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terça-feira, 28 de fevereiro de 2023

Santificados na Família

Crédito: Cléofas

Santificados na Família

 POR PROF. FELIPE AQUINO

Deus nos criou para vivermos em família. Ele mesmo é uma Família, Três Pessoas distintas em uma única natureza, e quis que de certa forma isso se reproduzisse na terra, em cada lar.

Quando o Catecismo fala da família, começa dizendo que:

“A família cristã é uma comunhão de pessoas, vestígio e imagem da comunhão do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Sua atividade procriadora e educadora é o reflexo da obra criadora do Pai” (§2205).

A família é assim, por vontade de Deus, “imagem” da Santíssima Trindade; por isso ela é sagrada, e meio especial de nossa santificação.

Jesus, ao vir ao mundo, não precisava necessariamente viver em uma família, mas Ele assim o quis, para deixar-nos o seu exemplo e ensinamento sobre a nobreza e santidade da família. Quis ter uma mãe e um pai (adotivo), e foi obediente e submisso a eles (cf Lc 2,51).

Jesus não precisava ter um pai terreno, já que o Seu Pai é o próprio Deus. Mas Ele quis ter um pai adotivo, legal, como chamavam os judeus. Quando José quis abandonar Maria, em silêncio, para não difamá-la, Deus mandou o Anjo dizer-lhe: “José, filho de Davi, não temas receber Maria por esposa, pois, o que nela foi concebido veio do Espírito Santo. Ela dará à luz um filho a quem tu porás o nome de Jesus” (Mt 1,20-21). É como se Deus dissesse a José: eu preciso de você, eu quero você para ser o pai diligente da sagrada Família. Os pais geram os filhos, mais aqui é o Filho quem escolhe o seu pai.

Jesus quis viver numa família, e ali viveu durante trinta anos, só saindo dela para a sua missão pública e redentora da humanidade. A Família de Nazaré nos dá uma lição de vida familiar.

Como disse Paulo VI: “Que Nazaré nos ensine o que é família, sua comunhão de amor, sua beleza austera e simples, seu caráter sagrado e inviolável […]. Uma lição de trabalho […]” (05/01/64).

Cristo, nascendo e vivendo numa família, redimiu e santificou todas as famílias.

Os que atentam hoje contra os valores sagrados da família: indissolubilidade do matrimônio, fidelidade conjugal, defesa da vida, etc., atentam frontalmente contra Deus. Os que pregam a defesa do aborto, da eutanásia, do divórcio, dos casamentos de homossexuais, dos úteros de aluguel, das experiências com embriões, da concepção in-vitro [bebê de proveta], da limitação da natalidade por quaisquer meios, esses, lutam contra Deus e contra a família.

Vivendo na família de Nazaré, Jesus nos ensinou a importância da submissão e obediência dos filhos aos pais. Ele, mesmo sendo Deus, se fez obediente àqueles que Ele mesmo criou e escolheu para seus pais. Cumpriu em tudo o quarto mandamento que manda “honrar” os pais. Mais do que ninguém obedeceu à Palavra de Deus que diz:

“Quem honra sua mãe é semelhante àquele que acumula um tesouro”.

“Quem teme o Senhor honra pai e mãe” (Eclo 3).

Por ser a família, a própria imagem da Trindade na terra, o Concílio Vaticano II a denominou de “igreja doméstica”, e o Papa João Paulo II a chamou de “santuário da vida”. É ali que a vida é gerada, cuidada, amada e engrandecida. É no seio da família que o ser humano é construído. Foi no seio da família de Nazaré que o Menino Jesus foi preparado para a grande missão de Salvador dos homens.

Portanto, a família é a grande escola da vida, é o educandário do amor, da fé, da justiça, da paz e da santidade.

É porque a família é hoje tão ofendida pelas pragas da imoralidade, que a sociedade paga um alto preço social: jovens delinquentes, crianças abandonadas, pais separados, homens e mulheres frustrados, tanta violência, tanto crime, tanta morte…

Essas pobres crianças e jovens desorientados, que vivem pelas ruas, perdendo-se nas drogas, no crime, na violência, na homossexualidade e nas bebidas, etc., apenas estão buscando com isso um pouco de calor humano, afeto, que deveriam ter recebido em suas famílias, e não receberam.

O triste espetáculo de crianças e jovens drogados nada mais é do que o fruto da destruição familiar, causado por um mundo sem Deus, sem moral, sem religião.

O filho que foi amado e querido por seus pais, até o fim da sua adolescência, jamais será um desequilibrado ou perigoso para a sociedade.

O Catecismo diz que a “família é a sociedade natural onde o homem e a mulher são chamados ao dom de si no amor e no dom da vida. A família é a comunidade na qual, desde a infância, se podem assimilar os valores morais, em que se pode começar a honrar a Deus e a usar corretamente a liberdade. A vida em família é iniciação para a vida em sociedade” (CIC nº 2207).

