São José e o Menino Jesis | A12 |
José era descendente da casa real de Davi, e dele
conhecemos apenas as referências dos Evangelhos. Residia em Nazaré e era
carpinteiro (um termo genérico, em Grego, designando trabalhadores
manuais e/ou relacionados à construção civil). Maria
havia-lhe sido prometida em casamento: “A origem de Jesus Cristo foi assim: Maria, sua mãe, comprometida
em casamento com José, antes que coabitassem, achou-se grávida pelo Espírito
Santo. José, seu esposo, sendo justo e não querendo denunciá-la publicamente,
resolveu repudiá-la em segredo.” (Mateus 1:18-19).
O costume judeu na época era de que os noivos,
antes da celebração das bodas, podiam já conviver; ora, José e Maria haviam feito voto de castidade, e a gravidez de
Maria o deixou confuso. Mesmo sem duvidar da pureza Dela, sabia que o filho não
era seu, e neste caso a lei judaica previa que as adúlteras fossem apedrejadas
até a morte. Para evitar isto, José decide fugir em segredo, de
modo a que ele fosse culpado, diante da lei, de abandonar a esposa grávida, o
que protegeria Maria. Ela, por outro lado, certamente inspirada pelo Espírito
Santo, e por humildade, não quis revelar que havia concebido por Deus, como a
Escolhida para Mãe do Salvador, confiando em Deus para o que quer que
acontecesse.
De fato, “Eis que o Anjo do Senhor manifestou-se a ele em um sonho, dizendo:
'José, filho de Davi, não temas receber Maria, tua mulher, pois o que Nela foi
gerado vem do Espírito Santo. Ela dará à luz um filho e tu o chamarás com o
nome de Jesus, pois Ele salvará o Seu povo dos seus pecados'. (...) José, ao
despertar do sono, agiu conforme o Anjo do Senhor lhe ordenara e recebeu em sua
casa sua mulher” (Mt 1,21-24).
Estas são as primeiras das Sete Dores e Alegrias de
São José, uma oração proposta pela Igreja: 1. Pensar
em abandonar Maria / A visão do Anjo Gabriel em sonho. Perto do tempo previsto
do nascimento de Jesus, por um decreto de recenseamento do imperador romano,
eles foram para Belém, onde Maria deu à luz ao Menino Jesus: 2. Ver o Menino nascer numa gruta fria / O louvor
dos anjos, pastores e reis Magos. Como lhe havia sido dito em sonho, Jesus é
circuncidado e recebe o nome: 3. A dor
da circuncisão de Jesus / A honra de dar-Lhe o nome.
A Lei obrigava ao resgate ritual dos primogênitos e
à purificação das mães, de que tanto Jesus quanto Maria estavam naturalmente
isentos, mas a Sagrada Família, para dar exemplo e para evitar escândalo, foi
ao Templo conforme o costume. Não sendo ricos, ofertaram o mínimo previsto, um
par de pombinhos: 4. A profecia de Simeão de dor
para Maria e Jesus / A previsão de Ana da Redenção por Jesus.
Em novo sonho, o anjo preveniu José que Herodes
queria matar o Menino Jesus e mandou-o levar a família para o Egito: 5. A dor do desterro para o Egito / A queda dos ídolos
de seus pedestais. Após quatro anos, o anjo lhe avisa da morte de Herodes e do
perigo de Arquelau, ordenando a volta a Israel: 6. A dor
de não poder voltar para Jerusalém /A volta para Nazaré. De volta à pátria, a
Sagrada Família, conforme a Lei, todos os anos vai ao Templo em Jerusalém para
celebrar a Páscoa, e com 12 anos Jesus Se deixa lá ficar na volta – as
caravanas eram separadas em homens e mulheres, e José e Maria criam que seu
filho estava com o outro; assim, no terceiro dia de marcha, voltam aflitos a
Jerusalém, encontrando-O no Templo a ensinar os doutores da Lei: 7. A perda de Jesus no Templo / O reencontro entre
os doutores. Esta é a última vez que José é mencionado nas Sagradas Escrituras,
e assume-se que faleceu antes de Jesus iniciar a Sua vida pública.
A missão de São José incluiu a proteção de Maria e
Jesus, dar a Ele a descendência de Davi (necessário,
para cumprir as promessas; segundo a Lei e perante a sociedade, José garante
que Jesus é filho de Davi) e o nome próprio,
educá-Lo e mantê-Lo, ensinar-Lhe um ofício. Dar-lhe o amor, a segurança e a
orientação de um pai, como todo filho necessita. Por exercer
esta indispensável providência, José (como Jesus e Maria) também tem uma imagem
no Antigo Testamento, José do Egito, filho de Jacó, que proveu aos necessitados (“Ide a José, e fazei tudo que ele vos disser”,
cf Gen 41,55).
A dignidade de José só está abaixo da de Deus e de
Maria. A ele Deus confiou Suas riquezas: Jesus e Maria, portanto é o único
homem à Sua altura, e por isso chamado na Bíblia de Justo, o que a Igreja
entende como um grau máximo de santidade. Como esposo e pai adotivo, o chefe da Sagrada
Família, a ele serviam e obedeciam a Mãe de Deus e o próprio Deus Encarnado,
que quis obedecer-lhe. Assim como Nossa Senhora, José, por desígnio divino,
recebeu a mais alta responsabilidade e honra possível a um ser humano, a guarda
e o cuidado de Cristo Redentor, mas, também como Ela, disse livremente “sim” à
sua missão; por isso é, de todos, o varão mais digno da humanidade.
