Jesus Cristo | Cléofas |
O Jesus Cristo Histórico
“No décimo
quinto ano do reinado de Tibério César, sendo Pôncio Pilatos governador da
Judeia, Herodes tetrarca da Galileia, seu irmão Filipe tetrarca da região
da Ituréia e Traconites, e Lisânias tetrarca de Abilene…” (Lc 3,1)
Algumas pessoas afirmam que Jesus Cristo nunca existiu. Alegam que
a vida de Jesus e os evangelhos são mitos criados pela Igreja. Essa
lamentável afirmação se baseia, principalmente, na crença de que não
existem registros históricos de Jesus.
Tal carência de registros seculares (isto é, não ligados à esfera
religiosa) não deve surpreender os cristãos de hoje. Primeiro, porque
apenas uma pequena fração dos registros escritos sobreviveram ao tempo
(nada, nada, são 20 séculos!). Segundo, porque existiam poucos – se é que
de fato realmente existiam – “jornalistas” na Palestina do tempo de Jesus.
Terceiro, porque os romanos viam o povo judeu como apenas mais um dos
grupos étnicas que precisavam tolerar; os romanos tinham pouquíssima
consideração para com o povo judeu. Finalmente, porque os líderes judeus
também ansiavam esquecer Jesus. Assim, os escritores seculares somente
começaram a se referir sobre o Cristianismo quando este movimento
religioso tornou-se popular e começou a incomodar o estilo de vida que
tinham.
Ainda que os testemunhos seculares sobre Jesus sejam raros, existem
alguns poucos que sobreviveram ao tempo e faz referências a Ele. Não é de
se surpreender que os registros não cristãos mais antigos tenham sido
feitos por judeus. Flávio Josefo, que viveu até 98 dC, era um historiador
judeu romanizado. Ele escreveu livros sobre a História dos Judeus para o
povo romano. Em seu livro, “Antiguidades Judaicas”, ele faz algumas
referências a Jesus. Em uma delas, ele escreve:
“Por esse tempo apareceu Jesus, um homem sábio, que praticou boas
obras e cujas virtudes eram reconhecidas. Muitos judeus e pessoas de
outras nações tornaram-se seus discípulos. Pilatos o condenou a ser
crucificado e morto. Porém, aqueles que se tornaram seus discípulos
pregaram sua doutrina. Eles afirmam que Jesus apareceu a eles três dias
após a sua crucificação e que está vivo. Talvez ele fosse o Messias
previsto pelos maravilhosos prognósticos dos profetas” (Josefo,
“Antiguidades Judaicas” XVIII, 3,2).
Muito embora diversas formas deste texto em particular tenham
sobrevivido nestes vinte séculos, todas elas concordam com a versão citada
acima. Tal versão é considerada a mais próxima do original – reduzindo as
suspeitas de adulteração do texto por mãos cristãs. Em outros lugares de
sua obra, Josefo também registra a execução de São João Batista
(XVIII,5,2) e o martírio de São Tiago o Justo (XX,9,1), referindo-se a
este como “o irmão de Jesus que era chamado Cristo”. Deve-se notar
que o emprego do verbo “ser” no passado, na expressão “Jesus que ERA
chamado Cristo” testemunha contra uma possível adulteração cristã já que
um cristão certamente escreveria “Jesus que É chamado Cristo”.
Uma outra fonte judaica, o Talmude, faz algumas referência
históricas a Jesus. De acordo com o Dicionário da American Heritage, o
Talmude é “a coleção de antigos escritos rabínicos que consiste da Mishná
e da Gemara, e que constitui a base da autoridade religiosa para o
Judaísmo tradicional”. Ainda que não faça referência explícita ao nome de
Jesus, os rabinos identificam a pessoa em questão com Jesus. Essas
referências a Jesus não são simpáticas nem a Ele nem à sua Igreja. Esses
escritos também foram preservados através dos séculos pelos judeus, de
maneira que os cristão não podem ser acusados de terem adulterado o texto.
