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Maçonaria: um pouco de história
Em síntese: Nos países
latinos da Europa e da América a Maçonaria assumiu o qualificativo de
Irregular, porque abandonou suas tradições religiosas e se tornou antirreligiosa,
especialmente contrária à Igreja Católica. O artigo que se segue,
apresenta um pouco de história da perseguição movida pelos Governos maçons
contra a Igreja no México, onde morreram vários mártires, inclusive o Pe.
Agustin Pro s. J. Também no Brasil do tempo do Império a Maçonaria,
instalada no Governo, perseguiu os Bispos de Olinda-Recife e Belém do Pará,
tornando-se então benemérito D. Frei Vital, trazido de Olinda para o Rio, onde
esteve encarcerado por resistir às injunções do Governo maçônico em assuntos e
ordem interna da Igreja.
Reproduzimos, a seguir, artigo
sobre a Maçonaria publicado no jornal belohorizontino O LUTADOR, edição de 15 a
21 de junho de
1997, p. 8. São páginas que revelam aspectos pouco divulgados da
Maçonaria, aptos a explicar o difícil diálogo entre tal sociedade secreta e a
Igreja. Agradecemos à Redação daquele periódico o direito de reprodução.
“RELAÇÕES NADA CORDIAIS”
Tudo o que é secreto, desperta
interesse.
Tudo o que é proibido,
seduz. O que parece beneficente, se faz simpático.
Será por isso que tantos
católicos ainda têm dúvidas sobre a “condenação” da maçonaria e recebem com
desconfiança as advertências da Mãe-Igreja? Seja como for, o exame das
relações entre cristãos e maçons na História do Brasil, bem como no México,
traz à luz os sinais do ódio contra a Igreja de Jesus Cristo. Bispos
presos, padres fuzilados, centenas de leigos assassinados a sangue frio … Ao
menos naquele tempo e naquelas circunstâncias.
MATANDO O ESCORPIÃO
Que é a Maçonaria ? Uma
sociedade secreta. Qual o seu objetivo ? Tomar o poder. Como
provar essa afirmação ? Pelo exemplo mexicano. A 5 de fevereiro de
1917, foi aprovada a Constituição do México, maçônica, ainda em vigor no
México, após 80 anos. O presidente era Venustiano Corranza, também ele maçom,
como todos os demais que se elegeram até hoje.
A Constituição restringia a
liberdade religiosa, considerava crime o ensino religioso e a profissão dos
votos. Ao mesmo tempo, desapropriava sumariamente os bens eclesiásticos,
negando personalidade jurídica à Igreja e encerrando-a no âmbito das
sacristias. Os sacerdotes foram privados de seus direitos políticos
(votar e ser votado, herdar, possuir bens etc.), mas deviam prestar serviço
militar.
Além disso, o Governo determinava
o número de sacerdotes permitidos em cada localidade e decretava quem estava
habilitado ao ministério. Só mexicanos de nascimento podiam ser
sacerdotes. A partir de 1926, com a “Lei Calles”, Vera Cruz tinha um
sacerdote “autorizado” para cada 100 mil habitantes. Em Sonora, foram
fechadas todas as Igrejas. Os sacerdotes sumariamente eliminados.
Segundo Fidel Gonzáles, em artigo na revista “30 DIAS” (ago/93), “a violência
contra a Igreja era dirigida sobretudo pelas lojas maçônicas e por um de seus
grupos, o de Sonora, que alcançou com Calles (presidente de 1924 a 1928) o
controle total do poder”.
Álvaro Obregón, um dos
responsáveis diretos pelo assassinato do Pe. Agustin Pro (herói do conhecido
livro Despistou Mil Secretas), declarou em discurso público: “Quando uma
formiga nos pica, não procuramos a formiga para matá-la; pegamos um balde de
água fervente e a derramamos no formigueiro. Quando um escorpião nos
pica, nós o matamos; pegamos uma lanterna para procurá-lo e, se encontrarmos
outro escorpião, não o deixamos viver, porque não foi ele que nos picou; nós o
matamos, porque pode nos envenenar”.
UMA LEGIÃO DE MÁRTIRES
Em 1992, o Papa João Paulo II
beatificou Miguel Agustin Pro e os 22 sacerdotes mártires mexicanos. Seu crime
? Exercer secretamente o seu ministério, confessando os penitentes,
ungindo os enfermos e celebrando a Eucaristia. São mártires in odium
fidei (por ódio à fé). Mas também o foram in odium Ecclesiae, (por ódio à
Igreja), pois o objetivo do Governo maçom que mantinha o poder no México era
não só erradicar a Igreja Católica, mas eliminar da vida nacional o próprio
acontecimento cristão.
O episcopado tentou reagir desde
o início. Uma Carta Pastoral dos Bispos mexicanos apontava sem medo o
projeto governamental de “aniquilar o catolicismo”, entranhado na alma do
povo. O Governo reagiu com decretos que visavam a “mexicanizar” a Igreja,
tal como fizeram os países comunistas (China, Vietname etc), que favoreceram o
surgimento de uma “igreja nacional”, “patriótica”, sem ligação hierárquica com
Roma.
A 31 de julho de 1926, os Bispos
suspenderam todas as celebrações no país. Explodia a perseguição contra o
clero e as lideranças leigas. Lares invadidos, interrogatórios, tortura e
julgamento de fachada. Dezenas de milhares de católicos (50 mil homens,
segundo alguns historiadores) sublevaram-se e empunharam armas. Começava
a guerra dos “cristeros”, que terminaria com o acordo de paz em junho de
1929. Embora sofrendo com a falta de armas, os “cristeros” estavam em seu
apogeu e dominavam um vasto território. Os Bispos aceitaram um acordo com
o Governo (as circunstâncias não são claras até hoje) e pediram aos fiéis para
interromper a luta e cessar fogo. Tão logo as armas foram entregues,
começou a matança. A Igreja tinha sido traída.