Recebe deste modo o culto especial de protodulia
(dulia é o culto devido a Deus, hiperdulia o devido a Maria), o primeiro a ser
venerado na hierarquia dos Santos. É
verdade que Jesus disse, “(...) de todos os homens que
já nasceram, nenhum é maior do que João Batista. No entanto, o menor no Reino
dos Céus é maior do que ele”, o que significa que João, último
representante da promessa do Antigo Testamento, é o maior dentre os antigos,
mas, a partir da Encarnação, José está muito acima dele.
Santo Agostinho, Doutor da Igreja, compara os
outros santos às estrelas, mas São José ao Sol. Ainda dois aspectos da dignidade de São José:
o divino lar que ele dirigia com autoridade de pai foi o berço da Igreja
nascente, pois Maria é Mãe de Jesus e portanto do Seu Corpo Místico; e une em
si e na sua santidade tanto a realeza de legítimo sucessor de Davi quanto a
humildade servil do trabalhador comum, algo que compartilha com o próprio
Jesus. Reinar é servir, a Deus e aos irmãos.
Se Jesus recorreu a José, quanto mais nós,
pecadores. Em outras palavras, quando José apresenta a Cristo a necessidade de algum devoto seu,
Ele também no Céu obedece a Seu pai terreno, como obedece a Maria Sua Mãe,
nossos dois maiores intercessores. Pois em função da missão e
predestinação de São José e da Virgem Maria, que requeriam uma santidade total,
Deus lhe concedeu todas as graças, e tem diante de Deus privilégios únicos.
Isto foi revelado a Santa Águeda; e Santa Teresa de Ávila testemunha que nunca
lhe pediu nada que não fosse atendido: ao contrário de outros santos,
padroeiros de causas específicas, São José socorre em tudo.
A Igreja teve, portanto, extremo cuidado para que
São José fosse honrado como convém. As mesmas indulgências, concedidas pela
Igreja a quem faz com as devidas disposições o mês de Maria (maio), são
concedidas a quem faz o mês de São José (março); como os sábados são dedicados a Maria, as quartas-feiras a são a
ele; da mesma forma que há uma devoção especial às sete dores e aos sete gozos
de Maria, há também uma devoção especial às sete dores e aos sete gozos de São
José; da mesma forma que para Maria, existem para ele rosários,
coroinhas ladainhas, orações, jaculatórias e hinos, a fim de honrá-Lo e
invocá-Lo; a Igreja pede que se diga nas invocações “Jesus, José e Maria”, sem
separá-los.
Embora os primeiros registros devocionais a São
José sejam do ano 800, sua figura ficou escondida nos primeiros séculos do
cristianismo, para que se firmasse melhor a origem divina de Jesus. Mas já na
Idade Média São Bernardo, Santo Alberto Magno e São Tomás de Aquino lhe
dedicaram tratados. Desde então, seu culto cresce continuamente, como deve ser.
Inúmeras são as exaltações a São José. Ele é
padroeiro e guarda da Igreja Católica; padroeiro, intercessor, advogado e
modelo das famílias cristãs, modelo para os pais; patrono dos carpinteiros,
operários e trabalhadores, e da justiça social; patrono dos moribundos e das
almas atribuladas; terror dos demônios, que dele fogem quando invocado; patrono
de várias dioceses e lugares. Várias
imagens veneradas de São José receberam uma coroação canônica por um Papa; seu
nome está no cânon da missa, imediatamente após o da Virgem Maria; e tem seu
nome nas três outras orações eucarísticas. A festa de 19 de março
normalmente cai no meio da Quaresma, por isso a Igreja abre neste dia uma
exceção litúrgica e celebra com paramentos brancos a sua festa, retirando o
roxo penitencial.
Em muitas imagens de São José ele carrega um
lírio, símbolo da sua castidade e pureza, dom de quem vive unido a Jesus
– “Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus” (Mt 5,8). Em antigas representações ele tem a
aparência de um idoso, prática piedosa mas completamente errada e até
perniciosa: São José foi casto por opção de santidade,
como a Virgem Maria, e não por senilidade.
Colaboração: José Duarte de Barros Filho
Reflexão:
O nome José significa em Hebraico “Deus
acrescenta”, ou, “cumula de bens”. Aceitando a sua missão, São José cumula a
Humanidade dos maiores bens possíveis, Maria e Jesus, portanto seu papel é
primordial na História da Salvação: nada mais há para acrescentar. Devemos,
sim, é limitar-lhe o exemplo de silêncio e obediência, silêncio na alma para
ter pronta obediência a Deus. Nem uma única palavra sua foi registrada nos
Evangelhos, sinal de que, se obedecemos como o Senhor nos pede, nenhum alarde é
preciso, mas apenas os louvores necessários, como nas poucas palavras de Maria.
Em nenhuma Igreja, mesmo que consagradas a outros santos, devem faltar as
imagens de Maria e José, bem como, óbvia e necessariamente, o Crucifixo e
imagens de Jesus. Se o nome de José está no cânon da Missa, em destaque, também
fisicamente a sua figura deve ser venerada. É preciso pedir sempre a este
intercessor supremo. Santa Ágata, numa revelação, esclarece que muitos vão
lamentar não lhe terem pedido as graças, principalmente espirituais, de que
necessitam. Por isso, assim como quando os egípcios carentes de alimentos
imploravam ao Faraó que lhes desse comida, e este lhes dizia: “Ide a José”,
hoje, quando os povos são invadidos por um neopaganismo que nega a Deus e a Seu
Cristo, que abandona a Igreja e a ataca; quando o sensualismo toma conta das
mentes e dos meios de comunicação; e as misérias humanas afloram em toda parte,
inclusive na Igreja, mais ainda devemos clamar: socorrei-nos São José, dai-nos
o alimento da Salvação que vem do Pão do Céu, e que a vós em tudo atende!
Oração:
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