O Papa na RDC | Vatican News |
"Que
seja o momento propício para ti, que, neste país, te dizes cristão e, todavia,
praticas a violência; a ti diz o Senhor: «Depõe as armas, abraça a
misericórdia»", disse Francisco na homilia da missa celebrada no Aeroporto
de N’dolo, em Kinshasa, na República Democrática do Congo.
Mariangela Jaguraba - Vatican News
O Papa Francisco celebrou a missa pela paz e a
justiça no Aeroporto de N’dolo, em Kinshasa, na República Democrática do Congo,
na manhã desta quarta-feira (1°/02), no âmbito de sua 40ª Viagem Apostólica
Internacional. Participaram da celebração eucarística cerca de um milhão de
fiéis.
Francisco proferiu a palavra Esengo que
significa alegria, manifestando a imensa alegria de ver e encontrar os
congoleses. "Desejei muito este momento. Obrigado por terdes vindo
aqui", disse ele.
"O Evangelho acaba de nos dizer que também a
alegria dos discípulos era grande na tarde de Páscoa, e que esta alegria brotou
ao «verem o Senhor». Naquele clima de alegria e maravilha, o Ressuscitado fala
aos seus e lhes diz: «A paz esteja convosco!».
O Papa Francisco durante a missa pela paz e a justiça no Aeroporto de N’dolo, em Kinshasa | Vatican News |
Segundo o Papa, "trata-se de uma saudação, mas
é mais do que uma saudação: é um dom. Porque a paz, aquela paz anunciada pelos
anjos na noite de Belém, aquela paz que Jesus prometeu deixar aos seus, é
agora, pela primeira vez, entregue solenemente aos discípulos. Jesus proclama a
paz enquanto no coração dos discípulos existem os escombros, anuncia a vida
enquanto eles sentem dentro a morte. Assim faz o Senhor: surpreende-nos,
estende-nos a mão quando estamos prestes a afundar, levanta-nos quando tocamos
o fundo".
O perdão nasce das feridas
"Irmãos, irmãs, com Jesus o mal nunca triunfa,
nunca tem a última palavra. «Com efeito, Ele é a nossa paz», e a sua paz vence.
Por isso nós que pertencemos a Jesus, não podemos deixar prevalecer em nós a
tristeza, não podemos permitir que se insinuem resignação e fatalismo",
disse ainda o Papa, acrescentando.
Se ao nosso redor se respira este clima, que não
seja por nossa causa: num mundo desanimado com a violência e a guerra, os
cristãos fazem como Jesus. Ele, como que insistindo, repetiu para os
discípulos: A paz esteja convosco! E nós somos chamados a assumir e proclamar
ao mundo este inesperado e profético anúncio de paz.
Papa Francisco na missa em Kinshasa | Vatican News |
A seguir, Francisco indicou "três nascentes de
paz, três fontes para continuar a alimentá-la: o perdão, a comunidade e a
missão". Primeira fonte: o perdão.
“O
perdão nasce das feridas. Nasce quando as feridas sofridas não deixam
cicatrizes de ódio, mas tornam-se o lugar onde se dá espaço aos outros
acolhendo as suas debilidades. Então as fragilidades tornam-se oportunidades, e
o perdão torna-se o caminho da paz.”
"Não se trata de esquecer tudo como se nada
fosse, mas de abrir aos outros o próprio coração com amor. Irmãos, irmãs,
quando a culpa e a tristeza nos oprimem, quando as coisas não correm bem,
sabemos para onde olhar: para as chagas de Jesus, pronto a perdoar-nos com o
seu amor ferido e infinito".
“Ele
conhece as tuas feridas, conhece as feridas do teu país, do teu povo, da tua
terra! São feridas que ardem, continuamente infectadas pelo ódio e a violência,
enquanto o remédio da justiça e o bálsamo da esperança parecem nunca mais
chegar.”
É isto que Cristo deseja: ungir-nos com o seu
perdão, para nos dar a paz e a coragem de por nossa vez perdoar, a coragem de
realizar uma grande amnistia do coração. Faz-nos tão bem limpar o coração da
ira, dos remorsos, de todo o rancor e ódio! Que seja o momento propício para
ti, que, neste país, te dizes cristão e, todavia, praticas a violência; a ti
diz o Senhor: «Depõe as armas, abraça a misericórdia».
Papa Francisco na missa em Kinshasa | Vatican News |
A humildade é a grandeza do cristão
A seguir, o Papa falou sobre a segunda fonte da
paz: a comunidade. "Jesus ressuscitado confia a sua paz à
primeira comunidade. Não há cristianismo sem comunidade, tal como não há paz
sem fraternidade", sublinhou. "E qual é o caminho para não
cair nas ciladas do poder e do dinheiro, para não ceder às divisões, às
lisonjas do carreirismo que corroem a comunidade, às falsas ilusões do prazer e
da feitiçaria que nos encerram em nós mesmos?" Perguntou
Francisco. A resposta nos é dada através do profeta Isaías, que diz: «Estou com
os oprimidos e humilhados, para reanimar o espírito dos humilhados e reanimar o
coração dos oprimidos».
“O
caminho é partilhar com os pobres: este é o melhor antídoto contra a tentação
de nos dividir e mundanizar. Ter a coragem de olhar para os pobres e
escutá-los, porque são membros da nossa comunidade, e não estranhos que devem
ser abolidos da vista e da consciência.”
Abrir o coração aos outros, em vez de o fechar nos
próprios problemas ou nas próprias vaidades. Recomecemos dos pobres e
descobriremos que todos compartilhamos a pobreza interior; que todos precisamos
do Espírito de Deus para nos libertar do espírito do mundo; que a humildade é a
grandeza do cristão, e a fraternidade a sua verdadeira riqueza. Acreditemos na
comunidade e, com a ajuda de Deus, edifiquemos uma Igreja vazia de espírito
mundano e cheia de Espírito Santo, livre de riquezas para nós mesmos e repleta
de amor fraterno!
Missa em Kinshasa | Vatican News |
Somos chamados a ser missionários de
paz
Por fim, a terceira fonte da paz: a missão.
Jesus diz aos discípulos: «Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a
vós». "Numa palavra, enviou-O para todos: não só para os
justos, mas para todos".
“Irmãos,
irmãs, somos chamados a ser missionários de paz, e isto nos encherá de paz.
Trata-se duma opção: é dar espaço a todos no coração, é acreditar que as
diferenças étnicas, regionais, sociais e religiosas vêm em segundo lugar e não
são obstáculo; que os outros são irmãos e irmãs, membros da mesma comunidade
humana; que cada um é destinatário da paz trazida ao mundo por Jesus. É
acreditar que nós, cristãos, somos chamados a colaborar com todos, a romper a
espiral da violência, a desmantelar os enredos do ódio.”
"Enviados por Cristo, os cristãos são
chamados, por definição, a ser consciência de paz no mundo: não só
consciências críticas, mas sobretudo testemunhas de amor; não pretendentes dos
próprios direitos, mas dos do Evangelho, que são a fraternidade, o amor e o
perdão; não indivíduos à procura dos próprios interesses, mas missionários
daquele amor louco que Deus tem por cada um dos seres humanos", disse
ainda o Papa.
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