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JACÓ, O
ABENÇOADO
A narrativa histórica de Jacó está em Gênesis, dos
capítulos 27 a 37, e não é fácil de ser interpretada, pois está cheia de
contradições.
Etimologicamente, Jacó significa “o segurará pelo
calcanhar”. Ele era filho de Isaac com Rebeca e sua mãe orquestrou um plano
para que tomasse o lugar de seu irmão gêmeo Esaú na progenitura e fosse
abençoado antes. No entanto, com a descoberta da fraude, Esaú decide matá-lo.
Para que não se cometesse mais um fratricídio a exemplo de Caim e Abel, sua mãe
pediu a Jacó que fugisse para a casa de Labão. No caminho, Jacó teve um sonho e
pela primeira vez encontrou o Senhor, que lhe dirigiu um chamado
especial: “Eu sou o Senhor, o Deus de Abraão, teu pai e o Deus de Isaac;
darei a ti e à tua descendência a terra em que estás deitado. Tua
posteridade será tão numerosa como os grãos de poeira no solo. Estou contigo,
para te guardar onde quer que fores, e te reconduzirei a esta terra, e não te
abandonarei sem ter cumprido o que te prometi” (Gn 28,13-15).
Antes desse sonho, Jacó não tinha nenhuma
importância, era apenas o neto de Abraão e estava inserido no contexto da
aliança e da promessa. Deus invadiu o sono de Jacó e se manifestou. Deus foi
misericordioso com Jacó mesmo nos conflitos com a família e foi preparando a
volta do patriarca para Canaã e a reconciliação com seu irmão, Esaú.
Jacó percorre um caminho de lutas e acertos. Na sua
noite escura de oração e encontro com o Senhor, entende que sua vocação é
formar o povo de Deus. Na mudança de nome de Jacó para Israel (“aquele que luta
com Deus”), assume a nova identidade a serviço do povo. A experiência de ser
abençoado é a garantia de que sua vida tem um sentido e sua missão é guiada por
aquele que o transformou.
Podemos dizer que Jacó representa o arquétipo das
pessoas que durante a vida lutam com Deus em busca de respostas e, mesmo nas
penas e revoltas, o Senhor não desistiu de amá-lo, assim como não nos deixa
sozinhos.
Deus tem um propósito para cada um de seus filhos e
fará de tudo para assegurar sua bênção, mesmo que a liberdade humana escolha
caminhos errados que afastam da graça. O Pai amoroso tratará de resgatar os
perdidos, dando-lhes uma nova identidade e a posse de um novo horizonte. Deus
vai trabalhando no coração, lapidando-o até o momento do encontro com o passado
e a reconciliação plena que culminará em outro ritmo existencial.
“Nós também, como Jacó, somos mendigos de bênçãos.
Mas hoje corremos o risco de perder a capacidade espiritual de compreender que
as grandes bênçãos se escondem dentro das feridas feitas na carne das nossas
relações. ‘Jacó chegou são e salvo à cidade de Siquém, na terra de Canaã (Gn
33,18)’” (Luigino Bruni, O perdão é luta abençoada).
As lutas de Jacó desencadearam a formação do povo
de Israel. Sua numerosa descendência (doze filhos) formou as doze tribos,
encerrando o tempo dos patriarcas bíblicos e abrindo o tempo das novas
comunidades.
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