Basílica de Santo Agostinho em Roma | Presbíteros |
Mitos litúrgicos
Quando eu era criança, tínhamos na creche que eu freqüentava a “hora do
conto”, onde se contavam estórias sobre lendas infantis, como: chapeuzinho
vermelho, lobo mau, branca de neve, sete anões, João e Maria, três porquinhos,
Cinderela, Saci-Pererê, etc.
Infelizmente, tenho visto que muitos escritos sobre Liturgia editados no
Brasil e muitos cursos de Liturgia ao nosso redor tem se tornado uma “hora do
conto”, onde se ensina mitos que não correspondem à verdade da doutrina e da
disciplina da Santa Igreja Católica Apostólica Romana.
Não me refiro, evidentemente, à má intenção de quem promove ou ministra
tais cursos, pois isto não cabe a mim julgar. A avaliação que faço aqui é
puramente a nível de conteúdo.
Vejo que é freqüente se ensinar mitos como: “A Presença de Jesus na
Palavra é tão completa como na Eucaristia; a Eucaristia é para ser comida e não
para ser adorada; a adoração eucarística fora da Missa é ultrapassada; na
consagração deve-se estar em pé; a noção da Missa como Sacrifício é
ultrapassada; é mais expressivo no altar a imagem de Jesus Ressuscitado do que
de Jesus crucificado; quem celebra a Missa não é o Padre, e sim toda a
comunidade; a Igreja pode vir a ordenar mulheres; a Missa é para os fiéis; não
se assiste à Missa; qualquer pessoa pode comungar; a absolvição comunitária
substitui a confissão individual; é errado comungar na boca e de joelhos; a
comunhão tem que ser em duas espécies; o Ministério extraordinário da Sagrada
Comunhão existe para promover a participação dos leigos; o cálice e o cibório
podem ser de qualquer material; os fiéis podem rezar junto a doxologia e a
oração da paz; o sacerdote usar casula é algo ultrapassado; o Concílio Vaticano
II aboliu o latim; para participar bem da Missa é preciso entender a língua que
o padre celebra; o canto gregoriano é algo ultrapassado; atualmente o padre tem
que rezar de frente para os fiéis; o Sacrário no centro é anti-litúrgico; não
se deve ter imagens dos santos nas igrejas; cada comunidade deve ter a Missa do
seu jeito; pode-se fazer tudo o que o Missal não proíbe; o padre é autoridade,
por isso deve-se obedecê-lo em tudo; procurar obedecer à leis é farisaísmo; o
que importa é o coração; a Missa Tridentina é antiquada; para celebrar a Missa
Tridentina é preciso autorização do Bispo local; ir à Missa dominical não é
obrigação.”
A diferença entre tais idéias e o autêntico pensamento católico é
facilmente constatada, confrontando estes mitos aos documentos oficiais da
Santa Igreja editados em Roma. São idéias que, evidentemente, não surgiram ao
acaso, mas são fruto direto ou influência de uma teologia litúrgica modernista
e incompatível com a autêntica teologia católica. Aqui na América Latina,
muitas delas foram historicamente reforçadas pela disseminação de teologias
importadas e da chamada “Teologia da Libertação”, esta de caráter marxista, que
é incompatível com o pensamento da Santa Igreja e faz uma releitura de toda
teologia (inclusive da teologia litúrgica), como está expresso em diversos
documentos do Sagrado Magistério (ver a “Instrução sobre alguns aspectos da
Teologia da Libertação”, da Sagrada Congregação para Doutrina da Fé, de 06 de
Agosto de 1984).
O objetivo deste artigo é expor abaixo cada um desses mitos litúrgicos
citados e os contrapor com a palavra oficial da Santa Igreja. Todas as citações
utilizadas sobre disciplina litúrgica, de documentos da Santa Igreja, se
aplicam à forma do Rito Romano aprovada pelo Papa Paulo VI (que é atualmente a
forma ordinária), com exceção dos mitos 30 e 31, que falam expressamente sobre
a Missa Tridentina, que é a forma tradicional e (atualmente) extraordinária do
Rito Romano.
Vamos aos mitos listados (32, ao todo) e suas contra-argumentações:
Mito 1: “A Presença de Jesus na Palavra é tão completa como na
Eucaristia”
Não é.
Ensina-nos o Sagrado Magistério da Santa Igreja Católica Apostólica
Romana que Nosso Senhor Jesus Cristo está presente verdadeiramente e
substancialmente no Santíssimo Sacramento do Altar, em Corpo, Sangue, Alma e
Divindade, nas aparências do pão e do vinho, como afirma o Catecismo da Igreja
Católica (Cat.), nos números 1374-1377.
E por na Hóstia Consagrada Nosso Senhor está presente de maneira
substancial, o Papa Paulo VI afirma (Encíclica Mysterium Fidei, n. 40-41, de
1965) a supremacia da Presença Eucarística de Nosso Senhor sobre as demais
formas de presença:
“Estas várias maneiras de presença enchem o espírito de assombro e
levam-nos a contemplar o Mistério da Igreja. Outra é, contudo, e
verdadeiramente sublime, a presença de Cristo na sua Igreja pelo Sacramento da
Eucaristia. Por causa dela, é este Sacramento, comparado com os outros, “mais
suave para a devoção, mais belo para a inteligência, mais santo pelo que
encerra”; contém, de fato, o próprio Cristo e é “como que a perfeição da vida
espiritual e o fim de todos os Sacramentos”. Esta presença chama-se “real”, não
por exclusão como se as outras não fossem “reais”, mas por antonomásia porque é
substancial, quer dizer, por ela está presente, de fato, Cristo completo, Deus
e homem.”
Também o próprio Concílio Vaticano II, na Constituição Sacrosanctum
Concilium (n.7), afirma esta supremacia da Presença Eucarística: “Para realizar
tão grande obra, Cristo está sempre presente na sua igreja, especialmente nas
ações litúrgicas. Está presente no sacrifício da Missa, quer na pessoa do
ministro – «O que se oferece agora pelo ministério sacerdotal é o mesmo que se
ofereceu na Cruz» – quer e SOBRETUDO sob as espécies eucarísticas.”
Afirmar que a presença de Nosso Senhor na Palavra é tão completa como na
Hóstia consagrada significa uma dessas duas coisas: afirmar que Nosso Senhor se
transubstancia na Palavra (aí fazemos o que, comemos a Bíblia e o Lecionário?),
ou negar a Presença Substancial de Nosso Senhor na Hóstia Consagrada, o que
atenta conta o Mistério central da fé católica, pois a Eucaristia é “fonte e
ápice da vida cristã” (Lumen Gentium, n.11)
Referências Bibliográficas após o último artigo.
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