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quinta-feira, 2 de março de 2023

O CRISTIANISMO E AS RELIGIÕES (11/16)

O cristianismo e as religiões | Politize!

COMISSÃO TEOLÓGICA INTERNACIONAL

O CRISTIANISMO E AS RELIGIÕES

(1997)

b. "Paschali mysterio consociati"

71. A constituição dogmática sobre a Igreja Lúmen gentium fala de uma ordenação gradual à Igreja do ponto de vista do chamado universal à salvação, que inclui o chamado à Igreja. Pelo contrário, a constituição pastoral Gaudium et spes abre uma mais ampla perspectiva cristológica, pneumatológica e soteriológica. O que se diz dos cristãos vale também para todos os homens de boa vontade, em cujos corações atua a graça de modo invisível. Também eles podem ser associados pelo Espírito Santo ao mistério pascal, e podem, por conseguinte, ser conformados com a morte de Cristo e caminhar ao encontro da ressurreição (cf. GS 22).

72. Quando os não-cristãos, justificados mediante a graça de Deus, são associados ao mistério pascal de Jesus Cristo, o são também com o mistério de seu corpo, que é a Igreja. O mistério da Igreja em Cristo é uma realidade dinâmica no Espírito Santo. Ainda que falte a essa união espiritual a expressão visível da pertença à Igreja, os não-cristãos justificados estão incluídos na Igreja "corpo místico de Cristo" e "comunidade espiritual" (LG 8). Nesse sentido, os Padres da Igreja podem dizer que os não-cristãos justificados pertencem à ecclesia ab Abel. Enquanto estes são reunidos na Igreja universal junto ao Pai (cf. LG 2), não serão salvos aqueles que pertencem certamente "ao corpo" mas não "ao coração" da Igreja, porque não perseveraram no amor (cf. LG 14).

73. Por isso, pode-se falar não só em geral de uma ordenação à Igreja dos não-cristãos justificados, mas também de uma vinculação com o mistério de Cristo e de seu corpo, a Igreja. Porém, não se deveria falar de uma pertença, nem sequer de uma pertença gradual à Igreja, ou de uma comunhão imperfeita com a Igreja, reservada aos cristãos não-católicos (UR 3; LG 15); pois a Igreja, por sua essência, é uma realidade complexa, constituída pela união visível e pela comunhão espiritual. É claro que os não-cristãos que não são culpáveis de não pertencer à Igreja entram na comunhão dos chamados ao Reino de Deus, mediante a prática do amor a Deus e ao próximo; tal comunhão se revelará como Ecclesia universalis na consumação do Reino de Deus e de Cristo.

c. "Universale salutis sacramentum"

74. Enquanto se partia da suposição de que todos os homens entravam em contato com a Igreja, a necessidade da Igreja para a salvação foi entendida sobretudo como necessidade de pertença a ela. Desde que a Igreja se fez consciente de sua condição de minoria, tanto diacrônica como sincronicamente, passou para o primeiro plano a necessidade da função salvífica universal da Igreja. Essa missão universal e essa eficácia sacramental em ordem à salvação encontraram sua expressão teológica na denominação da Igreja como sacramento universal de salvação. Como tal, a Igreja está a serviço da vinda do Reino de Deus, na união de todos os homens com Deus e na unidade dos homens entre si (cf. LG 1).

75. De fato, Deus se revelou como amor não só porque nos dá já agora parte no Reino de Deus e em seus frutos, mas também porque nos chama e libera para a colaboração na vinda de seu reino. Assim, a Igreja não é só sinal, mas também instrumento do Reino de Deus que irrompe com força. A Igreja leva a cabo sua missão como sacramento universal de salvação na martyrialiturgia e diakonia.

76. Por meio da martyria do evangelho da redenção universal levada a cabo por Jesus Cristo, a Igreja anuncia a todos os homens o mistério pascal de salvação que se lhes oferece ou do qual já vivem sem sabê-lo. Como sacramento universal de salvação, a Igreja é essencialmente uma Igreja missionária. Pois Deus, em seu amor, não só chamou os homens para alcançar sua salvação final na comunhão com ele. Mais propriamente, pertence à plena vocação do homem que sua salvação não se realize no serviço da "sombra do que devia vir" (Cl 2,17),mas no pleno conhecimento da verdade, na comunhão do povo de Deus e na ativa colaboração para a vinda de seu Reino, fortalecido pela segura esperança na fidelidade de Deus (cf.AG 1-2).

77. Na liturgia, celebração do mistério pascal, a Igreja cumpre sua missão de serviço sacerdotal representando toda a humanidade. Num modo que, segundo a vontade de Deus, é eficaz para todos os homens, faz presente a representação de Cristo que "se identificou com o pecado, por nós" (2Cor 5,21), e em nosso lugar foi "suspenso no madeiro" (Gl 3,13) para nos livrar do pecado (cf. LG 10). Finalmente, na diakonia, a Igreja dá testemunho da doação amorosa de Deus aos homens e da irrupção do reino da justiça, do amor e da paz.

78. À missão da Igreja como sacramento universal de salvação pertence também "que todo o bem que se encontra semeado na coração e na mente dos homens, não só não pereça, mas seja curado, elevado e aperfeiçoado" (LG 17). Pois, às vezes, a ação do Espírito precede inclusive visivelmente a atividade apostólica da Igreja (AG 4), e sua ação pode se manifestar também na busca e na inquietude religiosa dos homens. O mistério pascal ao qual, do modo que Deus conhece, todos os homens podem ser incorporados, é a realidade salvífica que abraça toda a humanidade, que une de antemão à Igreja os não-cristãos aos quais ela se dirige e ao serviço de cuja revelação deve sempre estar. Na medida em que a Igreja reconhece, discerne e faz seu o verdadeiro e o bom que o Espírito Santo operou nas palavras e nos feitos dos não-cristãos, converte-se cada vez mais na verdadeira Igreja católica, "que fala em todas as línguas, que entende e abarca todas as línguas no amor, e supera dessa forma a dispersão de Babel" (AG 4).

77. "Assim, esse povo messiânico, embora não compreenda de fato todos os homens e muitas vezes apareça como uma pequena grei, é no entanto, para toda a humanidade, o germe mais firme de unidade, de esperança e de salvação. Constituído por Cristo para ser uma comunhão de vida, de caridade e de verdade, é assumido também por ele para ser instrumento de redenção, e é enviado a todo o mundo como luz do mundo e sal da terra (cf. Mt 5,13-16)" (LG 9).

Fonte: https://www.vatican.va/

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF