A bem-aventurança da fé / comshalom |
A BEM-AVENTURANÇA DA FÉ
Dom Rodolfo Luís Weber
Arcebispo de Passo Fundo (RS)
Há oito dias celebramos a Páscoa e a vida
cristã vai se renovando a partir do mistério pascal. A oração da coleta do
segundo domingo da Páscoa reza: “Ó Deus de eterna misericórdia, que reacendeis
a fé do vosso povo na renovação da festa pascal, aumentai a graça que nos
destes. E fazei que compreendamos melhor o batismo que nos lavou, o espírito
que nos deu nova vida, e o sangue que nos redimiu”. A Palavra de Deus deste
domingo (Atos 2,42-47; Salmo 117, 1Pedro 1,3-9 e João 20,19-31) relata a vida
nova dos apóstolos após se encontrarem com o Cristo ressuscitado; o livro de
Atos apresenta os traços das primeiras comunidade cristãs nascidas da fé no
ressuscitado e Pedro reflete sobre a esperança viva e a fé dos batizados.
“Bem-aventurados os que creem sem terem
visto!” É a bem-aventurança da fé que Jesus pronuncia após se encontram com
Tomé e pela segunda vez com os outros apóstolos. A primeira pessoa que recebeu
este reconhecimento foi Maria, a Mãe do Salvador. Quando foi visitar sua prima
Isabel foi-lhe dito: “Bem-aventurada aquela que acreditou, porque se cumprirá o
que lhe foi dito da parte do Senhor” (Lc 1,45). A bem-aventurança da fé tem em
Maria o modelo. Ela acompanhou Jesus em todos os passos, esteve presente aos
pés da cruz e depois se manteve com os apóstolos reunidos no cenáculo em oração
(At 1,14).
A 1ª Carta de São Pedro também fala da fé. Com
grande entusiasmo São Pedro indica aos recém-batizados as razões da esperança
cristã e da sua alegria. “Pela ressurreição de Cristo dentre os mortos, ele nos
fez nascer de novo, para uma esperança viva, para uma herança incorruptível
(…). Graças à fé, e pelo poder de Deus, vós fostes guardados para a salvação
(…) Isto é motivo de alegria para vós (…). Sem ter visto o Senhor, vós o amais.
Sem o ver ainda, nele acreditais. Isso será para vós fonte de alegria indizível
e gloriosa, pois obtereis aquilo em que acreditais: a vossa
salvação”.
A comunidade cristã descrita no livro de Atos
somente é compreensível e somente se torna real se for formada por batizados que
vivem a bem-aventurança da fé. É uma nova geração e um novo modo de viver
diferente de uma comunidade natural. Ela está estruturada sobre quatro colunas
que sustentam o novo edifício espiritual. O primeiro é que “eram perseverantes
em ouvir o ensinamento dos apóstolos”. Não existe comunidade cristã sem
conhecimento dos fundamentos da fé, sem anúncio de Jesus Cristo, sem pregação
(Rm 10,14). Uma comunidade cristã vive de Cristo ressuscitado e cresce graças à
perseverança na adesão a Ele. A perseverança permite à comunidade cristã viver
a fé não como algo adquirido para sempre, mas uma realidade dinâmica, que se
expande e se aprofunda sempre mais.
O segundo fundamento é a perseverança na
“comunhão fraterna”. É a autêntica comunhão, não simplesmente uma amizade e nem
uma sintonia de bons propósitos comuns ou motivações. A comunhão fraterna se
realiza pela comunhão plena por meio de Jesus Cristo. Ele é a fonte da comunhão
que passa pela preocupação mútua, pela partilha de bens materiais, pelo
atendimento aos mais fragilizados e necessitados.
O terceiro e quarto fundamento revela que eram
perseverantes na “fração do pão e nas orações”. A fração do pão é o modo como
São Lucas designa a Eucaristia (At 20,7). A comunidade se reunia para realizar
aquilo que Jesus pediu: “Fazei isto em memória de mim”. Isto e, reunir-se e
fazer memória da vida, paixão, morte e ressurreição de Jesus.
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