O cristianismo e as religiões | Vecteezy |
COMISSÃO TEOLÓGICA INTERNACIONAL
O CRISTIANISMO E AS RELIGIÕES
(1997)
II. PRESSUPOSTOS TEOLÓGICOS
FUNDAMENTAIS
27. O precedente status quaestionis mostrou como as
diferentes aproximações à teologia das religiões e ao valor salvífico dessas
religiões dependem em grande medida do que se pense sobre a vontade salvífica
universal de Deus Pai, a quem o Novo Testamento atribui a iniciativa da
salvação, a única mediação de Cristo, a universalidade da ação do Espírito
Santo e sua relação com Jesus, a função da Igreja como sacramento universal de
salvação. A resposta às perguntas levantadas requer uma breve reflexão sobre
essas questões teológicas fundamentais.
II. 1. A iniciativa do Pai na salvação
28. Somente à luz do desígnio divino de salvação dos homens, que não
conhece fronteiras de povos nem raças, tem sentido tratar o problema da
teologia das religiões. O Deus que quer salvar a todos é o Pai de nosso Senhor
Jesus Cristo. O desígnio de salvação em Cristo precede à criação do mundo (cf.
Ef 1,3-10) e realiza-se com o envio do Filho ao mundo, prova do amor infinito e
da ternura que o Pai tem pela humanidade (cf. Jo 3,16-17; l Jo 4,9-10 etc).
Esse amor de Deus chega até a "entrega" de Cristo à morte pela
salvação dos homens e para a reconciliação do mundo (cf. Rm 5,8-11; 8,3.32; 2
Cor 5,18-19 etc). A paternidade de Deus, que em geral no Novo Testamento se
relaciona com a fé em Jesus, abre-se a perspectivas mais amplas em algumas
passagens (cf. Ef 3,14-15; 4,6). Deus o é dos judeus e dos gentios (cf. Rm
3,29). A salvação de Deus, que é Jesus, se apresenta a todas as nações (cf. Lc
2,30; 3,6; At 28,28).
29. A iniciativa do Pai na salvação é afirmada em 1 João 4,14: "O
Pai enviou seu Filho como salvador do mundo". Deus, "o Pai, de quem
tudo procede" (1 Cor 8,6), é a origem da obra de salvarão realizada por
Cristo. O título de "Salvador", com o qual Cristo é freqüentemente
nomeado (cf. Lc 2,11; Jo 4,42; At 5,31 etc), é dado com prioridade a Deus em
alguns escritos do Novo Testamento (cf. 1 Tm 1,1; 2,3; 4,10; Tt 1,3; 2,10; 3,4;
Jd 25), sem que por isso se o exclua de Cristo (cf. Tt 1,4; 2,13; 3,6). Segundo
1 Timóteo 2,3-4, "Deus, nosso Salvador (...), quer que todos os homens se
salvem e cheguem ao conhecimento da verdade". A vontade salvífica não
conhece restrições, mas vai unida ao desejo de que os homens conheçam a
verdade, ou seja, adiram à fé (cf. 1 Tm 4,10, Deus é "Salvador de todos os
homens, mormente dos crentes"). Essa vontade de salvação tem portanto,
como conseqüência, a necessidade do anúncio. Ademais, está ligada à única
mediação de Cristo (cf. L Tm 2,5-6), à qual nos referiremos a seguir.
30. Deus Pai é ao mesmo tempo o termo para o qual tudo caminha. O fim
último da ação criadora e salvadora se realizará quando todas as coisas tiverem
sido submetidas ao Filho; "então o próprio Filho será submetido Aquele que
tudo lhe submeteu, para que Deus seja tudo em todos" (1 Cor 15,28).
31. O Antigo Testamento já conhece alguma prefiguração dessa
universalidade que só em Cristo se revelará plenamente. Todos os homens, sem
exceção, foram criados à imagem e semelhança de Deus (cf. Gn l,26s; 9,6); dado
que no Novo Testamento a imagem de Deus é Cristo (2Cor 4,4; Cl 1,15), pode-se
pensar em uma determinação de todos os homens rumo a Cristo. A aliança de Deus
com Noé abraça todos os seres vivos da terra (cf. Gn 9,9.12.l7s). Em Abraão
"serão abençoadas todas as famílias da terra" (Gn 12,3; cf. 18,18);
essa bênção para todos vem também pelos descendentes de Abraão, por causa da
obediência deste (cf. Gn 22,17-18; 26,4-5; 28,14). O Deus de Israel foi
reconhecido como tal por alguns estrangeiros (cf. Js 2; l Rs 10,1-13; 17,17-24;
2Rs 5,1-27). No Dêutero e Trito-Isaías encontram-se também textos que fazem
referência à salvação do povo de Israel (cf. Is 42,1-4; 49,6-8; 66,18-21 etc,
as oferendas dos povos serão aceitas por Deus como as oferendas dos israelitas;
também SI 86; 47,10, "os príncipes dos povos reuniram-se: é o povo do Deus
de Abraão"). Trata-se de uma universalidade que tem Israel como centro.
Também a Sabedoria dirige-se a todos sem distinção de povos e raças (cf. Pr
1,20-23; 8,2-11; Sb 6,1-10.21 etc).
Nenhum comentário:
Postar um comentário