Por tudo o que foi dito até aqui podemos entender o quanto o lar é um local adequado para a santificação dos pais e dos filhos.

“É no seio da família que os pais são para os filhos, pela palavra e pelo exemplo… os primeiros mestres da fé”, ensina a Igreja (LG, 11).

“É na família que se exerce de modo privilegiado o sacerdócio batismal do pai de família, da mãe, dos filhos, de todos os membros da família, na recepção dos sacramentos, na oração e na ação de graças, no testemunho de uma vida santa, na abnegação e na caridade ativa. O lar é assim a primeira escola de vida cristã e uma escola de enriquecimento humano. É ai que se aprende a fadiga e a alegria do trabalho, o amor fraterno, o perdão generoso e mesmo reiterado, e sobretudo o culto divino pela oração e oferenda de sua vida” (CIC §1657).

Essas palavras do Catecismo mostram que o lar é a escola das virtudes humanas; logo, lugar de santificação.

Para os pais, a vida conjugal é uma oportunidade riquíssima de santificação, na medida em que, a todo instante, precisam lutar contra o próprio egoísmo, soberba, orgulho, desejo de dominação, etc., para se tornar, com o outro, aquilo que é o sentido do matrimônio: “uma só carne”, uma só vida, sem divisões, mentiras, fingimentos, tapeações, birras, azedumes, mau-humor, reclamações, lamúrias, etc.

A luta diária e constante para ser “exemplo para os filhos”, para manter a fidelidade ao outro, para “vencer-se a si mesmo”, a fim de se construir um lar maduro e santo, faz com que caminhemos para a na nossa santificação.

O amor do casal é o sinal e o símbolo do amor de Deus à humanidade, e amor de Cristo à Igreja (cf. Ef 5,21s). Ao se pôr a caminho para conquistar “esse amor”, o casal se santifica.

A busca da unidade profunda como a do “café com o leite”, o desafio de “construir o outro”, alguém querido, a solução conjunta de todos os problemas, o diálogo frequente e amoroso, o respeito mútuo, enfim, a busca da maturidade essencial para a vida a dois, tudo isso santifica o casal.

Além do mais, o conhecimento profundo do “mistério do outro” a luta para aceita-lo e entende-lo, para ajudá-lo a crescer, a paciência, o perdão dado, as renúncias de cada dia, a atenção com o outro para vencer a frieza e a monotonia, o cuidado do lar, da roupa, da comida, do estudo dos filhos, etc., tudo isso concorre para que os pais se santifiquem mutuamente. Deus quis assim, e fez do casamento uma grande escola de santidade. O casal que quiser atingir a perfeição matrimonial, como é o desígnio de Deus, naturalmente chegará à santidade. A casa é para o casal e os filhos, o que o mosteiro é para o monge.

A luta que travamos conosco mesmo para aceitar e suportar os defeitos do outro, a cada dia, com paciência e compreensão, faz-nos santos.

As cruzes do lar, o desemprego, as doenças, as dúvidas, os vícios do cônjuge, a dificuldade com os parentes, a preocupação com os problemas dos filhos, etc., tudo isso, torna-se no casamento como que o “fogo” que queima as ervas daninhas de nossa alma e nos encaminha para a perfeição cristã.

É preciso saber aproveitar toda e qualquer dificuldade do lar para fazer dela um degrau de crescimento na fé e no amor a Deus, pois “tudo concorre para o bem dos que amam a Deus” (Rm 8,28).

Por outro lado, a enorme tarefa que Deus confia aos pais, na geração e na educação dos filhos, o exercício dessa missão sagrada coopera para a santificação deles.

O Catecismo diz que:

“O papel dos pais na educação dos filhos é tão importante que é quase impossível substituí-los”. E que: “O direito e o dever de educação são primordiais e inalienáveis para os pais” (§2221; FC 36). Para cumprir com responsabilidade essa sagrada missão, os pais devem criar um lar tranquilo para os filhos, onde se cultive a ternura, o perdão, o respeito, a fidelidade e o serviço desinteressado. Aí deve ser cultivado a abnegação, o reto juízo, o domínio de si, para que haja verdadeira liberdade.

Diz o livro do Eclesiástico:

“Aquele que ama o filho castiga-o com frequência; aquele que educa o seu filho terá motivo de satisfação” (Eclo 30, 1-2).

Esse “castiga-o com frequência” deve ser entendido como “corrige-o com frequência”. Mas São Paulo lembra que os pais não podem humilhar e magoar os filhos ao corrigi-los:

“E vós, pais, não deis a vossos filhos motivo de revolta contra vós, mas criai-os na disciplina e na correção do Senhor” (Ef 6,4).

