O início de um novo começo (Revista Cidade Nova) |
O início de
um novo começo
Texto sobre a Páscoa escrito por Gustavo Monteiro, aos moldes dos que
estão sendo publicados no perfil do Instagram @guga.monteiroo
por Gustavo Monteiro em 08/04/2023
No princípio de tudo, quando o tempo tinha acabado de ser inventado, uma
mulher chamada Eva se viu diante de uma árvore gigantesca, intrigante,
proibida.
Tendo diante de si um fruto (diz um Livro antigo), ela sentiu a
irresistível necessidade de tê-lo dentro de si e de nutrir-se dele. Assim fez
e, ao compartilhá-lo, sentiu-se só.
Esse foi o começo do fim.
Muito tempo depois (diz o mesmo Livro), uma mulher chamada Maria se viu
diante de uma estrutura gigantesca, intrigante, proibida. Os troncos que um dia
foram de uma árvore, dispostos em formato de cruz, penduravam, atado ao centro,
o seu filho.
E ela teve diante de si, assim transformado em nada, o Fruto do seu
ventre.
É verdade que Ele tinha repartido pão e multiplicado peixes, mas o seu
principal nutriente eram, na verdade, Palavras. Foram as suas Palavras que
arrastaram multidões, que operaram tantos milagres. E foram as suas Palavras
que, política e religiosamente mal interpretadas, tinham-no levado àquele
lugar.
O Fruto que um dia tinha saído de dentro de Maria, semente de uma antiga
promessa, era agora arrancado do mundo em desespero e dor. Um homem que deixa
de ser homem. O Filho de Deus que se sente abandonado por Deus.
Também de Maria tinham roubado a sua principal tradução, já não era mãe
de filho vivo. Dessa vez, porém, não havia solidão.
Ao contrário do fruto do início dos tempos, o fruto do ventre de Maria,
recheado de Palavras eternas e feitas com a capacidade de vibrar todas as
cordas do universo, produz família. É impossível experimentar das suas Palavras
(antes, agora ou depois) e não se sentir uma coisa só com o mundo e com todos
(os de antes, os de agora e os de depois).
De pé, desolada, mas sem desespero, Maria sentiu vivas as Palavras que
tinha guardado dentro do peito desde sempre.
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