O cristianismo e as religiões | Lausanne Movement |
COMISSÃO TEOLÓGICA INTERNACIONAL
O CRISTIANISMO E AS RELIGIÕES
(1997)
IV. CONCLUSÃO:
DIÁLOGO E MISSÃO DA IGREJA
114. Neste fim do segundo milênio, a Igreja está chamada a dar
testemunho de Cristo crucificado e ressuscitado "até as extremidades da
terra" (At 1,8), em amplos mundos culturais e religiosos. O diálogo
religioso é conatural à vocação cristã. Inscreve--se no dinamismo da Tradição
vivente do mistério da salvação, cujo sacramento universal é a Igreja; é um ato
dessa Tradição.
115. Como diálogo da Igreja, tem sua fonte, modelo e fim na Trindade
Santa. Manifesta e atualiza a missão do Logos eterno e do
Espírito Santo na economia da salvação. Por seu Verbo o Pai chama todos os
seres humanos do nada à existência, e é seu Sopro que lhes dá a vida. Por seu
Filho, que assume nossa carne e é ungido por seu Espírito, dirige-se a eles
como a seus amigos, "fala com eles na terra" e lhes revela "todo
o caminho do conhecimento" (cf. Br 3,36-38). Seu Espírito vivificante
torna a Igreja Corpo de Cristo, enviada às nações para anunciar-lhes a Boa
Notícia da ressurreição.
116. O Verbo pode nos dar a conhecer ao Pai porque aprendeu tudo dele e
consentiu em aprender tudo do homem. Assim, deve se dar na Igreja para aqueles
que querem encontrar seus irmãos e irmãs de outras religiões e dialogar com
eles. Não são os cristãos os enviados, mas a Igreja; não são suas idéias o que
apresentam, mas a Cristo; não será sua retórica que tocará os corações, mas o
Espírito Paráclito. Para ser fiel ao "sentido da Igreja", o diálogo
inter-religioso pede a humildade de Cristo e a transparência do Espírito Santo.
117. A pedagogia divina do diálogo não consiste apenas em palavras, mas
também em fatos; as palavras manifestam a "novidade cristã", a do
amor do Pai, de que os fatos dão testemunho. Agindo assim, a Igreja se mostra
como sacramento do mistério da salvação. Nesse sentido, o diálogo
inter-religioso forma parte, segundo os tempos e os momentos fixados pelo Pai,
da "preparação evangélica". Com efeito, o testemunho mútuo é
algo" inerente ao diálogo entre pessoas de religiões distintas. O
testemunho cristão, aqui, não é ainda o anúncio do evangelho, mas já é parte
integrante da missão da Igreja, como irradiação do amor derramado nela pelo
Espírito Santo. Aqueles que, nos diversos modos do diálogo inter-religioso, dão
testemunho do amor de Cristo Salvador realizam, em nível da "preparação
evangélica", o ardente desejo do Apóstolo: "ser 'liturgo' de Jesus
Cristo, consagrado ao ministério [hierourgunta] do Evangelho de Deus, a
fim de os pagãos se tornarem uma oferenda que, santificada pelo Espírito Santo,
seja agradável a Deus" (Rm 15,16).
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