ADOTE UM PADRE
Dom Murilo S.R. Krieger
Arcebispo Emérito de Salvador (BA)
A Igreja no Brasil está vivendo,
em 2023, o 3º Ano Vocacional, com o tema: “Vocação: graça e missão”, e o lema:
“Corações ardentes, pés a caminho” (cf. Lc 24,32-33).
Graças às reflexões e textos do
Concílio Ecumênico Vaticano II (1962-1965), houve uma reviravolta na maneira de
se abordar a questão das vocações na vida da Igreja. Até então, falar de
vocações era referir-se particularmente às vocações sacerdotais. A partir do
Concílio Vaticano II, os horizontes tornaram-se mais amplos: passou-se a
insistir, primeiramente, na vocação de todos à santidade. Pelo batismo, Deus
nos chama – chama cada batizado – a ser santo. Num segundo momento é que se vai
pensar nas vocações específicas – isto é, na vocação dos cristãos leigos e
leigas, na dos religiosos e religiosas, e na vocação dos ministros ordenados
(diáconos, presbíteros e bispos).
Fiz essa introdução para deixar
claro que não ignoro a importância de todas as vocações. A partir de minha
vivência episcopal – trinta e oito anos como bispo, em quatro dioceses diferentes
–convenci-me profundamente de quanto é importante, para nossas comunidades, a
presença e a atuação do sacerdote. Não há novidade nisso. O próprio Vaticano II
já havia afirmado que “os presbíteros, quer se entreguem à oração e à adoração,
quer preguem a palavra de Deus, quer ofereçam o sacrifício eucarístico e
administrem os demais sacramentos, quer exerçam outros ministérios a favor dos
homens, concorrem não só para aumentar a glória de Deus, mas também para fazer
progredir os homens na vida divina” (PO, 2).
A vida dos sacerdotes sempre foi
exigente. E nem poderia ser diferente, já que são chamados a continuar a missão
de Cristo, o Bom Pastor. Em nossos tempos, porém, os desafios se multiplicam e
exigem respostas sábias, decisões imediatas e constantes posicionamentos sobre
os mais diversos temas. Portanto, quanto mais santo e sábio for o presbítero,
mais e melhor servirá a Igreja. Além disso, como a vocação sacerdotal é um dom
de Deus não só para aquele que é seu primeiro destinatário, mas para a Igreja
inteira, toda a Igreja é chamada a proteger esse dom, a estimá-lo e a amá-lo.
Dito isso com palavras do saudoso Papa São João Paulo II: “Todos os membros da
Igreja, sem exceção, têm a graça e a responsabilidade do cuidado pelas
vocações” (PDV, 41). Essa responsabilidade sempre foi cultivada na Igreja.
Prova disso é, entre outras coisas, o apelo constante para que todos rezem não
só pelo aumento das vocações, mas também para a santificação daqueles que já
são padres. Sempre houve na Igreja grupos, comunidades e associações com o
propósito principal de rezar pelos sacerdotes.
É nessa linha que se entende a sugestão que apresento: ADOTE UM PADRE! Dentre os sacerdotes que você conhece ou que atuam na Igreja, escolha um deles, e passe a rezar diariamente por sua santificação. Ofereça sacrifícios para que ele exerça bem o seu ministério. Se for o caso, ofereça por ele até a sua vida. De preferência, nunca lhe fale sobre isso, nem faça comentários a esse respeito com outras pessoas. Os detalhes dessa “adoção” sejam conhecidos somente por você e pelo Bom Pastor. Guarde esse segredo cuidadosamente em seu coração, mas seja fiel a ele, dia por dia. Fazendo isso, você estará respondendo a um apelo da Igreja, que constantemente nos recorda: “Todo o Povo de Deus deve incansavelmente rezar e trabalhar pelas vocações sacerdotais” (PDV, 82). Sua resposta ao apelo de adotar um padre determinado terá uma particularidade: você não estará rezando somente pelo clero em geral, mas por um padre com um nome e um rosto, o que, certamente, motivará ainda mais suas orações, jejuns e sacrifícios. E, tenha certeza: com a santificação de seu “adotado”, todo o clero se santificará. Deus, então, será mais glorificado. E o Povo de Deus, mais e mais se enriquecerá.
Fonte: https://www.cnbb.org.br/
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