O verdadeiro sentido da Páscoa /DCI |
O SENTIDO DA PÁSCOA CRISTÃ
Dom Vital Corbellini
Bispo de Marabá (PA)
Desde os primórdios da Igreja celebrou-se o
mistério da Páscoa cristã, pelo seu valor fundamental e salvífico relacionado à
vida cristã. O fato era que no coração da Páscoa, comemoram os cristãos o
mistério da redenção humana, mediante a morte e ressurreição do Senhor Jesus.
Pela Páscoa, a Igreja celebra a passagem da morte do Senhor para a vida
divina.
Jesus Cristo ressuscitou dos mortos: Ele não
está mais no sepulcro (Mt 28,6). Eles não tinham compreendido a Escritura,
segundo a qual ele devia ressuscitar dos mortos (Jo 20, 9). O Senhor
ressuscitado é a primícia da nova criação. A Ressurreição de Jesus é o penhor
da renovação do Universo. Jesus falou por diversas vezes que passaria pelos
sofrimentos, morte, mas no terceiro dia ressuscitaria dos mortos. Para os
apóstolos, aquele linguajar era difícil de compreender, o que será dado só em
Pentecostes.
As mulheres foram as primeiras anunciadoras da ressurreição.
Pela Palavra de Deus vemos a presença das
mulheres como as primeiras anunciadoras da ressurreição do Senhor. O
evangelista Mateus colocou que no primeiro dia da semana, portanto no domingo,
Maria Madalena e a outra Maria foram ao sepulcro. Lá encontraram o anjo que
disse para as mulheres que Jesus não estava mais no sepulcro, ressuscitou como
havia dito. Ele também disse que era para elas irem depressa contar aos
discípulos do Senhor Jesus que ele ressuscitou dos mortos. As mulheres ao
saírem do sepulcro, correram com alegria para dar a notícia aos discípulos. O
Senhor ressuscitado apareceu a elas dizendo que não era para ter medo, mas elas
eram chamadas a anunciar aos irmãos para se dirigirem para a Galileia, porque
lá eles o veriam (Mt 28, 1-10).
Pelo evangelista João, recebeu Maria Madalena
de Jesus a missão de anunciar aos discípulos que Ele estava vivo, ressuscitou
dos mortos. Ela chorava no túmulo, e o Senhor a chamou pelo nome de modo que
ela o identificou como Mestre. Mas Jesus disse-lhe para não a segurar porque
ele não tinha ainda subido para junto do Pai. Mas ela era enviada para dizer aos
irmãos, os discípulos que Jesus sobe ao seu Pai e ao Pai dela e dos discípulos,
ao seu Deus e ao Deus dela e dos discípulos. Jesus colocou a sua condição
divina, junto do Pai diferente da condição humana em que Maria estava. Jesus é
Deus e homem, na qual estão nele as naturezas humana e divina na única pessoa
do Verbo de Deus. Maria foi dizer aos discípulos que ela viu o Senhor e contou
o que Jesus lhe tinha dito (Jo 20, 16-18). É importante analisar as
considerações dos Padres da Igreja, os primeiros autores cristãos a respeito da
ressurreição do Senhor, da Páscoa cristã.
Páscoa: a passagem de Cristo para pátria
celeste.
São Leão Magno, Papa no século V afirmou que a
festa da Páscoa chamada pelos hebreus Phase, cujo significado era
passagem, foi atestada pelo evangelista João, que antes da festa da Páscoa,
Jesus sabia que estava chegando a sua hora de passar deste mundo para o Pai (Jo
13,1). A natureza que efetuaria a passagem era a humana, uma vez que o Pai
estava de uma forma inseparável no Filho e o Filho no Pai. São Paulo colocou o
ponto de que Deus o exaltou e lhe deu o nome que está acima de todo o nome (Fl
2,9). A exaltação da natureza humana foi assumida por ocasião da passagem da
Páscoa. Com a sua paixão, a divindade permaneceu indivisa, pois é ele co-eterno
na glória de Deus Pai1.
A afirmação da natureza humana na
Páscoa.
São Leão Magno também criticou as pessoas que
não acreditassem que na Páscoa teve a exaltação humana de Jesus, de modo que
não participavam da grande festa cristã. A Páscoa deu sentido a todas as coisas
feitas pelo Senhor que como verdadeiro Filho de Deus, permaneceu nele, a
natureza humana. O mistério da salvação aludiu à festa pascal, porque a pessoa
seguidora do Senhor não discordaria do Evangelho e nem do Símbolo para desta
forma fazer bem a celebração pascal. Jesus Cristo nasceu segundo a carne,
padeceu a sua morte, e teve a sua ressurreição de forma segundo a carne, a sua
condição corporal. Não existe a separação de sua divindade e de sua humanidade,
na Pessoa do Verbo de Deus2.
Jesus passou pelo sofrimento à ressurreição.
Santo Anastácio, bispo de Antioquia, no século
VI, afirmou que o Senhor enfrentou o sofrimento para chegar à ressurreição. A
Sagrada Escritura previu que Jesus passaria pela morte. No entanto era fundamental
afirmar segundo ele, que nunca as pessoas afirmariam que era Deus se, ao
contemplar a verdade da encarnação, o povo não encontrasse nela razões para
proclamar, com clareza e justiça, uma e outra coisa, ou seja, seu sofrimento e
sua impassibilidade. Desta forma o Verbo de Deus passou pela morte em vista da
salvação do ser humano3.
A paixão ligada com a Páscoa.
Numa homilia de um antigo autor anônimo falou
da Paixão do Salvador em unidade com a Páscoa, a passagem de Jesus de sua morte
para a vida. A Paixão foi a salvação da vida humana. Ele quis morrer por todo o
gênero humano para que crendo nele, todos vivessem para sempre. Ele quis
tornar-se o que foi a vida humana para viver com ele para sempre. Foi assim o
dom da Páscoa, esta esperada festa do ano, o inicio do da nova criação. Ela
afirmava também que naquela solenidade, os novos filhos e filhas que são
gerados nas águas vivificantes da santa Igreja, ouvem o balbuciar da sua
consciência inocente. Na festa da Páscoa, os pais e mães cristãos obtêm, por
meio da fé, uma nova e inumerável descendência e, à sombra da árvore da fé,
brilha o esplendor dos círios com o fulgor que irradia da pura fonte
batismal 4.
A Páscoa é a festa das festas na expressão de São
Gregório de Nazianzo. Ela é grande e sagrada, porque o Logos, a Palavra do
Senhor venceu o pecado e a morte para dar a todos a luz divina, a vida
verdadeira5. Ela engloba a toda a liturgia, pois o Senhor venceu a morte e
ressurgiu glorioso do sepulcro, porque Deus Pai ressuscitou o seu Filho (At 10,40).
Vivamos o espírito pascal em nossas vidas de seguidores e seguidoras de Jesus
Cristo na família, na comunidade e na sociedade. Somos chamados a lutar pelo
bem, pela justiça e pelo amor a Deus, ao próximo como a si mesmo, a partir da
ressurreição de Jesus.
Fonte: https://www.cnbb.org.br/
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