Matrimônio | Presbíteros |
CONSELHO PONTIFÍCIO PARA A
FAMÍLIA
PREPARAÇÃO PARA O SACRAMENTO DO
MATRIMÔNIO
II
AS ETAPAS OU MOMENTOS DA
PREPARAÇÃO
21. As etapas ou momentos a que
nos referiremos não são rigidamente definidos. De facto, não se podem fixar nem
em relação à idade dos destinatários, nem em relação à duração. Todavia, é útil
conhecê-los como itinerários e instrumentos de trabalho, sobretudo por causa
dos conteúdos a transmitir. São articulados em: preparação remota, próxima e
imediata.
A. Preparação remota
22. A preparação remota abraça a
infância, a pré-adolescência e a adolescência, e desenrola-se sobretudo na
família, e também na escola e nos grupos de formação, como auxílios válidos. É
um período em que é transmitida e como que instilada a estima por todo o
autêntico valor humano, seja nos relacionamentos interpessoais, seja nos
sociais, com tudo o que isto significa para a formação do carácter, o domínio e
a estima de si, o reto uso das próprias inclinações, o respeito também para com
as pessoas do outro sexo. Requere-se, além disso, especialmente para os
cristãos, uma sólida formação espiritual e catequética (cf. FC 66).
23. Na Carta às Famílias Gratissimam
Sane, João Paulo II recorda duas verdades fundamentais na tarefa da
educação: « a primeira é que o homem é chamado a viver na verdade e no amor; a
segunda é que cada homem se realiza através do dom sincero de si » (n.16). A
educação das crianças começa, por isso, antes do nascimento, no ambiente em que
a vida nova do nascituro é esperada e acolhida, especialmente com o diálogo de
amor entre a mãe e a sua criatura (cf. ibid. 16), e continua
na infância, dado que a educação é « sobretudo uma “oferta” de
humanidade por parte de ambos os pais: estes comunicam juntos a sua
humanidade madura ao recém-nascido » (ibid.). « Na geração de uma nova
vida, eles tomam consciência de que o filho “se é fruta da recíproca doação de
amor dos pais, é, por sua vez, um dom para ambos: um dom que promana do dom” »
(EV 92).
A educação cristã no seu sentido
integral, que implica a transmissão e a consolidação dos valores humanos e
cristãos como afirma o Concílio Vaticano II « não visa apenas à maturidade da
pessoa humana acima descrita, mas objetiva em primeiro lugar que os batizados
sejam gradativamente introduzidos no conhecimento do mistério da salvação e se
tornem de dia para dia mais conscientes do dom recebido da fé… sejam treinados
a orientar a própria vida segundo o homem novo na justiça e na santidade da
verdade » (Gravissimum Educationis, 2).
24. Não pode faltar, neste
período, também uma leal e corajosa educação para a castidade, para o amor como
dom de si. A castidade não é mortificação do amor, mas condição de autêntico
amor. De facto, se a vocação ao amor conjugal é vocação ao dom de si no matrimônio,
é necessário chegar a possuir-se verdadeiramente a si mesmo para se poder doar.
A este respeito, é importante a
educação sexual recebida dos pais nos primeiros anos da infância e da
adolescência, como foi indicado pelo documento deste Conselho Pontifício para a
Família, já recordado acima, no n. 10.
25. Nesta etapa ou momento da
preparação remota são atingidos objetivos específicos. Sem ter a pretensão de
se fazer uma lista exaustiva deles, de modo indicativo recorda-se que tal
preparação deverá, antes de mais, conseguir a meta pela qual cada fiel, chamado
ao matrimônio, compreenda a fundo que o amor humano, à luz do amor de Deus,
assume um papel central na ética cristã. De facto, a vida humana, como
vocação-missão, é chamamento ao amor que tem a sua nascente e o seu fim em
Deus, « sem excluir a possibilidade do dom total de si a Deus na vocação à vida
sacerdotal ou religiosa » (FC 66). Neste sentido é preciso recordar
que a preparação remota, mesmo quando se detém sobre conteúdos doutrinais de
carácter antropológico, se coloca na perspectiva do matrimônio no qual o amor
humano se torna participação, além de sinal, do amor que acontece entre Cristo
e a Igreja. Assim, o amor conjugal torna presente entre os homens o próprio
amor divino tornado visível na redenção. A passagem ou conversão de um nível de
fé mais exterior e vago, próprio de muitos jovens, a uma descoberta do «
mistério cristão » é uma passagem essencial e decisiva: uma fé que implica a
comunhão de Graça e de amor com o Cristo Ressuscitado.
