As Sagradas Escrituras / Canção Nova |
As Fontes da Teologia: as Sagradas Escrituras
A Sagrada Escritura é a Palavra de Deus escrita e tem lugar especial na
vida da Igreja. Contém a mensagem divina da salvação que sob a inspiração do
mesmo Espírito Santo que falou pelos profetas, foi redigida pelos escritores
sagrados, entre eles os Apóstolos.
Encontra-se intimamente unida à Tradição, que deriva dos Apóstolos e
cresce na Igreja com a ajuda do Espírito Santo.
“A sagrada Tradição, portanto, e a Sagrada Escritura estão intimamente
unidas e compenetradas entre si. Com efeito, derivando ambas da mesma fonte
divina, fazem como que uma coisa só e tendem ao mesmo fim. A Sagrada Escritura
é a palavra de Deus enquanto foi escrita por inspiração do Espírito Santo; a sagrada
Tradição, por sua vez, transmite integralmente aos sucessores dos Apóstolos a
palavra de Deus confiada por Cristo Senhor e pelo Espírito Santo aos Apóstolos,
para que eles, com a luz do Espírito de verdade, a conservem, a exponham e a
difundam fielmente na sua pregação; donde resulta assim que a Igreja não tira
só da Sagrada Escritura a sua certeza a respeito de todas as coisas reveladas.
Por isso, ambas devem ser recebidas e veneradas com igual espírito de piedade e
reverência” (Dei Verbum 9).
“A sagrada Teologia apoia, como em seu fundamento perene, na
palavra de Deus escrita e na sagrada Tradição, e nela se consolida firmemente e
sem cessar se rejuvenesce, investigando, à luz da fé, toda a verdade contida no
mistério de Cristo. As Sagradas Escrituras contêm a palavra de Deus, e, pelo
fato de serem inspiradas, são verdadeiramente a palavra de Deus; e por isso, o
estudo destes sagrados livros deve ser como que a alma da sagrada teologia.
Também o ministério da palavra, isto é, a pregação pastoral, a catequese, e
toda a espécie de instrução cristã, na qual a homilia litúrgica deve ter um
lugar principal, com proveito se alimenta e santamente se revigora com a
palavra da Escritura” (Dei Verbum 24).
2. O Cânon Bíblico;
Cânon é um padrão, uma norma que julga um pensamento ou uma doutrina. O
cânon bíblico é o conjunto dos livros que a Igreja considera oficialmente como
base da sua doutrina e dos seus costumes, pelo fato de serem inspirados por
Deus.
A canonicidade não supõe a autenticidade literária. Por muito tempo, por
exemplo, se pensou que a Carta aos Hebreus fosse obra de São Paulo. Hoje isso
não é aceito na ciência bíblica, mas com isso essa carta não deixa de ser
canônica e inspirada por Deus.
O cânon bíblico foi definido tal como o conhecemos hoje por volta do ano
300. Os critérios que determinaram o reconhecimento dos livros como Palavra de
Deus foram os seguintes: uma reta regra de fé, uma clara origem apostólica
(para os livros do Novo Testamento) e o uso habitual no culto.
“A Igreja venerou sempre as divinas Escrituras como venera o
próprio Corpo do Senhor, não deixando jamais, sobretudo na sagrada Liturgia, de
tomar e distribuir aos fiéis o pão da vida, quer da mesa da palavra de Deus
quer da do Corpo de Cristo. Sempre as considerou, e continua a considerar,
juntamente com a sagrada Tradição, como regra suprema da sua fé” (Dei Verbum 21).
3. Inspiração da Escritura;
A inspiração da Sagrada Escritura é um carisma, um dom do Espírito
Santo, que atuou nos escritores sagrados. É a ação do Espírito Santo na alma
dos escritores o que lhes deu a infalibilidade.
“As coisas reveladas por Deus, contidas e manifestadas na Sagrada
Escritura, foram escritas por inspiração do Espírito Santo. Com efeito, a santa
mãe Igreja, segundo a fé apostólica, considera como santos e canônicos os
livros inteiros do Antigo e do Novo Testamento com todas as suas partes,
porque, escritos por inspiração do Espírito Santo (cfr. Jo. 20,31; 2 Tim. 3,16;
2 Ped. 1, 19-21; 3, 15-16), têm Deus por autor, e como tais foram confiados à
própria Igreja. Todavia, para escrever os livros sagrados, Deus escolheu e
serviu-se de homens na posse das suas faculdades e capacidades, para que,
agindo Ele neles e por eles, pusessem por escrito, como verdadeiros autores,
tudo aquilo e só aquilo que Ele queria.
E assim, como tudo quanto afirmam os autores inspirados ou hagiógrafos
deve ser tido como afirmado pelo Espírito Santo, por isso mesmo se deve
acreditar que os livros da Escritura ensinam com certeza, fielmente e sem erro
a verdade que Deus, para nossa salvação, quis que fosse consignada nas sagradas
Letras. Por isso, «toda a Escritura é divinamente inspirada e útil para
ensinar, para corrigir, para instruir na justiça: para que o homem de Deus seja
perfeito, experimentado em todas as obras boas» ( Tim. 3, 7-17) (Dei Verbum 11).
