Catequese do Papa Francisco (osservatoreromano) |
Não se pode anunciar sem sair e sem se pôr a caminho
13 abril 2023
«Não há cristão se não estiver
em movimento» e «não há proclamação sem movimento», pois não se evangeliza
«parado, fechado num escritório, na escrivaninha ou no computador, fazendo
polêmicas como “leões do teclado” e substituindo a criatividade da proclamação
com o copia-e-cola de ideias», mas «movendo-se, caminhando, indo», comentou o
Papa na audiência geral de quarta-feira 12 de abril, na Praça de São Pedro.
Continuando a sua catequese sobre o tema «Paixão pela evangelização: o zelo
apostólico do crente», Francisco voltou a oferecer pela segunda vez como modelo
a figura do Apóstolo Paulo.
Estimados irmãos e irmãs,
bom dia!
Depois de
ter visto, há duas semanas, o impulso pessoal de São Paulo pelo Evangelho, hoje
podemos refletir mais profundamente sobre o zelo evangélico à medida que ele
mesmo fala e o descreve nalgumas das suas cartas.
Em virtude da própria
experiência, Paulo não ignora o perigo de um zelo distorcido, orientado numa
direção errada; ele próprio caiu neste perigo antes da providencial queda no
caminho de Damasco. Por vezes temos de lidar com um zelo mal orientado,
obstinado na observância de normas puramente humanas e obsoletas para a
comunidade cristã. «O interesse — escreve o Apóstolo — que mostram por vós não
é bom» (Gl 4, 17).
Não podemos
ignorar a solicitude com que alguns se dedicam a ocupações erradas, inclusive
na própria comunidade cristã; podemos gabar-nos de um falso impulso evangélico
ao mesmo tempo que perseguimos a vanglória ou as próprias convicções ou um
pouco de amor-próprio.
Por isso perguntemo-nos: quais
são as caraterísticas do verdadeiro zelo evangélico segundo Paulo? Por isso,
parece ser útil o texto que ouvimos no início, uma lista de “armas” que o
Apóstolo indica para a batalha espiritual. Entre elas está a prontidão
para propagar o Evangelho, traduzida por alguns como “zelo” — esta pessoa é
um zelante na realização destas ideias, destas coisas —, e indicada como
“calçado”. Por quê? Como se relaciona o impulso pelo Evangelho com o que se põe
em pé? Esta metáfora retoma um texto do profeta Isaías, que diz: «Que formosos
são, sobre os montes, / os pés do mensageiro que anuncia a paz, / que traz a
boa nova, e que apregoa a vitória! / que diz a Sião: o teu Deus é Rei» (52, 7).
Também aqui
encontramos referência aos pés de um anunciador de boas notícias. Por quê?
Porque aquele que vai anunciar se deve mover, deve caminhar! Mas notamos também
que Paulo, naquele texto, fala do calçado como parte de uma armadura, segundo a
analogia do equipamento de um soldado que vai para a batalha: no combate, era
fundamental ter estabilidade de apoio, para evitar as armadilhas do terreno,
pois com frequência o adversário disseminava o campo de batalha com armadilhas,
e ter a força para correr e mover-se na direção certa. Portanto, o calçado é
para correr e evitar todas estas coisas do adversário.
O zelo
evangélico é o apoio em que se baseia o anúncio, e os anunciadores são um pouco
como os pés do corpo de Cristo que é a Igreja. Não há proclamação sem
movimento, sem “saída”, sem iniciativa. Isto significa que não há cristão se
não estiver em movimento, não se é cristão se não se sair de si mesmo para se
pôr a caminho e levar o anúncio. Não há anúncio sem movimento, sem caminho. Não
se anuncia o Evangelho parado, fechado num escritório, na escrivaninha ou no computador,
fazendo polémicas como “leões do teclado” e substituindo a criatividade da
proclamação com o copia-e-cola de ideias tiradas daqui e dali. Anuncia-se o
Evangelho movendo-se, caminhando, indo.
O termo utilizado por Paulo,
para indicar o calçado de quantos levam o Evangelho, é uma palavra grega que
denota prontidão, preparação, alacridade. É o oposto de desleixo, incompatível
com o amor. De facto, noutros lugares Paulo diz: «Sede diligentes, sem
fraqueza, fervorosos de espírito, dedicados ao serviço do Senhor» (Rm 12,
11). Esta atitude era a exigida no Livro do Êxodo para celebrar o sacrifício da
libertação pascal: «Quando o comerdes, tereis os rins cingidos, as sandálias
nos pés e o bordão na mão. Comê-lo-eis apressadamente pois é a Páscoa do
Senhor. Passarei nesta noite» (12, 11-12a).
Um anunciador está pronto para
ir, e sabe que o Senhor passará de uma forma surpreendente; deve, portanto,
estar livre de esquemas e preparado para uma ação inesperada e nova: preparado
para as surpresas. Aquele que proclama o Evangelho não pode estar fossilizado
em jaulas de plausibilidade ou no “sempre se fez assim”, mas está pronto a
seguir uma sabedoria que não é deste mundo, como diz Paulo falando de si: «A
minha palavra e a minha pregação não consistiram em discursos persuasivos da
sabedoria humana, mas na manifestação do Espírito e do poder divino, para que a
vossa fé não se apoie na sabedoria dos homens, mas no poder de Deus» (1 Cor 2,
4-5).
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