Filippo Monteforte | AFP |
Segundo o Pontífice, as crises que afetam muitas famílias hoje vêm de uma “ignorância prática – pessoal e coletiva – sobre o casamento”.
“O matrimônio, segundo a Revelação cristã, não é uma cerimônia ou um acontecimento social, não é uma formalidade nem um ideal abstrato”, mas sim um “vínculo permanente […] de amor”. Essas foram as palavras do Papa Francisco em um discurso de 27 de janeiro de 2023. Em audiência com funcionários do Tribunal da Rota Romana, o tribunal de apelação da Santa Sé que lida notadamente com casos de nulidade matrimonial, o Pontífice sublinhou a “forte necessidade de redescobrir o significado e o valor” deste sacramento.
Segundo ele, as crises que afetam muitas famílias hoje vêm de uma “ignorância prática – pessoal e coletiva – sobre o casamento”.
“Poderíamos nos perguntar: como é possível que haja uma união tão abrangente entre um homem e uma mulher, uma união fiel e eterna, da qual nasce uma nova família? Como isso é possível, considerando os limites e a fragilidade do ser humano?”
Tendo em conta as questões que nos possam surgir, o Papa continuou a respondê-las e sublinhou que o casamento se baseia num amor divino e que até mesmo uma união com muitos fracassos pode fazer parte do desígnio de Deus para as nossas vidas.
Vínculo indissolúvel baseado no amor divino
O Pontífice argentino destacou que os noivos decidem livremente dar vida à sua união através do casamento. Entretanto é “só o Espírito Santo” que pode fazer daquele homem e daquela mulher uma “existência única”.
Ele explicou que Cristo “entra na vida dos cristãos casados por meio do sacramento do matrimônio” e, que “o que Deus uniu, nenhum ser humano deve separar” (Mateus, 19,6).
O vínculo, que é a “realidade permanente do matrimônio”, precisa ser redescoberto, insistiu o Pontífice. Ele reconheceu que podemos ver esse tipo de vínculo como “uma imposição externa, um fardo”.
Na realidade, porém, este “vínculo de amor” é “um dom divino que é a fonte da verdadeira liberdade e que preserva a vida matrimonial”.
Francisco reconheceu que podemos encarar “esta bela visão” como “utópica”, pois ela não leva em conta a fragilidade humana e a volatilidade dos sentimentos. No entanto, o Papa sublinhou que não é qualquer tipo de amor que está na base de um vínculo matrimonial. O amor conjugal não é apenas “sentimental” ou para “satisfações egoístas”.
Para Francisco, “o amor matrimonial é inseparável do próprio matrimônio, no qual o amor humano, frágil e limitado, se encontra com o amor divino, sempre fiel e misericordioso”.
O Santo Padre ainda explicou que o amor matrimonial “é um dom confiado à liberdade [dos esposos], com os seus limites e os seus lapsos, de modo que o amor entre esposos necessita de purificação e amadurecimento contínuos, compreensão recíproca e perdão. […] As crises ocultas não se resolvem na ocultação, mas no perdão mútuo”.
Até um casamento imperfeito é bom – e faz parte do plano de Deus
Tendo explicado o forte vínculo divino que deve estar na base de qualquer casamento, e deve ajudar homens e mulheres a superar suas dificuldades, o Papa também enfatizou que não se trata de pensar que as coisas serão perfeitas.
“O casamento não deve ser idealizado, como se só existisse onde não existem problemas. O desígnio de Deus, colocado em nossas mãos, sempre se realiza de maneira imperfeita”, explicou Francisco ao fazer referência à exortação apostólica Amoris Laetitia:
“A presença do Senhor habita nas famílias reais e concretas, com todas as suas dificuldades e lutas cotidianas, alegrias e esperanças. Viver em família torna difícil para nós fingir ou mentir; não podemos nos esconder atrás de uma máscara. Se aquela autenticidade é inspirada pelo amor, então o Senhor reina ali, com sua alegria e sua paz”.
Por fim, o Papa afirmou que o matrimônio é “um bem de valor extraordinário para todos: para os próprios esposos, para seus filhos, para todas as famílias com as quais se relacionam, para toda a Igreja, para toda a humanidade. É um bem que se difunde, que atrai os jovens a responder com alegria à vocação matrimonial, que conforta e vivifica continuamente os esposos, que produz muitos e diversos frutos na comunhão eclesial e na sociedade civil”.
O Papel da Igreja junto aos casais
Francisco também pediu à Igreja que apoie os casais antes e depois do sacramento do matrimônio, a fim de ajudá-los a “aprofundar o amor, mas também a superar problemas e dificuldades”.
“Um recurso fundamental para enfrentar e superar as crises é renovar a consciência do dom recebido no sacramento do matrimônio, dom irrevogável, fonte de graça com a qual sempre podemos contar. […] Assim a fragilidade, que sempre permanece e também acompanha a vida conjugal, não levará à ruptura, graças à força do Espírito Santo”, conclui o Papa.
Fonte: https://pt.aleteia.org/
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