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segunda-feira, 17 de abril de 2023

Rezar é desesconder-se

ozrimoz | Shutterstock
Por Peter Cameron

Ninguém pode suportar durante muito tempo a reclusão auto-imposta: da desgraça do nosso esconderijo, o nosso coração suplica a Deus.

Passei a ter uma nova visão sobre a oração depois de ler um livro do pe. Tomáš Halík. Em “A Noite do Confessor“, o sacerdote tcheco escreve que “rezar significa estar ciente de que eu posso ser visto” e que “a consciência de viver em ‘desocultação’ (tradução exata da palavra grega para ‘verdade’) transforma as pessoas”.

Depois da queda, a vergonha leva Adão e Eva a se esconderem: o homem e a mulher se esconderam do Senhor Deus entre as árvores do jardim (Gn 3,8). Conscientes da própria nudez, não suportaram o olhar de Deus que os chamava: onde estais?

Mas ninguém pode suportar durante muito tempo a reclusão auto-imposta. Da desgraça do nosso esconderijo, o nosso coração suplica a Deus: “Olha para mim e tem piedade de mim, porque estou sozinho e aflito” (Sl 25,16). A mesma constatação se repete ao longo dos Salmos: “De ti o meu gemido não se esconde (…) Minhas faltas não estão escondidas de ti” (Sl 38,10; 69,6). Um apelo humano fundamental implora pelo cuidado e pela proteção de Deus: “Ó Senhor dos Exércitos, olha dos céus e vê” (Sl 80,15). Há melhor maneira de descrever a glória de Deus do que declarando que “o Senhor olhou da sua santa altura, do céu contemplou a terra, para ouvir o gemido dos presos, para libertar os condenados à morte” (Sl 102,20). Ansiamos por renunciar ao nosso esconderijo e por viver às claras diante de nosso Deus.

A salvação trazida por Jesus Cristo nos liberta do nosso esconderijo. Jesus nos aproxima do seu Pai, “que vê o que ninguém vê” (Mt 6,6). O Novo Testamento nos assegura que “nada lhe é oculto; tudo está nu e exposto aos seus olhos” (Hb 4,13). O cobrador de impostos no Templo, tomado de remorso (Lc 18,13-14) e a viúva pobre dando esmola no Templo (Lc 21,1-4) são iguais neste aspecto: ambos agem com a certeza de que Deus os vê – e de que serem vistos os levará à transformação. Mesmo quando Zaqueu, cheio de culpa, tenta se esconder subindo a um sicômoro, Jesus o vê, descobrindo nele o seu desejo mais profundo por Deus. Esta consciência encorajou Zaqueu e o impediu de se esconder novamente.

Por meio da oração conquistamos a libertação de ser vistos por Deus. Saímos do nosso esconderijo para ouvir Jesus chamar-nos: “Onde estás? Desejo estar contigo”. A propósito, a palavra “desocultação” seria a tradução exata da palavra grega que normalmente traduzimos como “verdade”: aletheia.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF