Papa Francisco em Vigília (Vatican Media) |
Neste
"grande silêncio" do dia, a Igreja reflete Cristo morto para celebrar
a sua vitória sobre a morte. "O nosso silêncio tem pleno sentido em Jesus
ressuscitado e ajuda a compor um itinerário de vida para produzir frutos à
nossa história", diz Pe. Maicon Malacarne. E Ir. Grazielle Rigotti
desafia: há quanto tempo "você não saboreia o silêncio diante de um mundo
tão ensurdecedor e barulhento? Nossa Senhora sabia silenciar para escutar do
coração o que não entendia".
Andressa Collet - Vatican News
A Vigília Pascal na Noite Santa, que conclui o
tríduo e no Vaticano será presidida pelo Papa Francisco na Basílica de São
Pedro com transmissão ao vivo - em português - pelos canais do Vatican News a
partir das 19h30 na Itália (14h30 no horário de Brasília), é vivida por um dia
de silêncio. No Sábado Santo, a Igreja medita e reflete Cristo morto para se
chegar à noite e celebrar a vitória de Jesus sobre a morte. O padre Maicon
André Malacarne, da diocese de Erexim/RS, desde 2021 cursando mestrado em
Teologia Moral na Academia Alfonsiana, em Roma, acrescenta:
"O sábado, dentro da grande celebração do
Tríduo Pascal, do centro do mistério da nossa fé, é o dia que nós estamos
diante do sepulcro de Jesus. Estamos diante de um amor capaz de amar até o fim.
Estamos diante de um amor capaz de amar até a cruz. Estar diante do sepulcro de
Jesus crucificado é estar diante das grandes contradições que marcaram e que
marcam a história da humanidade e que exige um empenho de transformação."
Saber silenciar como Maria
No dia em que a Igreja contempla o
"repouso" de Cristo no túmulo, após o vitorioso combate da cruz, o
papel da Virgem Maria é evocado por toda a sua fé e coração cheio de amor, num
símbolo da dor pela morte de Jesus e a expectativa na ressureição. A Irmã
Grazielle Rigotti da Silva também procura identificar o Sábado Santo com o
silêncio e a esperança que vem de Maria, que também nos questiona o quanto
temos nos colocado à prova, silenciando a nossa alma diante do mundo:
“Sábado
é um dia que por vezes fica no meio do caminho. Entre a sexta e o domingo
existe um vácuo, um espaço... Mas somos chamados neste dia a viver a espera,
com aquela que é a mãe da Esperança: Nossa Senhora. De fato, o sábado não é um
dia para ser esquecido, mas para ser saboreado. Quanto tempo faz que você não
saboreia o silêncio diante de um mundo tão ensurdecedor e barulhento? Silêncio
não necessariamente é vazio. Pode ser gestação, espera e encontro. Nossa
Senhora sabia silenciar para escutar do coração o que não entendia. Ela nos
ensina a silenciar.”
Neste Sábado Santo, de dor pela morte de Jesus e
alegria da sua Ressureição, somos convidados a parar, no recolhimento e na
meditação, e a nos unir à Virgem Mãe e à Igreja, que fica em silêncio: os sinos
não tocam, as igrejas são despojadas e vazias. Um dia que nos ajuda a
compreender como viver, em confiante expectativa, os “muitos dias” de silêncio
que a vida apresenta ao longo da nossa existência. Um dia que chegou a ser
definido como "o mais longo dos dias", um tempo de reflexão, que pode
ser ampliado na vida de cada um.
A Vigília Pascal, momento central do calendário
litúrgico e considerada a mãe de todas as vigílias por anteceder a festa da
Páscoa, inicia na noite de sábado, mas faz parte da liturgia da Páscoa da
Ressurreição. É também o dia da "crise" da Palavra: os próprios
Evangelhos não falam nada, pode-se somente imaginar que esse seja o tempo em
que o corpo de Jesus permanece no sepulcro, enquanto os apóstolos, sendo um dia
de repouso para os judeus, permanecem sem saber o que aconteceria a seguir.
Cultivar espaços de silêncio
Um Sábado Santo que, como já nos recordou o Papa
Francisco (2021), foi vivido "no pranto e na perplexidade pelos primeiros
discípulos, perturbados com a morte ignominiosa de Jesus. Enquanto o Verbo está
em silêncio, enquanto a Vida está no túmulo, aqueles que tinham esperança dele
são postos duramente à prova, sentem-se órfãos, talvez até órfãos de Deus”. E o
Pe. Maicon Malacarne conclui:
"Por isso, o sábado é o convite ao
'grande silêncio'. Não um silêncio de desespero, mas um silêncio de
fecundidade. A imagem da semente ajuda a compor essa fecundidade, esse silêncio
fecundo. Se o grão de trigo não morre, não pode dar frutos, disse Jesus. A
semente que é lançada à terra e que, no silêncio, na espera, de uma vida nova,
cria essa expectativa. É esse silêncio, esse silêncio fecundo, que vai nos
conduzindo para a grande Vigília Pascal. De fato, o Papa Francisco insiste que
cada pessoa possa cultivar espaços de silêncio."
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