4. A Hermenêutica bíblica:
“Como, porém, Deus na Sagrada Escritura falou por meio dos homens e à
maneira humana, o intérprete da Sagrada Escritura, para saber o que Ele quis
comunicar-nos, deve investigar com atenção o que os hagiógrafos realmente
quiseram significar e que aprouve a Deus manifestar por meio das suas palavras.
Para descobrir a intenção dos hagiógrafos, devem ser tidos também em
conta, entre outras coisas, os «gêneros literários». Com efeito, a verdade é
proposta e expressa de modos diversos, segundo se trata de gêneros históricos,
proféticos, poéticos ou outros. Importa, além disso, que o intérprete busque o
sentido que o hagiógrafo em determinadas circunstâncias, segundo as condições
do seu tempo e da sua cultura, pretendeu exprimir e de fato exprimiu servindo
se os gêneros literários então usados. Com efeito, para entender retamente o
que autor sagrado quis afirmar, deve atender-se convenientemente, quer aos
modos nativos de sentir, dizer ou narrar em uso nos tempos do hagiógrafo, quer
àqueles que costumavam empregar-se freqüentemente nas relações entre os homens
de então. Mas, como a Sagrada Escritura deve ser lida e interpretada com o
mesmo espírito com que foi escrita, não menos atenção se deve dar, na
investigação do reto sentido dos textos sagrados, ao contexto e à unidade de
toda a Escritura, tendo em conta a Tradição viva de toda a Igreja e a analogia
da fé. Cabe aos exegetas trabalhar, de harmonia com estas regras, por entender
e expor mais profundamente o sentido da Escritura, para que, mercê deste estudo
de algum modo preparatório, amadureça o juízo da Igreja. Com efeito, tudo
quanto diz respeito à interpretação da Escritura, está sujeito ao juízo último
da Igreja, que tem o divino mandato e o ministério de guardar e interpretar a
palavra de Deus”.
5. Sagrada Escritura, Igreja e
Teologia
“A esposa do Verbo encarnado, isto é, a Igreja, ensinada pelo Espírito
Santo, esforça-se por conseguir uma inteligência cada vez mais profunda da
Sagrada Escritura, para poder alimentar continuamente os seus filhos com os
divinos ensinamentos; por isso, vai fomentando também convenientemente o estudo
dos santos Padres do Oriente e do Ocidente, bem como das sagradas liturgias. É
preciso, porém, que os exegetas católicos e os demais estudiosos da sagrada
teologia, trabalhem em íntima colaboração de esforços, para que, sob a
vigilância do sagrado magistério, lançando mão de meios aptos, estudem e
expliquem as divinas Letras de modo que o maior número possível de ministros da
palavra de Deus possa oferecer com fruto ao Povo de Deus o alimento das
Escrituras, que ilumine o espírito, robusteça as vontades, e inflame os
corações dos homens no amor de Deus. O sagrado Concilio encoraja os filhos da
Igreja que cultivam as ciências bíblicas para que continuem a realizar com todo
o empenho, segundo o sentir da Igreja, a empresa felizmente começada, renovando
constantemente as suas forças” (Dei Verbum 23).
Recentemente o Papa Bento XVI, num discurso à Pontifícia Comissão
Bíblica esclarecia esse tema.
“Só o contexto eclesial permite à Sagrada Escritura ser entendida como
autêntica Palavra de Deus, que se converte em guia, norma e regra para a vida
da Igreja e em crescimento espiritual dos crentes.
Isso, não impede de nenhuma maneira uma interpretação séria, científica,
mas abre também o acesso às dimensões ulteriores de Cristo, inacessíveis a uma
análise só literária, que é incapaz de acolher em si o sentido global que
através dos séculos guiou a Tradição de todo o Povo de Deus.
Há um princípio hermenêutico sem o qual os escritos sagrados ficariam
como letra morta, só do passado: a Sagrada Escritura deve ser lida e
interpretada com a ajuda do próprio Espírito mediante o qual foi escrita.
O estudo científico dos textos sagrados é importante, mas não é por si
só suficiente, pois levaria em conta só a dimensão humana.
Para respeitar a coerência da fé da Igreja, o exegeta católico tem que
estar atento a perceber a Palavra de Deus nestes textos, dentro da mesma fé da
Igreja.
O exegeta católico não se sente só membro da comunidade científica, mas
também e sobretudo membro da comunidade dos crentes de todos os tempos.
Na realidade, estes textos não foram entregues só aos pesquisadores ou à
comunidade científica para satisfazer sua curiosidade e ou para oferecer-lhes
temas de estudo e de pesquisa. Os textos inspirados por Deus foram confiados em
primeiro lugar à comunidade dos crentes, à Igreja de Cristo, para alimentar a
vida de fé e para guiar a vida de caridade.
Uma hermenêutica da fé corresponde mais à realidade deste texto que uma
hermenêutica racionalista, que não conhece Deus”
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