As roupas acumuladas no deserto do Atacama | Vatican News |
Um
projeto no deserto do Atacama, no Chile, transforma o descarte da indústria
têxtil em painéis de isolamento térmico para casas populares. Uma “semente”
que, para germinar, necessita da contribuição de cada um de nós na tentativa de
preservação da Casa Comum. A solução é só uma: consumir menos.
Bianca Fraccalvieri – Vatican News
“A
terra, nossa casa, parece transformar-se cada vez mais num imenso depósito de
lixo. (Laudato Si’, 21)”
Esta frase do Papa Francisco estava se verificando
no deserto do Atacama, no Chile. E um lixão particular, feito de montanhas de
roupas.
Nos últimos anos, se popularizaram lojas de varejo
que vendem roupas de baixo custo. São tão baratas que na primeira mancha, rasgo
ou simplesmente porque não agradam mais se opta por jogá-las fora. Um fenômeno
conhecido como “fast fashion”. As roupas são fabricadas, consumidas e
descartadas num ritmo veloz. A pergunta é: onde vai parar tanta mercadoria e
com qual consequência para o meio ambiente?
Este descarte criou uma nova indústria, com
empresas especializadas na compra de roupa usada. Mas nem todos os países
legalizaram a importação deste material.
Na América Latina, o Chile constitui uma das poucas
exceções. As empresas selecionam as melhores peças para a revenda e o que não
pode ser reaproveitado vai parar em lixões ilegais. Dentro do Chile, a cidade
com os maiores benefícios tributários, também devido à sua posição geográfica –
perto do mar –, é Iquique, que é zona franca.
Mas antes que a situação pudesse degenerar, as
autoridades intervieram, limpando o maior lixão. Mas segundo dados da
Secretaria Regional Ministerial, existem ainda 52 “micro-depósitos” na região.
Os importadores se comprometeram a trazer tecidos de melhor qualidade para que
não sobre produto. Hoje, o decreto 189 do Ministério da Saúde proíbe o descarte
em lixões.
A reviravolta
Foi neste contexto que começou a atuar há oito anos
a empresa EcoFibra, cujo CEO é Franklin Zepeda-López. O trabalho consiste em
transformar o as roupas inutilizáveis em painéis de isolamento térmico para a
construção civil, na projetação de casas populares. Trata-se de uma espécie de
cobertor inserido dentro das paredes para isolar o frio ou o calor.
“No Chile, assim como em todo o mundo – explica o
CEO -, o isolamento térmico é para os ricos, porque é muito cara. Então a
qualidade de vida das pessoas mais pobres é baixa, porque passa muito frio no
inverno e muito calor no verão, sobretudo no norte do país.”
A ação de EcoFibra, portanto, tem um tríplice
impacto: primeiro no meio ambiente, porque atua praticamente limpando os
terrenos; depois no social, porque implica na melhoria da qualidade de vida das
pessoas em situação de vulnerabilidade; e, por fim, na economia, porque promove
a geração de empregos e aquece a atividade econômica da região, uma das mais
pobres do Chile.
Quando o trabalho começou, o empresário conta que
iam diretamente ao lixão separar as roupas manualmente. Agora, há um convênio
com o importador o caminhão descarrega diretamente na empresa.
Zepeda-López não tem dúvidas: consumir menos é a solução | Vatican News |
“Consumir menos é a solução”
Este é um modo de reduzir os danos ambientais, mas
não basta. Zepeda-López não tem dúvidas: “Consumir menos é a solução”.
“Devemos consumir menos, devemos nos conscientizar
de que cada compra de um presente vai chegar a um lixão ou será queimada e isso
está contaminando o nosso planeta, os nossos mares, as águas com os
microplásticos.”
Para o CEO, se trata de controlar um impulso “que
vem daqui, da cabeça, de ter o melhor presente para mostrar para seus amigos,
esta tentação do consumo”. Nisto, a Laudato Si’ de Francisco vem em nosso
auxílio:
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