É claro que esse equilíbrio e dedicação que é exigido dos pais para educar bem os filhos, é motivo também de crescimento para os próprios pais. E é bom lembrar aos pais que saber reconhecer diante dos filhos, os próprios defeitos, não é humilhação e sim coerência, e isto facilita guiá-los e corrigi-los, como ensina o próprio Catecismo (nº 2223).

“Os filhos, diz o Catecismo, por sua vez, contribuem para o crescimento de seus pais em santidade. Todos e cada um se darão generosamente e sem se cansarem o perdão mútuo exigido pelas ofensas, as rixas, as injustiças e os abandonos. Sugere-o a mútua afeição. Exige-o a caridade de Cristo” (CIC, §2227; Mt 18,21-22).

A Igreja também ensina que os pais, pela graça do matrimônio, receberam o direito e o dever de evangelizar os filhos, iniciando-os, desde a infância, nos mistérios da fé. E fazendo isso os pais estão, de certo modo, evangelizando a si mesmos.
Para os filhos, o dever de honrar os pais, estabelece um verdadeiro programa de santificação.

Lembra a Palavra de Deus aos filhos:

“Honra teu pai de todo o coração e não esqueças as dores de tua mãe. Lembra-te que fostes gerado por eles. O que lhes darás pelo que te deram?” (Eclo 7,27-28).

“Um filho sábio escuta a disciplina do pai e o zombador não escuta a reprimenda” (Pr 13,1).

“Filhos, obedecei em tudo a vossos pais, pois isso é agradável ao Senhor” (Cl 3,20; Ef 6,1).

“Aquele que respeita o pai obtém o perdão dos pecados, o que honra a sua mãe é como quem ajunta um tesouro. Aquele que respeita o pai encontrará alegria nos filhos e no dia de sua oração será atendido” (Eclo 3,2-6).

Todo o capítulo três do livro do Eclesiástico mostra a importância dos pais na vida dos filhos. A observância dessas normas santificará os filhos e lhes dará a bênção de Deus. Essa bênção é dada através dos pais:

“Honra teu pai por teus atos, tuas palavras, tua paciência, a fim de que ele te dê a sua bênção, e que esta permaneça em ti até o último dia da tua vida”.

“A bênção paterna fortalece a casa de seus filhos; a maldição de uma mãe a arrasa até os alicerces” (9-11).

Um filho abençoado pelos pais é um filho abençoado pelo próprio Deus, porque “a paternidade humana tem a sua fonte na paternidade divina” (CIC nº 2214).

Infelizmente os filhos já não pedem a bênção para os seus pais hoje, porque não lhes foi ensinado a importância dessa bênção. É preciso resgatar esse costume santo, que torna a vida dos filhos mais santa.

Vemos assim que Deus estabeleceu a família como o meio privilegiado para a nossa salvação e santificação, tanto dos pais quanto dos filhos.

As provações da vida familiar são riquíssimas para a santificação de toda a família. As doenças, as lágrimas, os revezes, enfim as cruzes, não vêm por acaso. Só os pagãos creem no acaso e no destino. O cristão acredita que tudo vem de Deus. Muitas vezes Ele fere o corpo para salvar a alma. Quanta gente, piedosa e devota, que na hora do “sofrimento purificador” se comporta como um pagão! “É o destino!… fatalidade!…”

Saber aproveitar as lições dos sofrimentos diários, e acolhê-los com fé, é receber uma multidão de graças do Céu. São Francisco de Assis acolhia a doença com gratidão: “Senhor, os sofrimentos que me enviais são, aos meus olhos, incomparáveis tesouros. Agradeço a Vossa Misericórdia Infinita, que me castiga neste mundo para me poupar para a eternidade”.

Os sofrimentos do lar são, muitas vezes, mais difíceis de suportar do que os que vêm de fora. São Francisco de Sales dizia que: “Ser desprezado e acusado pelos maus é até doce para um homem de coragem; mas, ser repreendido, acusado, maltratado pelas pessoas de bem, pelos amigos, pelos parentes… como é doloroso!” O Santo dizia que são como “picadas de abelhas”, ardem mais do que as das moscas, embora as abelhas produzam um mel tão doce. Os espinhos do lar são as pequenas cruzes com as quais o Senhor nos santifica a cada dia.

Os santos afirmavam que as provações mais difíceis de suportar são aquelas que nos vêm através dos bons, das pessoas que mais amamos. Alguém os chamou de “os bons carrascos”. As vezes são nossos pais, irmãos, esposa, filhos, ou bons amigos.

Retirado do livro: “Família, Santuário da Vida”. Prof. Felipe Aquino. Ed. Cléofas.

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF