A PACIÊNCIA DE SER
Dom Lindomar Rocha Mota
Bispo de São Luís de Montes Belos (GO)
O Ressuscitado cumpriu a
promessa de paz! A paz esteja convosco – é a saudação repetida no encontro do
Senhor com os seus discípulos.
A vitória sobre a morte estava
retirando toda escuridão do coração e da vida! A sombra que havia se espalhado
pelo mundo, finalmente encontra uma luz que tem força e brilho suficientes para
dissipá-la.
Todos devem se aquecer nesta
luz! A Igreja não pode começar sem esse testemunho. João cobre o lapso de tempo
de oito dias num texto rápido. Tomé não estava na primeira aparição, mas oito
dias depois estava, quando Jesus apareceu novamente.
Jesus já havia indicado o
caminho ao dizer: Eu vos dou a paz, não como o mundo a dá! Eu vos dou a paz.
No meio das turbulências do
mundo, turbulência experimentada por Deus encarnado, e por todos nós, como
hoje, naquele tempo também, as desigualdades eram mais acentuadas. Juízes
iníquos se corrompiam contra os pobres e indefesos. Privilegiados aumentavam,
ainda mais, os seus privilégios. Lacunas eram criadas na lei e julgamentos
injustos condenavam inocentes, como bem conhecemos.
Nessa forja ardente Jesus
perambulou pelo mundo e anunciou que paz era o bem maior.
A paz oferecida emerge como um
insuportável ato de coragem. Um convite a não se render ao mal, a não se dobrar
diante das tempestades. Ela é uma invocação para resistir no bem e anunciar um
ano de graça no meio da escuridão do mundo.
A Paz guardada até a
Ressurreição eclode nestes dias. Jesus Ressuscitado introduz a nova saudação no
encontro conosco. De fato, João nos transmite que, estando fechada as portas,
por medo dos Judeus, onde corações aflitos se escondiam, Jesus pôs-se no meio
deles e disse: a paz esteja convosco!
Mas não é o Jesus que eles
conheciam, era o Senhor. Agora Ele pode dar a paz! A derrota da morte é a porta
espalancada que nos fez sair da escuridão. Com Ela a grande esperança foi
concluída e realizada no mundo.
Após encontrar a paz a missão se
tornou viável. Estando em paz é possível anunciar um reino impossível para os
corações feridos.
A tentação de apressar Reino destrói
todo a sua assertividade. A vontade tem que se acostumar a não ter pressa.
Na paciência e no frio da noite
o coração é refeito, e com ele a vida inteira. Estar em paz é o que permite um
esperar produtivo. Controle e espera produtiva são os filhos da paz, a paz que
Jesus dá.
Após essa dádiva começa a
Missão. Erradicada da vida o medo da morte, erradica-se também a tentação de
apressar o Reino de Deus.
A paz produz a paciência de ser!
Ser cristão, portanto, nasce dessa paz encontrada e nunca mais perdida.
É um caminhar lento pelas
veredas entre o joio e a terra que rola ladeira abaixo nos deslizamentos das
encostas.
Em paz, com a paz que ninguém pode tomar, pode-se caminhar pelas encostas da vida, cujo campo está todo semeado de coisas boas e menos boas, misturando-se pelo peregrinar paciente que atura a autonomia do mundo.
Fonte: https://www.cnbb.org.br/
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