seus gestos e, sobretudo, com a sua morte na cruz (pois aí, no dom
total da vida, revelou-se aos homens a medida do amor de Deus e mostrou-se ao
homem o caminho que leva à realização plena). São Paulo afirma que o Evangelho
é sabedoria revelada aos “perfeitos”, isto é, às pessoas dóceis ao Espírito. As
contendas da comunidade do Corinto podem impedir a compreensão da sabedoria de
Deus. Os poderosos deste mundo são incapazes de compreender essa sabedoria,
pois se a tivessem compreendido, não teriam crucificado o autor dela.
A
primeira leitura (Eclo 15,16-21) recorda, no entanto, que o homem é livre para
escolher entre a proposta de Deus (que conduz à vida e à felicidade) e a
autossuficiência do próprio homem (que conduz, quase sempre, à morte e à
desgraça). Para ajudar o homem que escolhe a vida, Deus propõe “mandamentos”:
são os “sinais” com que Deus delimita o caminho que conduz à salvação. Conforme
a primeira leitura, Deus, em sua sabedoria, não mandou ninguém agir com
impiedade nem deu licença para pecar. No entanto, deixou o homem livre. Como
diante da água e do fogo, a pessoa pode escolher onde pousar a mão, assim pode
preferir a morte ou a vida, o bem ou o mal. A vida consiste em confiar em Deus
e observar seus mandamentos para ser guardados/preservados.
O
Evangelho (Mt 5,17-37) completa a reflexão, propondo a atitude de base com que
o homem deve abordar esse caminho balizado pelos “mandamentos”: não se trata
apenas de cumprir regras externas, no respeito estrito pela letra da lei, mas
trata-se de assumir uma verdadeira atitude interior de adesão a Deus e às suas
propostas, que tenha, depois, correspondência em todos os passos da vida.
Contemplamos, hoje, as quatro primeiras antíteses do Sermão da Montanha. Jesus
ensina a superar a justiça farisaica. Esta consistia em se prender nos mínimos
detalhes à Lei mosaica e às tradições humanas transmitidas pelos antepassados.
Jesus ensina e exorta a uma justiça maior. Fazer e observar a vontade de Deus –
justiça – é não matar fisicamente, mas também não matar pela ira. A vontade de
Deus é a paz e a reconciliação constante entre os irmãos. Fazer e observar a
vontade de Deus é não cometer adultério, nem no sentido estrito e próprio da
palavra, nem no coração com desejos maliciosos. Para isso, o discípulo fiel
evita toda circunstância e motivo de pecado: arranca a mão e o olho, isto é,
tira do alcance do coração, toda ocasião de pecado e perdição. Jesus ensina,
ainda, sobre o divórcio, que pode levar ao adultério e, por fim, exorta à
sinceridade. “Seja o vosso ‘sim’: ‘Sim”, e o vosso ‘não”: ‘Não”. Tudo o que for
além disso vem do Maligno!
A
insistência de Jesus na defesa da vivência das Escrituras (Mt 5,17-37), ou
seja, da Lei, exprime que, em vez da obsessão por “mandamento”, a verdadeira
religião se pauta na felicidade (bem-aventuranças), toca a existência e não se
fecha em um emaranhado de regras e imposições, distantes da relação com a vida.
A verdadeira religião humaniza e santifica.
Jesus
não relativiza a Lei, mas a aperfeiçoa no mais alto grau, fazendo o bem,
compadecendo-se, restituindo a dignidade dos fragilizados e caídos à beira do
caminho. Ele ofereceu o sabor do céu aos que, neste mundo, são obrigados a
experimentar o amargor do inferno. Jesus combateu todo tipo de escravidão e
sujeição. Jesus cumpriu a Lei de maneira radical. Quando ele fala aos
discípulos o “amai-vos” (Jo 13,34), esse ensinamento tem autoridade, porque
Jesus é o próprio amor.
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