Fred de Noyelle / Godong |
Maria
era realmente livre para aceitar o projeto de Deus para ela? Ela poderia ter
dito não a Deus quando o anjo Gabriel foi visitá-la?
“Eis aqui a serva do
Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra.”
(Lc
1, 38)
A resposta de Maria ao anjo Gabriel, que
veio anunciar-lhe que dela nasceria o filho de Deus, foi definitiva. À
vontade do Senhor, Maria responde com o “fiat”, o sim completo e
irrevogável. Mas ela realmente tinha escolha?
“‘Deus enviou o seu Filho’ (GI 4,
4). Mas, para Lhe ‘formar um corpo’, quis a livre cooperação duma criatura.
Para isso, desde toda a eternidade, Deus escolheu, para ser a Mãe do seu Filho,
uma filha de Israel, uma jovem judia de Nazaré, na Galileia, ‘virgem que era
noiva de um homem da casa de David, chamado José. O nome da virgem era Maria’ (Lc 1,
26-27)”.
CIC,
488
Então Maria foi predestinada para
se tornar a Mãe do Salvador. Essa predestinação, ou seja, o fato de ter
sido, literalmente, “reservada antecipadamente”, por tudo isso a privou de sua
liberdade?
Assim o esclarece o dogma da Imaculada Conceição, proclamado em
1854 pelo Papa Pio IX na sua bula Ineffabilis Deus: “A
Santíssima Virgem Maria foi, no primeiro momento de sua concepção, por uma
graça e favor singular de Deus Todo-Poderoso, em vista dos méritos de Jesus
Cristo Salvador da raça humana, preservada intacta de toda mancha de pecado
original.”
Portanto, Maria, desde o ventre, esteve
inteiramente voltada para o Senhor e entregue à Sua vontade. Assim, Maria
consentiu livremente com a vontade de Deus durante a Anunciação.
“O Pai das misericórdias quis que a
aceitação, por parte da que Ele predestinara para Mãe, precedesse a Encarnação,
para que, assim como uma mulher contribuiu para a morte, também outra mulher
contribuísse para a vida”.
CIC,
488
“Eis a serva do Senhor”
A atitude fundamental da Ancilla
Domini (serva do Senhor) perpassa todos os momentos da sua relação com
Jesus, desde a alegria até à cruz. É através da aceitação total e
incomensurável da vontade divina que Maria abraça o projeto de Deus.
Isso é parcialmente justificado
por Gertrud von Le Fort em Die ewige Frau [A Mulher Eterna]
que examina o papel simbólico das mulheres: “Onde quer que haja
auto-sacrifício, vê-se irradiar o mistério da mulher eterna”.
Além disso, “ao anunciar que daria à
luz ‘o Filho do Altíssimo’ sem conhecer um homem, em virtude do Espírito Santo
(cf. Lc 1, 28-37 ), Maria respondeu com ‘a obediência da fé’, certa
de que “para Deus nada é impossível”.
Assim, dando o seu consentimento
à palavra de Deus, Maria tornou-se Mãe de Jesus e, desposando de todo o
coração, sem que nenhum pecado a contivesse, entregou-se inteiramente à pessoa
e à obra do seu Filho.
O “fiat” mariano, um perfeito “sim” dirigido a Deus
O “fiat” de Maria não é outro
senão o “sim” perfeito, que significa em hebraico [אמן] o Amém da
verdade provada. É também a sutura onde a fraqueza do gênero humano adere total
e misteriosamente à força divina.
Essa aceitação se desenvolve no
silêncio da Virgem que “guarda tudo isso no coração” ( Lc 2,
51). Maria procede da Salvação divina, e é pelo seu “sim” que o Filho de
Deus se faz carne. Liberta do pecado original que a escraviza e impede de
se entregar totalmente a Deus, Maria pode entregar-se inteiramente ao convite
do Senhor para participar, na sua carne, no mistério da Salvação. É
precisamente essa liberdade, isto é, esta união perfeita com o Criador, que a
torna livre, inteiramente livre, para aceitar ou recusar aderir à Sua
Vontade.
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