Dolores Ortega, 85 anos,
remanescente de uma família de “cristeros” , declara: “Todos sabiam que era um
truque, que o Governo nunca respeitaria o seu compromisso. Todos o
sabiam, nós da Liga (para a Defesa da Liberdade Religiosa) e também os
“Cristeros”. Quando nos pediram para interromper a luta, sentimos uma dor
surda, uma angústia mais forte do que a provação que a guerra exigia”.
Mesmo assim, obedeciam por fidelidade …
“PRENDAM O BISPO !”
1872. Agonizava a monarquia
no Brasil. As forças republicanas engrossavam suas fileiras. No Rio
de Janeiro, o Visconde do Rio Branco – Grão-Mestre do Grande Oriente do Vale do
Lavradio! – preside ao Gabinete. Em clima de rivalidade, Saldanha Marinho
era o Grão-Mestre do Grande Oriente do Vale dos Beneditinos, ligado à maçonaria
francesa.
Aos 27 anos de Idade, Dom Vital é
nomeado Bispo de Olinda e toma posse a 24 de maio de 1872. Ele escreve:
“Até 1872, a Maçonaria no Brasil respeitou a religião católica. Introduziu-se
no clero, nos conventos, nos cabidos, nas confrarias. Mas quando teve um
Grão-Mestre à frente do Governo nacional, julgou oportuno atacar a Igreja” (citado
por Antônio Carlos Villaça, in História da Questão Religiosa no Brasil, pág.
7).
De fato, antes de chegar a
Olinda, o novo Bispo já sofria os ataques da imprensa maçônica. Entre
outras provocações, o anúncio de Missas para comemorar o aniversário de uma
loja maçônica. Dom vital impôs sua autoridade sobre o clero, proibindo
celebrações e atos interditados pelo Direito Canônico. Alguns padres
filiados à maçonaria obedeceram ao superior. Outros se calaram. Mas
houve rebeldes, que foram suspensos das ordens sacras.
Quando a suspensão atingiu o Deão
Joaquim Francisco de Faria (diretor do Ginásio Pernambucano, ex-vigário
capitular e chefe do Partido Maçônico Liberal!), este organizou uma reunião
popular e insuflou a multidão a atacar o Colégio S. Francisco Xavier, dos
jesuítas. Móveis quebrados, capela destruída, oito jesuítas
agredidos. A seguir, o jornal católico “União” é invadido e
queimado. Numa demonstração de força, a Maçonaria publicou a lista dos
maçons que eram sacerdotes ou membros de confrarias religiosas.
Quando D. Vital lançou o
interdito canônico sobre as confrarias envolvidas e se negou a obedecer à
intimação do Visconde do Rio Branco para o levantar, foi acusado perante o
Supremo Tribunal, preso e recolhido ao Arsenal da Marinha do Recife. Era
o dia 2 de janeiro de 1874. O Governo afastara previamente do tribunal
todos os juízes considerados católicos. Sem perder a firmeza e a
dignidade, Dom Vital foi condenado a quatro anos de prisão com trabalhos
forçados. A 12 de março, sua pena foi comutada em prisão simples, na
Fortaleza de S. João, no Rio de Janeiro.
PRINCÍPIOS INCOMPATÍVEIS
O tempo passa. Fica a memória. O
último documento da Igreja sobre o assunto foi produzido pela Sagrada
Congregação para a Doutrina da Fé, em 26/11/1983, e assinado pelo Cardeal
Joseph Ratizinger, que os maçons consideram como seu inimigo figadal. A
Declaração afirma: “Permanece imutável o parecer negativo da Igreja a respeito
das associações maçônicas, pois os seus princípios foram sempre considerados
inconciliáveis com a doutrina da Igreja, e por isso permanece proibida a
inscrição nelas. Os fiéis que pertencem às associações maçônicas, pois os
seus princípios foram sempre considerados inconciliáveis com a doutrina da
Igreja, e por isso permanece proibida a inscrição nelas. Os fiéis que
pertencem às associações maçônicas estão em estado de pecado grave, e não podem
aproximar-se da Sagrada Comunhão”.
Em 1993, a revista de teologia
Atualização (nºs 241 e 242) publicou excelente artigo de D. João Evangelista Martins
Terra, S. J., sobre a ação da Maçonaria no Brasil, que tem ricos subsídios para
os interessados no tema. Ali, são lembrados os motivos da
incompatibilidade entre catolicismo e maçonaria:
– O relativismo e o subjetivismo
maçônico negam todo dogma.
– Exclui-se o conhecimento
objetivo da verdade.
– A verdade divina é
inatingível, segundo os maçons.
– A maçonaria é “deísta”, seu
“deus” é neutro, impessoal, nada parecido com o Pai e Senhor dos cristãos.
– Não se admite nenhuma
“revelação” de Deus.
– O conceito maçônico de
“tolerância” rejeita o magistério da Igreja.
– Não há lugar para a ação da
graça divina no crescimento moral do homem.
– O maçom assume compromissos
secretos, para a vida e para a morte, incompatíveis com a liberdade cristã.
Isto não significa que todos os
maçons brasileiros tenham esses sentimentos anticlericais, anti-Igreja,
anticristianismo. Muitos são elementos de boa vontade, atraídos para a
maçonaria pela camaradagem, o que parece solidariedade, filantropia.
Muitos fazem número, dão prestígio à Loja. Mas não sabem todos os
segredos. Não entendem a filosofia maçônica. É a esses que a Igreja
quer esclarecer”.
D. Estevão Bettencourt, OSB
Nº 425 – Ano: 1997 – pág. 467
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