A Virgem de Nazaré é saudada pelo Anjo, da parte de Deus, como «cheia de graça» (Copyright Paolo Gallo) |
"A intenção do Concílio, na
conclusão da LG, não é apresentar um tratado completo e exaustivo de todas as
verdades marianas. Não haveria espaço e tempo para falar sobre toda a doutrina
Mariológica da Igreja. Mas o intento dos padres conciliares foi de inserir
Maria no seu papel fundamental dentro da Igreja, na história da salvação dos
homens."
Jackson
Erpen - Cidade do Vaticano
Maria é
introduzida no mistério de Cristo definitivamente mediante
a Anunciação do Anjo, em Nazaré, "em circunstâncias bem precisas
da história de Israel, o povo que foi o primeiro destinatário das promessas de
Deus. O mensageiro divino diz à Virgem: «Salve, ó cheia de graça, o Senhor é
contigo»".
Na Carta Encíclica Redemptoris Mater, São João
Paulo II recorda que a Anunciação "é a revelação do mistério da Encarnação
exatamente no início da sua realização na terra. A doação salvífica que Deus
faz de si mesmo e da sua vida, de alguma maneira a toda a criação e,
diretamente, ao homem, atinge no mistério da Encarnação um dos seus pontos
culminantes", o que constitui "um vértice de todas as doações de
graça na história do homem e do cosmos. Maria é a «cheia de graça», porque a Encarnação
do Verbo, a união hipostática do Filho de Deus com a natureza humana, se
realiza e se consuma precisamente nela. Como afirma o Concílio, Maria é «Mãe do
Filho de Deus e, por isso, filha predileta do Pai e templo do Espírito Santo;
e, por este insigne dom de graça, leva vantagem a todas as demais criaturas do
céu e da terra»".
Depois de
"Maria na história salvífica", Pe. Gerson Schmidt* nos
propõe hoje a reflexão "Maria na anunciação":
"A
intenção do Concílio, na conclusão da LG, não é apresentar um tratado completo
e exaustivo de todas as verdades marianas. Não haveria espaço e tempo para
falar sobre toda a doutrina Mariológica da Igreja. Mas o intento dos padres
conciliares foi de inserir Maria no seu papel fundamental dentro da Igreja, na
história da salvação dos homens. Igreja é virgem e mãe, concebida sem pecado e
carrega o peso da história, e já possui uma dimensão escatológica. A Igreja é
antecipada em Maria. Ela é a Igreja já realizada, ou ela é aquilo que a Igreja
deverá ser um dia, quando terminar seu percurso na terra. Por essa razão, a
Mariologia insere-se na eclesiologia do Vaticano II, para apontar um ideal a
ser perseguido pela Igreja. Maria, a Mãe de Deus, é, assim, modelo para a
Igreja e mãe da Igreja.
Estamos
dissecando os pontos mariológicos abordados na LG. No número 56 da Lumen
Gentium afirma assim sobre Maria e a anunciação: “Mas o Pai das
misericórdias quis que a aceitação, por parte da que Ele predestinara para mãe,
precedesse a encarnação, para que, assim como uma mulher contribuiu para a
morte, também outra mulher contribuísse para a vida. É o que se verifica de
modo sublime na Mãe de Jesus, dando à luz do mundo a própria Vida, que tudo
renova. Deus adornou-a com dons dignos de uma tão grande missão; e, por isso,
não é de admirar que os santos Padres chamem com frequência à Mãe de Deus «toda
santa» e «imune de toda a mancha de pecado», visto que o próprio Espírito Santo
a modelou e d'Ela fez uma nova criatura (175). Enriquecida, desde o primeiro
instante da sua conceição, com os esplendores duma santidade singular, a Virgem
de Nazaré é saudada pelo Anjo, da parte de Deus, como «cheia de graça» (cf. Lc
1,28); e responde ao mensageiro celeste: «eis a escrava do Senhor, faça-se em
mim segundo a tua palavra» (Lc 1,38).
Deste modo,
Maria, filha de Adão, dando o seu consentimento à palavra divina, tornou-se Mãe
de Jesus e, não retida por qualquer pecado, abraçou de todo o coração o
desígnio salvador de Deus, consagrou-se totalmente, como escrava do Senhor, à
pessoa e à obra de seu Filho, subordinada a Ele e juntamente com Ele, servindo
pela graça de Deus omnipotente o mistério da Redenção. Por isso, consideram com
razão os santos Padres que Maria não foi utilizada por Deus como instrumento
meramente passivo, mas que cooperou livremente, pela sua fé e obediência, na
salvação dos homens.
Como diz S.
Ireneu, «obedecendo, ela tornou-se causa de salvação, para si e para todo o
gênero humano» (176). Eis porque não poucos, Padres afirmam com ele, nas suas
pregações, que «o no da desobediência de Eva foi desatado pela obediência de
Maria; e aquilo que a virgem Eva atou, com a sua incredulidade, desatou-o
a virgem Maria com a sua fé» (177); e, por comparação com Eva, chamam Maria a
«mãe dos vivos»(178) e afirmam muitas vezes: «a morte veio por Eva, a vida veio
por Maria»”
Muitos
santos Padres e Doutores da Igreja veem na mulher, anunciada no
proto-Evangelho, a Mãe de Cristo, Maria, como «nova Eva» (Catecismo da Igreja
Católica, 411; 511;726; 975). Os antigos notaram que a saudação de Gabriel,
Ave, era o contrário de Eva, nome latino da esposa perfeita que Deus criou para
Adão. Mas, essa imagem de Nova Eva, é também atribuída à Igreja, nascida na
cruz de Cristo. Como diz o Catecismo: “A Igreja nasceu primeiramente do dom
total de Cristo para nossa salvação, antecipado na Eucaristia e realizado na
cruz” (CIC, 766).
Podemos
afirmar esse trocadilho de letras, apontadas em muitos enunciados: EVA se
tornou AVE. A negativa de Eva, é corrigida pelo SIM de Maria. O Papa Bento XVI
na festa da Assunção de 2011 disse assim: “ (...) Os nossos progenitores (Adão
e Eva) foram derrotados pelo maligno; na plenitude dos tempos, Jesus, novo
Adão, e Maria, nova Eva, vencem definitivamente o inimigo, e esta é a alegria
deste dia! (...)”. Do mesmo modo que Jesus teria reabilitado o pecado de Adão,
assim também Maria teria reabilitado a desobediência de Eva. Santa Maria, Eva
da Nova Criação e Mãe dos viventes, rogai por nós”. O Catecismo da Igreja
Católica aponta assim: “No termo desta missão do Espírito, Maria torna-se a
«Mulher», a nova Eva «mãe dos vivos», Mãe do «Cristo total». É como tal que Ela
está presente com os Doze, «num só coração, assíduos na oração», no alvorecer
dos «últimos tempos», que o Espírito vai inaugurar na manhã do Pentecostes, com
a manifestação da Igreja." (CIC 726)."
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