26. A preparação remota terá
atingido os seus principais objetivos no momento em que tenha consentido
assimilar os fundamentos para adquirir, cada vez mais, os parâmetros de um reto
juízo acerca da hierarquia de valores necessária para escolher o que de melhor
oferece a sociedade, segundo o conselho de S. Paulo: « Examinai todas as
coisas, conservai o que é bom » (1 Tess. 5,19). Nem se pode
esquecer que, mediante a graça de Deus, o amor é curado, fortalecido e
intensificado mesmo através dos necessários valores ligados à doação, ao
sacrifício, à renúncia e abnegação. Já nesta fase de formação, a ajuda pastoral
deverá ser orientada a procurar que o comportamento moral seja regido pela fé.
Um tal estilo de vida cristã encontra o seu estímulo, apoio e
consistência no exemplo dos pais que se torna para os nubentes um verdadeiro testemunho.
27. Esta preparação não deve
perder de vista um facto muito importante que consiste em ajudar os jovens a
adquirir, em confronto com o ambiente, uma capacidade crítica e a terem também
a coragem cristã de quem sabe estar no mundo sem ser do mundo. Nesse sentido
leiamos a Carta a Diogneto, documento venerável desde a
primeiríssima época cristã e de reconhecida autenticidade: « Os cristãos não se
diferenciam do resto dos homens nem pelo território, nem pela língua, nem pelos
costumes de vida… (contudo) propõem-se uma forma de vida maravilhosa e, todos
admitem, incrível… Como todos os outros, casam-se e têm filhos, mas não expõem
as suas crianças. Têm em comum a mesa, mas não o tálamo. Vivem na carne, mas
não segundo a carne » (V, 1, 4, 6, 7). A formação deverá conseguir uma
mentalidade e uma personalidade capazes de não se deixar arrastar pelas
concepções contrárias à unidade e à estabilidade do matrimónio, para assim
poder reagir contra as estruturas do assim chamado pecado social que
« se repercute, com maior ou menor veemência, com maior ou menor dano, sobre
toda a estrutura social e sobre a inteira família humana » (Exortação
Apostólica Reconciliatio et Paenitentia, 16). É diante destes
influxos de pecado e de tantas pressões sociais que deve ser revigorada uma
consciência crítica.
28. O estilo cristão de
vida, testemunhado pelos lares cristãos, é já uma evangelização, é o
próprio fundamento da preparação remota. De facto, outra meta é constituída
pela apresentação da missão educativa dos próprios pais. É na família, igreja
doméstica, que os pais cristãos são as primeiras testemunhas e os formadores
dos filhos seja no crescimento da « fé-esperança-caridade », seja na
configuração da vocação própria de cada um deles. « Os pais são os
primeiros e principais educadores dos seus filhos e têm também neste
campo uma competência fundamental: são educadores porque
pais » (Gratissimam Sane, 16). Para isto os pais têm
necessidade de oportunos e adequados auxílios.
29. Entre eles, deve-se incluir,
antes de mais, a paróquia como lugar de formação eclesial cristã; é nela que se
aprende um estilo de convivência comunitária (cf. Sacrosantum
Concilium, 42). Não devemos esquecer, além disso, a escola, as outras
instituições educativas, os movimentos, os grupos, as associações católicas e,
obviamente, as das próprias famílias cristãs.
Possuem particular relevo, nos
processos educativos dos jovens, os meios de comunicação de massa, que deveriam
ajudar positivamente a missão da família na sociedade e não, pelo contrário,
causar-lhe dificuldades.
30. Este processo educativo deve
ser também assumido pelos catequistas, pelos animadores da pastoral juvenil e
vocacional e sobretudo pelos pastores que aproveitarão o momento das homilias
durante as celebrações litúrgicas, e de outras formas de evangelização, de
encontros pessoais, de itinerários de compromisso cristão, para sublinhar e
evidenciar os pontos que contribuem para uma preparação orientada a um possível
matrimónio (cf. OCM 14).
31. É necessário, por isso, «
inventar » modalidades de formação permanente para os adolescentes no período
que precede o noivado e que se segue às etapas da iniciação cristã; e é
sumamente útil a troca das experiências que mais respondem a este propósito. As
famílias, unidas nas paróquias, nas instituições, em diversas formas de
associações, ajudem a criar um clima social em que o amor responsável seja são
e, nos casos em que ele é inquinado, por exemplo, pela pornografia, possam
reagir apoiadas no direito da família. Tudo isto faz parte de uma « ecologia
humana » (cf. Centesimus Annus, 38).
Alfonso Card. López Trujillo
Presidente do Conselho Pontifício
para a Família
+ S.E.R. Mons. Francisco Gil
Hellín
Secretário
Nenhum comentário:
Postar um comentário