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Como pode o ser humano (finito) ver a Deus (infinito) face a face? Onde fica o céu?
É verdade de fé que “existe o paraíso, ou vida eterna, no qual os justos participam eternamente da bem-aventurança eterna” (Bernardo Bartmann. Teologia dogmática. vol. 3. São Paulo: Paulinas, 1962, p. 425).
A definição de Bartmann é deveras importante, mas cabe dizer, logo de início, que a fé na vida eterna é tão presente (de um ou de outro modo), em todos os seres humanos de todos os tempos, que “a Igreja jamais teve que combater heresias relacionadas com o paraíso” (Bartmann. Op. cit., p. 425; cf. Curso sobre problemas de fé e moral. Rio de Janeiro: Mater Ecclesiae, 2007, p. 129-130). Contudo, nem por isso o Magistério deixou de oferecer, à luz da Escritura (cf. Mt 5,8; 1Cor 13,12; 1Jo 3,1-2; 2Cor 5,6-8; Lc 14,16-24; Mt 25,1-12; 22,1-14; Lc 12,37; 13,29; 23,43; Ap 21-22), sua doutrina sobre o céu.
Diz o Catecismo da Igreja Católica: “Os que morrerem na graça e na amizade de Deus e estiverem perfeitamente purificados, viverão para sempre com Cristo. Serão para sempre semelhantes a Deus, porque O verão ‘tal como Ele é’ (1Jo 3,2), ‘face a face’ (1Cor 13,12)” (n. 1023). O mesmo parágrafo cita a Constituição Apostólica BenedictusDeus, do Papa Bento XII, datada de 1336, a definir: todos aqueles que morrem totalmente purificados de seus pecados “mesmo antes de ressuscitarem em seus corpos e do Juízo universal […], estiveram, estão e estarão no céu, no Reino dos céus e no paraíso celeste, com Cristo, na companhia dos santos anjos. Desde a paixão e a morte de nosso Senhor Jesus Cristo, essas almas viram e veem a essência divina com uma visão intuitiva e face a face, sem a mediação de nenhuma criatura”. Eis a essência do céu: a visão de Deus face a face como jamais imaginada neste mundo (cf. 1Cor 2,9); a entrada e a permanência para sempre no gozo de nosso Senhor (cf. Mt 25,23).
Pergunta-se então: onde fica o céu? — Bartmann diz que “a essa questão não se pode dar nenhuma resposta” (Op. cit., p. 434). Afinal, “segundo a fé, o paraíso está onde a alma goza da bem-aventurança, que consiste na visão de Deus e da participação do Ser e da vida de Deus” (idem, p. 438). Correto! A participação na vida grandiosa de Deus começa neste mundo, conforme escreve Dom Estêvão Bettencourt, OSB: “Para o cristão, a futura visão de Deus já tem seu fundamento nos dons que o Batismo lhe comunicou e que nele vão desabrochando durante esta vida; a visão beatífica não é senão a consumação de uma caminhada iniciada na terra. Com efeito, ainda aqui, o cristão, em estado de graça, participa da vida divina; possui dentro de si o princípio que o habilita a ver a Deus como Deus vê a si mesmo” (Curso de Escatologia. Rio de Janeiro: Mater Ecclesiae, 1993, p. 43). Eis que, já neste vale de lágrimas, “o banquete eucarístico é uma antecipação da plenitude eterna na comunidade de amor entre Cristo e os unidos a ele” (Michel Schmaus. Afé da Igreja. vol. 6. Petrópolis: Vozes, 1981, p. 232).
Questiona-se o seguinte: como pode o ser humano (finito) ver a Deus (infinito) face a face? – Respondemos que para a visão de Deus face a face, após a morte, no céu, é preciso que o mesmo Deus fortaleça o intelecto dos justos com a infusão da chamada luz da glória (lumen gloriae). Ela, enquanto espiritual e divina, faz a mente como que se dilatar a fim de receber em si a imensidão de Deus (cf. Reginald Garrigou-Lagrange. O homem e a eternidade. São Paulo: Flamboyant, 1959, p. 265-266).
Certo é, porém, que essa visão de Deus, no céu, supõe graus diversos (cf. Jo 14,2), segundo o amor a Ele com o qual a alma deixou este mundo. Aquela que mais amou mais será recompensada. Todavia, cada uma tem – dentro da sua capacidade de amor – a visão total de Deus uno e trino; ou seja, vê a Deus por inteiro, mas não de modo exaustivo. Afinal, a grandeza divina (o maior) não pode, por lógica, caber na criatura espiritual (o menor). Assim, Deus, embora visto em sua totalidade, será sempre novo à alma eleita, o que desperta a constante adoração (cf. Ap 4,9-11).
A alma eleita vê, em Deus, tudo o que diz respeito a ela (parentes, amigos e suas necessidades) e intercede sempre nessas intenções (cf. Cursode Escatologia, p. 39-40).
Louvemos, pois, a Deus por nos chamar à vida divina com Ele e ainda nos dar os meios para tal, sobretudo o Batismo, a Penitência e a Eucaristia.
Fonte: https://pt.aleteia.org/
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