O Talmude registra os milagres de Jesus; não é feita nenhuma
tentativa de negá-los, mas relaciona-os como frutos de artes mágicas do
Egito. Também sua crucificação é datada como tendo “ocorrido na véspera da
Festa da Páscoa”, em concordância com os evangelhos (Luc 22,1ss; Jo
19,31ss). Também de forma semelhante ao evangelho (Mat 27,51), o Talmude registra
a ocorrência do terremoto e o véu do templo que se dividiu em dois durante
a morte de Jesus. Josefo, em sua obra “A Guerra Judaica” também confirma
esses eventos.
No início do séc. II, os romanos começaram a escrever sobre os
cristãos e Jesus. Plínio o Moço, procônsul na Ásia Menor, em 111 dC
escreveu em uma carta dirigida ao imperador Trajano:
“…[os cristãos] têm como hábito reunir-se em uma dia fixo, antes do
nascer do sol, e dirigir palavras a Cristo como se este fosse um deus;
eles mesmos fazem um juramento, de não cometer qualquer crime, nem cometer
roubo ou saque, ou adultério, nem quebrar sua palavra, e nem negar um
depósito quando exigido. Após fazerem isto, despedem-se e se encontram
novamente para a refeição…” (Plínio, Epístola 97).
Uma atenção especial deve ser dada à frase “a Cristo como se este
fosse um deus”; trata-se de um testemunho secular primitivo atestando a
crença na divindade de Cristo (Jo 20,28; Fil 2,6). Também é interessante
comparar esta passagem com At 20,7-11, que é uma narração bíblica sobre a
primitiva celebração cristã do domingo.
Um outro historiador romano, Tácito, respeitado pelos modernos
pesquisadores por causa de sua precisão histórica, escreveu em 115 dC
sobre Cristo e sua Igreja:
“O fundador da seita foi Crestus, executado no tempo de Tibério
pelo procurador Pôncio Pilatos. Essa superstição perniciosa, controlada
por certo tempo, brotou novamente, não apenas em toda a Judeia… mas também
em toda a cidade de Roma…” (Tácito, “Anais” XV,44).
Mesmo desprezando a fé cristã, Tácito tratou a execução de Cristo
como fato histórico, fazendo relação com eventos e líderes romanos (cf.
Luc 3,1ss).
Outros testemunhos seculares ao Jesus histórico incluem Suetônio em
sua “Biografia de Cláudio”, Phlegan (que registrou o eclipse do
sol durante a morte de Jesus) e até mesmo Celso, um filósofo pagão.
Precisamos manter em mente que a maioria dessas fontes não eram apenas
seculares mas também anticristãs. Esses autores seculares, inclusive os
escritores judeus, não desejavam ou intencionavam promover o Cristianismo.
Eles não tinham motivação alguma para distorcer seus registros em favor do
Cristianismo. Plínio realmente punia os cristãos pela sua fé. Se Jesus
fosse um simples mito ou sua execução uma mentira, Tácito teria relatado
tal fato; certamente, ele não teria ligado a execução de Jesus com líderes
romanos. Esses escritos, portanto, apresentam Jesus como um personagem
real e histórico. Negar a confiabilidade dessas fontes que citam Jesus
seria negar todo o resto da história antiga.
Não é intenção deste artigo provar que esses antigos escritos
seculares testemunham que Jesus seja o Filho de Deus ou o Cristo. Porém,
esses registros mostram que um homem virtuoso chamado Jesus viveu nesta
Terra no início do séc. I dC e fundou um movimento religioso que perdura
até os nossos dias. Esse Homem foi chamado de Cristo – o Messias. Os
cristãos do primeiro século também O consideravam como Deus. Por fim,
esses escritos suportam outros fatos encontrados na Bíblia a respeito da
vida de Jesus. Logo, afirmar que Jesus nunca existiu e que sua vida é um
mero mito compromete a confiabilidade de toda a história antiga.
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