Cardeal Okpaleke celebra missa na Igreja dos Santos Mártires de Uganda, em Roma - Foto: Daniel Ibañez/CNA |
ROMA, 16 Fev. 23 / 02:05 pm (ACI).- Após a Nigéria ser reconhecida como país com a maior frequência à missa no mundo, o cardeal mais jovem do país africano, Peter Ebere Okpaleke, contou quais são alguns dos segredos por trás da vibrante vida sacramental de seu país.
Um estudo recente mostrou que 94% dos 30 milhões de católicos da Nigéria dizem frequentar a missa uma ou mais vezes por semana, enquanto apenas 17% dos católicos nos EUA vão à missa semanalmente. No Brasil, segundo o estudo, esse número é de 8%.
O cardeal Peter Ebere Okpaleke, de 59 anos, que lidera a diocese de Ekwulobia, no sul da Nigéria, vê três fatores-chave por trás da participação ativa dos católicos no país.
Em entrevista à CNA, agência em inglês do Grupo ACI, quando o cardeal esteve em Roma este mês, Okpaleke disse acreditar que a visão de mundo tradicional da Nigéria, o papel da família e um senso de comunidade nas paróquias mantiveram os nigerianos próximos aos sacramentos geração após geração.
Consciência da presença de Deus
O cardeal Okpaleke disse que a sociedade nigeriana como um todo tem “uma visão tradicional” que reconhece a presença de Deus na vida e na sociedade e os nigerianos não perderam de vista como o mundo espiritual impregna a vida cotidiana.
“Há uma consciência geral do papel do divino na vida humana. É essa consciência que se traduz na frequência à missa para os católicos, que vêm à missa para encontrar Cristo na Eucaristia”, disse o cardeal.
Segundo ele, a alta frequência à missa “atravessa as faixas de renda” com pobres e ricos, instruídos e sem instrução, todos atraídos aos sacramentos através de um desejo compartilhado por Deus.
Em outras partes do mundo onde a secularização atrofiou o senso do divino de uma cultura, a Igreja pode se beneficiar ao enfatizar que é uma “porta de entrada” que satisfaz “a fome interior do ser humano de se relacionar com o divino”, disse o cardeal.
A família como “igreja doméstica”
Na Nigéria, há um forte senso de que a família é a “igreja doméstica”, um termo usado pelos primeiros Padres da Igreja e enfatizado pelo papa são João Paulo II na exortação apostólica Familiaris Consortio, de 1981.
“A família é vista como o principal lugar onde a fé é passada para a próxima geração”, disse Okpaleke.
“Embora as famílias estejam enfrentando muita pressão por causa da situação socioeconômica e cultural da Nigéria, a maioria das famílias resistiu a essa pressão, extraindo forças da fé para superar os desafios que lhes são lançados”, disse o cardeal.
Ele recomendou que os católicos de todo o mundo “prestem atenção pastoral à família como a Igreja doméstica, porque é onde a experiência de fé de todos é formada”.
Senso de comunidade
As paróquias e dioceses católicas na Nigéria proporcionam às pessoas um forte senso de “comunidade e pertencimento”.
“Em geral, as pessoas sentem um senso de comunidade na Igreja”, disse Okpaleke. O cardeal viu isso pessoalmente em sua própria diocese, que tem apenas 3 anos, onde as discussões do sínodo diocesano sobre a sinodalidade pareciam “sessões tradicionais nas praças das aldeias onde eram discutidos assuntos de interesse da comunidade”.
Okpaleke lidera a diocese de Ekwulobia, no sul da Nigéria, uma nova diocese criada em 2020.
Com a criação da diocese em meio à pandemia de COVID-19 e os desafios econômicos que se seguiram, o cardeal ficou emocionado ao ver como os católicos em sua diocese “fizeram e continuam a fazer sacrifícios felizes pelo crescimento de nossa diocese”.
Agora, ele está trabalhando para estabelecer um centro de retiro diocesano que também possa servir como um centro de formação contínua para padres e leigos católicos.
“A criação da diocese causou muita alegria e energia tanto aos sacerdotes quanto aos fiéis leigos. A nova diocese foi assumida por todos como seu projeto”, disse.
O que o mundo pode aprender com a Nigéria
O cardeal vê o alto comparecimento à missa da Nigéria como “algo para se alegrar e um desafio” para trabalhar na preservação “deste presente inestimável de Deus”.
Okpaleke reconheceu que a fé vibrante na Nigéria é em parte fruto dos missionários que levaram o Evangelho ao país.
“Houve um tempo em que a porcentagem de comparecimento à missa em algumas partes do mundo era de quase 100%. Isso mudou em muitos lugares. Portanto, é importante que a Igreja nessas áreas reflita sobre o que causou a mudança na visão de mundo que resultou na queda na frequência à missa”, disse o cardeal.
Atualmente, a Nigéria envia padres para servir à Igreja na Europa e nos EUA, por exemplo, onde o número de padres nos EUA caiu 70% entre 1970 e 2020.
Okpaleke, nomeado cardeal pelo papa Francisco em 2022, destacou o importante papel da família e das comunidades paroquiais no cultivo de uma fé viva.
“A Igreja como comunidade também deve se esforçar para incorporar o anseio dos seres humanos por amor, comunidade e pertencimento, a fim de anunciar Jesus com eficácia”, disse o cardeal nigeriano.
Fonte: https://www.acidigital.com/
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